Violência no Cabo de Santo Agostinho é reflexo de crescimento desordenado e sem atenção do poder público
Assassinato de professora aposentada, na manhã deste domingo (05), eleva números estarrecedores de crimes no município localizado no Grande Recife
Combater o intenso domínio do tráfico de drogas no município do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, precisa ser prioridade da polícia pernambucana. Não é admissível que, mês a mês, os números da violência cresçam e que os crimes contra a vida, em sua maioria, tenham ligação com facções já conhecidas, mas que não são, de vez, desarticuladas. A morte da professora aposentada Edna de Souza Fonseca, 63 anos, neste domingo (05), deixou os moradores do município em choque. O sentimento, que se repete a cada novo assassinato, é de que quem comanda o Cabo são os grupos criminosos. E que o poder público, que nunca deu a devida atenção à cidade, não conseguirá mais reverter a situação.
Mas a violência não é assunto só de polícia, como muitos ainda pensam. No Cabo de Santo Agostinho, ela é reflexo do crescimento desordenado e sem planejamento por parte dos governos estadual e municipal. No começo da década passada, a expansão do Complexo Industrial Portuário de Suape foi motivo de comemoração à economia. Chegaram as obras, os investimentos, a população aumentou. Mas os males da violência também foram ampliados - como a intensa exploração sexual de garotas e a articulação de grupos especializados no tráfico de drogas.
Isso foi possível, facilmente, porque não se pensou nas políticas públicas, como por exemplo nas ações de empregabilidade para os moradores da cidade - principalmente para aqueles mais jovens, que são o público mais vulnerável e que são atraídos pelas promessas de dinheiro e até poder no mundo das drogas. Esquecem, porém, que, ao ingressarem, não há mais volta. E que, em qualquer deslize, o pagamento é feito com a própria vida.
O poder público, é fato, não investiu na prevenção à violência. Somente mais recentemente, sob pressão das constantes notícias publicadas pela imprensa, passou a ter um olhar não só para a repressão dos grupos criminosos mas também para ações básicas que lembrem aos moradores que eles não estão esquecidos.
Ainda assim o que tem sido feito é muito pouco. Prova disso é que, diante de tanto medo da violência, câmeras precisam ser instaladas nas portas das casas para que as famílias se sintam um pouco menos ameaçadas pelos criminosos. Edna de Souza até que tentou se prevenir como pode. Mas não foi suficiente. Não teve a proteção do Estado e, ao passear com o cachorro numa manhã ensolarada, perdeu a vida.