A Secretaria de Defesa Social (SDS) determinou a criação de uma força-tarefa para mapear e investigar as organizações criminosas que estão agindo em Pernambuco. A decisão foi tomada após o crescimento dos homicídios, nos últimos meses, que pode ter relação com o avanço dessas facções em vários municípios. Levantamento publicado nesta quarta-feira (28) pelo JC, com base os dados da SDS, mostra que 52 cidades pernambucanas já ultrapassaram o número de assassinatos registrados ao longo de todo o ano de 2019.
Na portaria, o secretário da SDS, Antônio de Pádua, destacou a necessidade da criação da força-tarefa "considerando a amplitude e complexidade da atuação do Crime Organizado, bem como sua estruturação macro, alcançando todos os entes federativos, necessitando atuação proporcional e coordenada por parte do Estado, mostrando-se imperioso o estabelecimento de estratégias integradas de prevenção e repressão a este tipo de delito".
O grupo será coordenado pelo secretário-executivo da SDS, Humberto Freire. Também farão parte, quatro diretores da Polícia Civil, de todas as regiões do Estado, além de gestores do serviço de inteligência, Polícia Militar e da Gerência de Análise Criminal e Estatística da SDS vão compor o grupo de trabalho. Também serão convidados representantes indicados pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e até da Agência Brasileira de Inteligência.
Em menos de uma semana, foram registrados pela polícia cinco duplos homicídios, um triplo e uma tentativa de chacina somente nos últimos dias. O medo, maior nos finais de semana, quando ocorrem mais crimes, voltou a fazer parte da rotina. Se entre os anos de 2018 e 2019, foi possível uma redução significativa no número de mortes violentas, 2020 deve chegar ao fim mostrando resultados totalmente contrários. Houve um aumento de 10,8% no número de homicídios em relação ao mesmo período do ano passado, indicando o enfraquecimento do programa Pacto pela Vida. E o avanço das organizações criminosas no Estado, durante a pandemia do novo coronavírus, pode ter contribuído para este resultado.
O QUE DIZ O MPPE
De acordo com o promotor de Justiça Frederico Magalhães, coordenador do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Pernambuco (Gaeco/MPPE), muitos dos homicídios ocorridos na Região Metropolitana e na Zona da Mata estão associados à criminalidade. “Existe uma guerra pelo domínio do tráfico de drogas entre facções locais. O número de organizações criminosas é muito grande. Há uma disputa pelo poder. Além disso, alguns desses grupos estão associados a outros de fora do Estado”, explicou. Há indícios de que há organizações ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), conhecida facção de São Paulo. “Alguns se autointitulam integrantes da facção.”
O coordenador do Gaeco afirmou que as organizações conseguiram se espalhar mais rapidamente pelo Estado nos últimos meses, e que há relação com o aumento das mortes em vários municípios pernambucanos. “A pandemia surgiu de forma muito repentina, não estávamos preparados. Ela dificultou o trabalho dos órgãos de fiscalização, o trabalho da polícia. Isso propiciou o crescimento e a difusão dessas facções, que ficaram mais estruturadas e passaram a atuar mais livres para disputar o domínio do tráfico. Ipojuca, Escada, Limoeiro, Casinhas e até o Recife estão entre os mais afetados”, disse.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Planejamento, disponíveis no site oficial, 56 operações de repressão qualificada foram realizadas para prender criminosos no primeiro semestre do ano passado. No mesmo período de 2020, foram 20. No mês de fevereiro deste ano, quando ainda não se falava em pandemia, nenhuma operação foi realizada pela polícia.
O QUE DIZ A SDS
A Secretaria de Defesa Social informa que já adotou uma série de medidas para fazer os homicídios recuarem em Pernambuco. É importante lembrar que o aumento percentual de 10% nos CVLIs se dá no comparativo com a 2019, ano em que o Estado destacou-se nacionalmente na redução dos crimes contra a vida, repetindo o que já havia ocorrido em 2018. É fundamentar ressaltar, no cenário da segurança pública, que os crimes patrimoniais completaram 37 meses consecutivos de declínio no Estado. A cidade do Recife, por exemplo, vem apresentando os menores índices de roubos em 15 anos de estatísticas criminais.
É importante contextualizar que os homicídios aumentaram no País. O Nordeste, conforme atestou o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apresentou elevação de 23,4% no 1º semestre, enquanto Pernambuco teve crescimento de 11,8% no mesmo período. No Estado, a avaliação dos indicadores, feita sistematicamente pelo Pacto pela Vida, mostra uma ampliação dos crimes de proximidade, praticados sob emoção ou por impulso, em ambiente familiar ou entre pessoas que convivem em comunidade, em momentos de brigas, discussões, conflitos, intolerância de diversos tipos e consumo excessivo de álcool. Essa motivação representou 30% dos homicídios no Estado. No Sertão, foi ainda maior: 56%. Iniciativas de prevenção e campanhas de conscientização, em parceria com as prefeituras, estão em fase de planejamento. É preciso fortalecer a cultura de paz entre as pessoas.
Na questão operacional, estratégias integradas estão em curso, como o reposicionamento do policiamento ostensivo e especializado, assim como a intensificação de operações de repressão qualificada e investigações focadas em grupos de extermínio e do tráfico de drogas. As polícias trabalham com a diretriz de priorizar a resolução de homicídios e para que nenhum crime violento letal intencional fique impune em Pernambuco.
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