INVESTIGAÇÃO

O Caso Beatriz não pode se tornar um novo 'Caso Serrambi'

A grande preocupação neste momento é evitar que esse processo vire um "circo". E que a Justiça seja feita. Afinal, não queremos mais um crime impune

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Raphael Guerra

Publicado em 20/01/2022 às 6:30 | Atualizado em 21/01/2022 às 17:03
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A demora de mais de seis anos - além de problemas no andamento das investigações - para a descoberta do suspeito de assassinar a menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, é claro que gera desconfianças da sociedade. Ainda mais quando o caso só começa a ser solucionado após uma grande comoção pelo País, porque os pais decidiram fazer uma caminhada de mais de 700 quilômetros para pedir justiça. Mas é preciso cautela para que o processo não se transforme em uma briga de egos e holofotes e, no final, vire exatamente um novo Caso Serrambi - cujo desfecho, quase 19 anos depois, foi o da impunidade

No Caso Beatriz, a Polícia Civil teve falhas. Não à toa, oito delegados já passaram pelo inquérito policial. Sem contar outros policiais civis e peritos que também se envolveram nas investigações - um deles inclusive demitido por prestar serviços particulares ao colégio onde a menina foi morta. Mas, com o trabalho conjunto com a Polícia Científica, foi possível o confronto do DNA encontrado na faca usada no crime com o do suspeito, que estava no banco de dados nacional. Após o resultado ser positivo, os delegados foram ao presídio onde o suspeito cumpre pena por outros crimes e, em depoimento gravado, ele confessou em detalhes ser o autor da morte de Beatriz. 

As provas robustas - e reconhecidas pelos pais da menina - estão sendo finalizadas. Uma reprodução simulada, inclusive, deve ocorrer para acabar com outras dúvidas. Com o inquérito totalmente fechado, o Ministério Público poderá oferecer, com tranquilidade, a denúncia. E caberá à Justiça o andamento final da processo até a condenação do assassino. 

Agora, a sociedade também precisa confiar no trabalho da polícia, do Ministério Público (que acompanha o caso) e da Justiça. Não cabe, no atual cenário, achismos, opiniões sem embasamento, e tumulto - inclusive por parte de advogados criminalísticas que disputam os holofotes de um caso emblemático e trágico. O que se viu nos últimos dias é estarrecedor. Uma advogada que chega ao presídio e, de forma grosseira, é avisada pelo colega que não fará mais parte da defesa do suspeito. Ao mesmo também, o "novo" advogado, que nem conhece detalhes do inquérito e se mostrou totalmente desinformado diante das TVs, procura a imprensa para mostrar uma suposta carta em que o suspeito muda a versão do depoimento e cria teses estapafúrdias. 

A grande preocupação neste momento é evitar que esse caso vire um "circo". E que a Justiça por Beatriz seja feita. Afinal, não queremos mais um Caso Serrambi na nossa memória. 

 

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