No domingo (16), Niedja Mônica da Silva aparecia no Fantástico falando como advogada de Marcelo da Silva. O discurso não foi dos mais felizes para uma defensora. "Como ele é réu confesso, eu estou aqui para que a lei seja cumprida, porque meu compromisso é com o processo. A gente está aqui para defender os direitos. (...) Não tenho dúvidas de que ele é o culpado". O depoimento derrotista, de quem vai brigar pouco pelo cliente, repercutiu mal entre a família do acusado e abriu brecha para que outros advogados se candidatassem ao posto. O criminalista Rafael Nunes já estava de olho no caso e conseguiu desbancar Niedja. Uma terceira via nessa história é o advogado Francisco de Assis, que defendeu Marcelo no crime de estupro contra uma criança em Trindade, e também se colocou à disposição para fazer a defesa. Mais cauteloso, ele participou de reunião com a família de Marcelo na segunda-feira (17) e justificou sua intenção. O que existe de comum entre os três é o interesse na visibilidade que um caso de repercussão nacional pode trazer para a carreira de qualquer criminalista. Até aí nenhum problema. A questão é quando as vaidades pessoais se sobrepõem e tumultuam o processo.
Como Marcelo Silva é adulto, os advogados podem abordá-lo na penitenciária e oferecer seus serviços. Ele aceita o defensor assinando uma procuração. Se quiser trocar de advogado basta assinar uma nova procuração, que elimina o efeito da anterior. Provavelmente foi o que aconteceu com Niedja. Depois de uma declaração infeliz em rede nacional, a advogada ficou suspeptível ao ataque dos colegas. Após publicar posts em suas redes sociais, ela chegou a apagar o Instagram ao longo da semana. Niedja disse que foi procurada por um pessoa da família, mas eles negam. Afirmam que não a conhecem. O mesmo vale para o desfensor que substtuiu a advogada no caso.
Diante do cenário, o midiático criminalista Rafael Nunes apareceu oferecendo uma defesa mais arrojada. No universo do direito criminal, a avaliação é de que a carta de Marcelo da Silva, afirmando sua inocência, seria uma estratégia da defesa, orientada pelo próprio advogado.
"Ele pode ter dito a Marcelo: 'olha, você não precisa confessar. Foi ouvido sem advogado. Diz que falou na pressão, que está com medo de morrer", sugere uma fonte da área. Mal assumiu a causa, Rafael fez posts nas suas redes sociais, apareceu em programas de TV exibindo a carta de Marcelo e convocou entrevista coletiva nesta quarta (19) para comentar o texto com outros veículos de imprensa. O advogado diz que não vai "passar a mão na cabeça" do cliente em relação a outros crimes que ele cometeu, mas defende a inocência de Marcelo no Caso Beatriz. Essa certeza é contraditória já que o advogado sequer teve acesso ao rumoroso inquérito com 24 volumes, não viu o vídeo do depoimento do acusado, nem teve acesso a outras provas.
Na carta, o suspeito diz que confessou na pressão, mas a Secretaria de Defesa Social rebate, afirmando que "a Polícia Civil filmou o depoimento na íntegra, seguindo todas as regras legais, a fim de evitar quaisquer questionamentos, tentativas de macular a confissão ou estratégias projetadas para tumultuar o caso". A mãe de Beatriz, Lucinha Mota, também disse, por meio da imprensa, que não acredita na carta de Marcelo da Silva e que já aguardava alguma estratégia da defesa neste sentido.
CONFUSÃO CHEGOU À OAB
O caso envolvendo Niedja e Rafael foi parar na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco. Tesoureira da OAB Paulista, Niedja ingressou com uma representação contra o colega de profissão. Disse que ele foi "assediar seu cliente" no presídio em Igarassu. A confusão entre os dois chegou à penitenciária. Niedja só soube que estava fora do caso na segunda-feira (17) quando foi acompanhar o indiciado em mais um depoimento. Na representação, ela afirma que quando chegou ao local, Rafael teria sido grosseiro com ela, afirmando que os delegados se reportariam a ele e não mais a ela.
FAMÍLIA E EX-ADVOGADO
Para além das estratégias intempestivas, o ex-advogado de Marcelo Silva, o criminalista Francisco de Assis se coloca como opção na defesa do réu. Após a conversa que teve com a família, ele relata que estão todos muito abatidos e assustados, desde que o exame de DNA comprovou Marcelo como autor do crime. Os pais guardam a memória do espancamento do filho, em Trindade, pelo crime de estupro de uma criança de 9 anos no município. Na ocasião, a família teve sua casa destruída e precisou mudar de cidade.
O advogado recorda que Marcelo apanhou tanto, que foi considerado morto. Quem veio recolher 'o corpo' foi o carro do IML, até perceberem que ele ainda estava vivo e levarem para o Hospital de Ouricuri. Lá, ele passou pelo menos quatro dias na UTI. Um dos compromissos de Francisco se assumir o caso é preservar a identidade e a localização da família. Ele conta que a mãe já está bastante idosa e tem deficiência visual. O advogado também relata que, além de Marcelo, nenhuma outra pessoa do seu núcleo familiar tem envolvimento com o crime. Marcelo tem pai e mãe vivos, um irmão e uma irmã. A mãe sente muito desgosto pelos crimes que o filho cometeu, mas espera que ele tenha uma defesa digna.
Com sete anos de experiência em direito criminal e tendo participado da defesa em muitos casos complexos, Francisco de Assis reconhece que a visibilidade do Caso Beatriz lhe atrai e ajudaria a torná-lo conhecido em um universo maior na região, além de divulgar seus escritórios no Sertão, aumentando sua área de atendimento. Hoje ele tem unidades em Trindade e Petrolina, mas com a pandemia os atendimentos são feitos remotamente, em sua maioria. O criminalista diz que não vai traçar nenhuma linha de defesa antes de conhecer o processo e defende a necessidade de se manter a ética. Afinal, o Caso Beatriz já é complexo demais e não deveria ter espaço para oportunismos.
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