CASO TAMARINEIRA: veja qual foi a pena de João Victor Ribeiro, motorista que matou três pessoas em colisão
Sentença do réu foi anunciada na noite desta quinta-feira (17), no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano
A juíza Fernanda Moura de Carvalho, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, anunciou, na noite desta quinta-feira (17), a decisão do júri popular sobre a condenação do réu João Victor Ribeiro de Oliveira, 29, responsável pela colisão que matou três pessoas e deixou outras duas gravemente feridas no bairro da Tamarineira, Zona Norte do Recife, em novembro de 2017.
A pena foi calculada em 29 anos, quatro meses e 24 dias de prisão em regime fechado. "A culpabilidade do acusado foi extrema", citou a magistrada, na leitura.
O julgamento aconteceu no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na área central do Recife. O réu foi condenado à prisão pelos crimes de triplo homicídio doloso duplamente qualificado e por dupla tentativa de homicídio. A defesa pode recorrer da decisão em segunda instância.
O terceiro dia do julgamento começou com o interrogatório do réu. Por decisão dele, a acusação - liderada pelo Ministério Público - não pode fazer perguntas. Apenas a magistrada e os advogados de defesa fizeram os questionamentos.
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"Não tenho medo de assumir a minha responsabilidade hoje, antes eu tinha. Hoje, não", disse João. O réu contou sobre os empregos que teve, seja como representante comercial, seja como supervisor de obras na empresa do pai. "Com dinheiro, comecei a frequentar bares, virar a noite, usar cocaína novamente com frequência. Comprei um palio vermelho e comecei a trabalhar, trabalhar, usando cocaína, bebendo, mentindo, dizendo que estava em casa de namorada, mas com estava com outras pessoas usando droga", disse.
Apaixonado por carros, ele trocou de veículos e muitas vezes teve esses tomados pelo pai, por envolvimento com drogas. Logo depois de um tempo, segundo ele, a confiança era retomada e ele voltava a dirigir. A ida e vinda de internações também aconteceu, por conta de recaída no álcool. "Me acostumei a tomar cerveja com caldinho, depois dose de alcatrão com mel e limão e cachaça e onde tivesse álcool eu ia colocando na boca e depois de bêbado só queria cheirar pó. Ia atrás de cocaína".
Sobre o dia da colisão, João Victor narrou que tudo começou com um chamado do amigo, Matheus Peixoto, para fumar um cigarro de maconha. "Nos encontramos em Zé Perninha (bar em Olinda), ele pediu uma cerveja, uma Itaipava, nunca tinha tomado Itaipava, estava cinza, gelada, tomei um copo, não estava bebendo, mas tomei um gole depois do outro. Não tenho vergonha de dizer que estou errado, enfatizo isso porque sei que estou errado, sei que eu errei beber e dirigir é errado", disse. "Esse dia para mim jamais será esquecido", completou.
No fim da tarde, após beber todo o dia, eles seguiram para Casa Forte e, segundo João, houve uso de maconha no carro no caminho. "Comi dois pães de alho, acordei preso na algema, na cadeira de rodas entrando num hospital, e quando olhei para a frente, um mundo de gente, e meu pai", disse ele explicando que não lembra de nada sobre a colisão.
"Eu ocorri em acidente trágico, morreram duas mulheres, uma criança, ficou um homem vivo, um pai de família, uma criança sequelada, e eu sinto hoje que sou condenado pro resto da minha vida, tendo cadeia ou não. Só sendo psicopata para viver com a mente tranquila sabendo que destruí famílias. Fiquei mais de 20 dias sem comer pensando no que aconteceu", concluiu João.
AS PROVAS
O carro conduzido por João Victor bateu contra o veículo que era dirigido pelo advogado Miguel Arruda da Mota Silveira Filho, no cruzamento da Avenida Rosa e Silva com a Rua Cônego Barata.
Morreram na colisão a esposa do advogado, Maria Emília Guimarães da Mota Silveira, o filho do casal, Miguel Arruda da Motta Silveira Neto, e a babá Roseane Maria de Brito Souza, que estava grávida. Além do advogado, a filha dele, Marcela Guimarães da Motta Silveira, sobreviveu.
A perícia do Instituto de Criminalística constatou que João Victor estava a 108 km/h, quando o máximo permitido na via era de 60 km/h. Ele também avançou o sinal vermelho. Já o carro de Miguel estava a uma velocidade de 30 km/h e o sinal estava aberto para ele.
O teste de alcoolemia feito no réu registrou nível de 1,03 miligrama de álcool por litro de ar, três vezes superior ao limite permitido por lei. Desde então, ele permaneceu preso.
OS DETALHES DO JÚRI
O júri popular começou na manhã da terça-feira (15). Houve a chamada e o sorteio de jurados para compor o Conselho de Sentença. Logo após, foram reservados dez minutos para os jurados lerem o Relatório de sentença e o Recurso em sentido estrito. A instrução começou com a leitura da denúncia. Em seguida, a sessão foi conduzida para a oitiva das testemunhas.
No primeiro dia, foram ouvidas sete testemunhas. Miguel Motta foi uma delas.
"Para mim, infelizmente, essa história não é o último capítulo. Uma pena aqui não vai significar muita coisa pra mim, porque minha dor vai ser estendida até o último dia da minha vida. Ele logo em breve estará livre, como determina a lei. Mas nos cabe mudar as leis e mudar esse pensamento egoísta de que tem que satisfazer os seus prazeres de beber, de dirigir e de não se responsabilizar pelas coisas que faz. O perdão não será meu, será de Deus. Eu não tenho que perdoar ninguém. Eu tenho apenas que seguir a minha vida ao lado da minha filha", disse o advogado.
No segundo dia, dois médicos psiquiatras forenses, contratados pela defesa do réu, foram ouvidos como testemunhas de defesa. Ambos declaram que João Victor tinha problemas mentais, ligados ao vício em álcool e drogas.