A promessa de uma melhor condição de vida, com emprego, casa e comida, levou a pernambucana Bianca (nome fictício) a aceitar viajar para o exterior. Morar na Suíça, como foi proposto a ela, seria também uma oportunidade de realizar o sonho de conhecer a Europa. Há dois anos, ela largou a família, os amigos e, de malas prontas, seguiu viagem. Mas logo ao chegar no destino, viu uma realidade bem diferente do que esperava. A mulher de 33 anos foi ameaçada de morte e obrigada a se prostituir para sobreviver.
Após mais de um ano vivendo em condições sub-humanas, a pernambucana conseguiu juntar dinheiro e, com ajuda de um amigo, voltou ao Brasil. Mas as marcas no corpo e na memória a perseguem a todo o momento. Sem contar as ameaças que, segundo depoimentos dela, não pararam até hoje. O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que, na semana passada, instaurou um inquérito civil para cobrar do Governo do Estado serviços de assistência à vítima de tráfico internacional de pessoas.
"Tivemos conhecimento do caso através de um promotor da cidade de Caruaru (no Agreste), onde ela estava escondida. Ela precisou se mudar várias vezes para não ser localizada, porque ela continua sendo ameaçada e também ainda está muito abalada. Nosso objetivo agora é garantir o tratamento psicológico dela e um serviço de proteção à pessoa", afirmou a promotora de Defesa da Cidadania, Isabela Bandeira.
Segundo ela, o Programa de Proteção a Testemunhas (Provita) já está analisando o caso para encaminhar a vítima para um lugar seguro. A Promotoria Criminal de Jaboatão dos Guararapes também investigou o episódio.
De acordo com a promotora Christiana Ramalho, houve uma denúncia de que um ex-namorado da vítima seria integrante de uma quadrilha de tráfico internacional de mulheres. No entanto, ao longo da investigação, os indícios não comprovaram a acusação.
O suspeito acabou denunciado pelo crime de lesão corporal, porque teria agredido a vítima. Ela também obteve medida protetiva contra o ex-namorado, que está impedido de se aproximar dela. O processo tramita no Fórum de Jaboatão.
RISCOS
A coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em Pernambuco, Jeanne Aguiar, disse que as mulheres continuam sendo as principais vítimas desse tipo de crime, principalmente para fins de exploração sexual. Por isso, é preciso ter o máximo de cuidado com as propostas tentadoras de emprego fora do seu estado de origem. E mais ainda se for para morar no Exterior.
"Em primeiro lugar é preciso entrar em contato com as autoridades daquele país para investigar a proposta de emprego e as condições de trabalho", destacou. Outra orientação é pesquisar em sites todas as informações sobre a empresa que está lhe contratando e o tempo de permanência legal naquele país que você vai morar.
"É preciso também tirar cópias de todos os documentos pessoais e deixar guardados com pessoas de confiança", disse. Em caso de perda ou retenção de documentos, como passaportes, a indicação imediata é procurar o Consulado do Brasil mais próximo.
Segundo Jeanne, nenhuma denúncia de tráfico de pessoas foi registrada neste ano pelo núcleo, que é subordinado à Secretaria de Defesa Social. Ao longo do ano, palestras de prevenção são realizadas em escolas públicas e comunidades carentes. Esporadicamente também há visitas e campanha de conscientização nos municípios do Interior do Estado.