VIOLÊNCIA

Sequestros-relâmpagos: Criminalidade também se combate com informação

Divulgar informações sobre crimes não necessariamente atrapalha investigações. Contribui para que outras vítimas se identifiquem e criem coragem de procurar a delegacia

Imagem do autor
Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 23/03/2022 às 21:35 | Atualizado em 24/03/2022 às 9:54
Artigo
X

No final da década de 1990, uma onda de sequestros em Pernambuco levou medo à população e, com o governo estadual pressionado, houve a criação do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil - com a responsabilidade de comandar as investigações dessa modalidade criminosa que se espalhava pelo País.

Em 2001, John Caetano Rodrigues (Jones) e Rosemberg da Silva (Berg), dois dos mais famosos líderes de quadrilhas, foram presos. Os casos não chegaram ao fim, mas caíram drasticamente, ao ponto de a delegacia especializada ganhar outras atribuições como os inquéritos de crimes cometidos pelas policiais. Duas décadas depois, uma nova onda de sequestros volta a desafiar o GOE.

Criminalidade se combate com investigação da polícia. Mas também com informação à sociedade. Explico: após reportagem publicada nesta quarta-feira (23) no JC, uma leitora enviou e-mail relatando também ter sido vítima de sequestro-relâmpago e de ter sido abandonada em São Lourenço da Mata, assim como ocorreu com outras duas vítimas recentes.

"Fui pega em Carpina, saindo de um consultório às 11h20 por quatro assaltantes. Levaram meu veículo, meus pertences e passaram meus cartões nas maquinetas. Depois de ver tantas matérias de casos idênticos ao meu, irei conseguir prestar depoimento (no GOE) e fazer o reconhecimento essa semana", contou.

Diferentemente do que muitas vezes afirma a assessoria de imprensa da Polícia Civil, divulgar informações sobre crimes não necessariamente atrapalha investigações. Ao contrário. Contribui para que outras vítimas se identifiquem com as histórias e criem coragem de procurar a delegacia para prestar queixa. Com mais relatos e mais detalhes, inquéritos podem avançar para que a punição aos criminosos seja mais ágil - o que nem sempre ocorre, na prática.

Ao longo dessa terça-feira (22), insisti para que a assessoria da Polícia Civil indicasse um porta-voz para dar orientações à população em relação às abordagens criminosas. Mas, como tem sido frequente, não houve autorização.

A Polícia Civil é subordinada à Secretaria Estadual de Defesa Social. Desde 2017, ano em que houve recorde histórico de assassinatos em Pernambuco, a imprensa tem sentido mais dificuldade em obter informações públicas sobre a violência com o governo estadual.

O silêncio - mais do que as respostas aos questionamentos - é corriqueiro. E a população, aquela que paga os impostos desses servidores, é quem fica no prejuízo por não ter acesso a todas as informações necessárias para sua própria proteção.

Tags

Autor