TRAJETÓRIA

Veja trajetória política do presidente da ACS, Albérisson Carlos, morto a tiros no Recife

Entre as pautas que defendia, estava a ampliação de moradia para pessoas com baixa renda; a implantação de escolas cívico-militares; criação de programas que de prevenção ao uso de drogas; além de se posicionar contra ideologias que fossem de encontro aos preceitos cristãos e conservadores

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JC

Publicado em 16/02/2022 às 21:32 | Atualizado em 17/02/2022 às 11:21
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O presidente da Associação dos Cabos e Soldados de Pernambuco (ACS), Albérisson Carlos, ao ingressar na política, tentou se eleger deputado federal por três vezes e vereador do Recife. A primeira tentativa de conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados foi nas eleições de 2010, quando era filiado ao PSL. Depois o militar tentou novamente o pleito de 2014, desta vez filiado ao PTB, mas também não conseguiu ser eleito. Nas eleições de 2018, Albérisson entrou na corrida eleitoral filiado ao DEM, mas não obteve êxito. 

No ano de 2020, o presidente da ACS tentou o mandato de vereador na Câmara Municipal do Recife, tendo recebido 2.980 votos, mas acabou não sendo eleito. Entre as pautas que defendia, estava a ampliação de moradia para pessoas com baixa renda; a implantação de escolas cívico-militares; criação de programas que de prevenção ao uso de drogas; além de se posicionar contra ideologias que fossem de encontro aos preceitos cristãos e conservadores.

Apoiador do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), o presidente da ACS participou de algumas manifestações realizadas por movimentos de direita em prol do governo. Em 2019, ele foi convidado para assumir a direção da União Democrática Nacional (UND) de Pernambuco - o partido havia sido extinto em 1966 pelo regime militar e estava tentando ter sua recriação formalizada no país.

Em sua trajetória, Albérisson bateu de frente com o Governo do Estado para defender os interesses da categoria, principalmente em 2014, ano da última greve da Polícia Militar, quando sua atuação ganhou mais notoriedade. Posteriormente, o presidente da ACS foi expulso da corporação.

Em 2015, o governador Paulo Câmara (PSB), em seu primeiro ano de mandato, instalou oficialmente uma mesa de negociação com as associações de policiais militares para tratar do reajuste da categoria. A ACS, a Associação de Praças Policiais e Bombeiros Militares (Aspra) e a Associação dos Militares do Estado de Pernambuco (AME-PE), que não são sindicatos constituídos, mas que atuam como porta-vozes dos militares, tinham assento.

Após a ameaça de paralisação no final de 2016, porém, o governo decidiu negociar a pauta salarial com o comando da PM e dos bombeiros. Durante uma assembleia para deliberar sobre a paralisação, o presidente da ACS, Albérisson Carlos, foi detido por dar seguimento ao movimento grevista. Na ocasião, a entidade classificou a prisão como “ilegal”.

"Eu estou sendo preso, mas não pode haver indisciplina. Não podemos deixar que isso transforme tudo em confusão. Podem prender meu corpo, mas minha mente continuará livre", declarou Albérisson da prisão ser efetuada.

No ano seguinte, em 2017, o Governo do Estado, através da Secretaria de Defesa Social, decidiu expulsar da corporação da Polícia Militar os cabos Alberisson Carlos e Nadelson Leite. De acordo com a corregedoria da SDS, os líderes da ACS infringiram normas previstas no código penal militar na condução da Operação Padrão da PM, iniciada em dezembro de 2016, contrariando a proibição de greve por parte das forças de segurança (decisão ratificada pelo Supremo Tribunal Federal). Além de estimularem a paralisação, os policiais desrespeitaram as autoridades de segurança do estado, segundo a SDS.

Em resposta, a ACS disse que a decisão não era recebida com surpresa. “Não se poderia esperar outra atitude de um governo que, durante todo o processo de campanha salarial da categoria, utilizou-se sempre da arbitrariedade, inclusive prendendo seus líderes, o que foi prontamente rechaçado pela Justiça”, afirmaram.

ASSASSINATO

O presidente da Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco, Albérisson Carlos, foi assassinado a tiros por volta das 18h30 desta quarta-feira (16), no bairro da Madalena, no Recife. De acordo com as informações de testemunhas, ele havia acabado de deixar a sede da entidade, localizada na Rua Carlos Gomes, e estava indo pegar o carro, na Rua Ricardo Salazar, quando foi surpreendido por pelo menos quatro homens armados, que já foram atirando nele.

Os assassinos estavam em um carro branco e em uma moto, bem perto de onde estava estacionado o veículo da vítima. A Polícia Civil acredita que já o aguardavam. O ex-PM foi atingido na cabeça, costas e abdômen. Depois dos tiros, o grupo fugiu.

Albérisson foi socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, na área central da capital. O óbito foi confirmado pouco depois.

Equipes do plantão do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e do Instituto de Criminalística permaneceram por horas no local realizando perícias e colhendo informações. Também procuraram imagens de câmeras de segurança de prédios próximos para ajudar a entender a dinâmica do crime. 

"Só havia uma perfuração de bala no capô do carro da vítima. E manchas de sangue. Ele não chegou a entrar no veículo", explicou o perito criminal Tadeu Cruz, responsável pela perícia preliminar. Cruz disse ainda que nenhum projétil foi encontrado no local.

Fontes ouvidas pelo JC apontam para a hipótese de crime político. Além de comandar a associação há anos, Albérisson tentou, por várias vezes, ingressar na carreira política. A polícia prefere, neste primeiro momento, não descartar nenhuma linha de investigação.

Em nota, a assessoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que "Não haverá descanso até a elucidação do crime, assim como a responsabilização penal de seus autores. A Polícia Militar, por meio de unidades de área e especializadas, está envolvida nos trabalhos".

Disse ainda que "a SDS e suas operativas solidarizam-se com familiares, colegas de trabalho e amigos de Albérisson Carlos neste momento de dor e perda. E reforçam que todo o esforço será feito no sentido de esclarecer o homicídio e levar responsáveis ao sistema de justiça criminal".

O governador Paulo Câmara, afirmou através de suas redes sociais, que determinou ao secretário de Defesa Social, Humberto Freire, "todo o rigor na investigação do assassinato do presidente  da Associação de Cabos e Soldados, Albérisson Carlos". "O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa já está no caso e esperamos identificar e punir os responsáveis o mais rápido possível", declarou. 

 

 

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