CRIMINALIDADE

Cabo de Santo Agostinho tem mês mais violento dos últimos 18 anos

Somente em janeiro, ao menos 30 pessoas foram assassinadas. A maioria das vítimas tinha até 29 anos

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Raphael Guerra

Publicado em 23/02/2022 às 6:00 | Atualizado em 23/02/2022 às 9:04
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A escalada da violência no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR), continua assustando os moradores e desafiando as forças de segurança. Segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), 30 pessoas foram assassinadas em janeiro. Foi o mês mais violento do município desde o início de 2004, quando os números começaram a ser somados pela pasta.

A polícia já está em alerta desde 2020, quando começou uma aceleração de mortes no município. E que foi se intensificando, principalmente por causa da disputa de território entre grupos especializados no tráfico de drogas. No ano passado, houve 178 vítimas - uma média de um homicídio a cada dois dias. Entre as cidades da RMR, o Cabo apareceu com a maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes.

Até então, o mês com mais assassinatos no Cabo havia sido em fevereiro de 2008, quando 24 pessoas foram mortas.

"Existem inúmeros bairros no Cabo. Cada um tem um grupo, uma liderança envolvida com o tráfico. Então surgem os conflitos e, consequentemente, as mortes", pontua o delegado Cláudio Neto, titular da Divisão de Homicídios Metropolitana Sul.

"Para se ter uma ideia, dos 30 homicídios em janeiro, 87% foram ligados às atividades criminais. A maioria das vítimas tinha envolvimento com o tráfico de drogas ou passagem pelo sistema prisional. Em fevereiro, já houve 14 mortes. Dez delas também com a mesma motivação", completa Neto. No mês passado, uma vítima foi morta durante um assalto.

Chama a atenção o perfil das vítimas de violência no município. Dos 30 registros em janeiro, 29 mortos eram do sexo masculino. Além disso, 23 tinham entre 18 e 29 anos, ou seja, eram jovens recrutados para a criminalidade. Metade das vítimas em 2021 também tinham essa mesma faixa etária.

THIAGO LUCAS/ ARTES JC
Violência - THIAGO LUCAS/ ARTES JC

"Não só as vítimas tinham essas idades. Os próprios criminosos também. São os jovens, em sua maioria, que estão praticando os crimes", afirma o delegado.

Em 27 de janeiro, três homens foram assassinados no Cabo. Ariel Eduardo da Silva, 22 anos, e Ramon Felipe Andrade da Silva, 27. O crime foi na Rua do Ferreiro, no Engenho Mercês. Testemunhas contaram à polícia que os assassinos chegaram em um carro, desceram e atiraram nas vítimas. Ambos os jovens já vinham sendo investigados pela polícia por suspeita de homicídios no começo do ano - o que reforça que há uma disputa pelo domínio do tráfico em bairros do município.

No mesmo dia, Alexandre Valentim da Silva, 38, foi morto a tiros enquanto andava de bicicleta pela BR-101, no bairro da Charnequinha.

Três dias depois, outro duplo homicídio. Desta vez, em Ponte dos Carvalhos. Lucas Pereira da Silva, 29, e Anderson Tavares Lima, 18, foram executados a tiros na Rua 33. Testemunhas relataram que as vítimas estavam andando quando foram surpreendidas. A dupla tentou fugir, mas foi alcançada. Uma das vítimas ainda foi agredida com golpes de garrafa na cabeça.

"O Cabo é uma cidade extremamente perigosa para um jovem viver, sobretudo os negros. Nós entendemos que a violência pode ser prevenida quando o jovem está amparado sobre os seus direitos fundamentais de acesso à educação, pleno emprego e direito à cidade. Mas a população jovem se encontra vulnerável a diversas formas de violência. Esse cenário é campo fértil para que o crime organizado, por meio das facções presentes na cidade, atraia os jovens com promessas de dinheiro, status, poder. Mas o que eles encontram é esse fim precoce de sua vida", comenta Glaubberthy Rusman, integrante do Fórum de Juventudes do Cabo (Fojuca).

ESFORÇOS

O Cabo foi destaque na última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ficou em 2º lugar no ranking das cidades brasileiras com maior taxa de homicídios - referentes a 2020. Foram 90 mortes por 100 mil habitantes. Com tantos crimes, a população tem evitado sair de casa, nos bairros dominados pelo tráfico.

Para tirar o Cabo dos primeiros lugares desse ranking, o delegado Cláudio Neto diz que uma força-tarefa, com união de esforços das polícias Civil e Militar, está trabalhando intensamente. "O policiamento está mais forte e estamos intensificando as prisões. Estamos também com operação à noite. A tendência é de queda dos números de homicídios."

Em relação à prevenção à violência, a Prefeitura do Cabo prometeu a contratação de quase 100 novos guardas municipais. Também reforçou o videomonitoramento.

 

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