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"Só o argumento do ficar em casa não é mais suficiente", diz médica sanitarista em defesa do lockdown no Grande Recife

Nesta entrevista, Tereza Lyra reforça que, se Pernambuco fizer o lockdown de forma eficiente, por uns 15 dias, o Estado pode acelerar o processo de redução do número de casos de covid-19

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 07/05/2020 às 0:42 | Atualizado em 07/05/2020 às 0:43
ASCOM FIOCRUZ PE/DIVULGAÇÃO
"Este é o momento de colocar as pessoas em confinamento para evitar que o nosso Estado sufoque por completo, porque a rede já está completamente sufocada", diz a médica sanitarista Tereza Lyra sobre a necessidade do lockdown - FOTO: ASCOM FIOCRUZ PE/DIVULGAÇÃO

Uma das porta-vozes da Rede Solidária em Defesa da Vida de Pernambuco, a médica sanitarista Tereza Lyra, pesquisadora do Instituto Aggeu Magalhães, unidade da Fiocruz no Estado, conversa com Cinthya Leite, titular desta coluna, sobre a urgência de se adotar o lockdown no Estado. "É o momento de se colocar as pessoas num confinamento mais rigoroso", diz.

JORNAL DO COMMERCIO – Pernambuco já está atrasado em relação à implementação do lockdown?

TEREZA LYRA – No Grande Recife, é uma medida que se faz necessária. Em nome de um coletivo, já que essa discussão não é algo individual, acredito que este é o momento para a capital adotar o lockdown. Os Estados do Ceará, do Maranhão e do Pará implementaram essas medidas mais rigorosas, e nós não estamos numa situação melhor do que eles. Este é o momento de colocar as pessoas em confinamento para evitar que o nosso Estado sufoque por completo, porque a rede já está completamente sufocada.

JORNAL DO COMMERCIO – Se esta quarentena absoluta não for adotada agora, o custo será alto?

TEREZA LYRA – Eu acho que, se não tivermos algumas medidas coercitivas, apenas o argumento do “fique em casa” será insuficiente, porque as pessoas não estão respeitando. Penso que, se fizermos o lockdown de forma eficiente, por uns 15 dias, o Estado de Pernambuco pode acelerar o processo de redução do número de casos de covid-19 e, consequentemente, ter uma possível liberação mais precoce do que está previsto (sem o lockdown). Seria melhor até para economia. Aliás, melhor para tudo, até para a nossa condição psicológica, pois estamos num nível de sofrimento atroz.

JORNAL DO COMMERCIO – Ontem o governo de Pernambuco divulgou vídeos que fazem alerta sobre os perigos do coronavírus e que reforçam o pedido para as pessoas respeitarem o isolamento social. Uma campanha educativa, neste momento de franca aceleração da curva epidêmica, pode ajudar a evitar um cenário mais grave?

TEREZA LYRA – Não muito. O fato de o isolamento social ter algum sucesso faz a pessoas acharem que a coisa está tranquila. Mas se não vivemos um caos agora, é porque houve algum nível de isolamento. Agora, se não houver respeito às medidas, sabe o que vai acontecer? Vamos ficar dentro de casa por um período difícil de prever. Se não conseguirmos fazer com que o R do vírus (índice de contágio) caia para abaixo de 1 (situação em que uma pessoa doente transmite o vírus para mais uma pessoa ou menos), será difícil pensar em quando se vai tirar as pessoas do confinamento.

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