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"Mais da metade dos profissionais de saúde testados para coronavírus estão infectados em Pernambuco", alerta médica epidemiologista

Entre os trabalhadores da saúde examinados e que já sabem dos seus resultados, 61% (2.097) positivaram para a doença

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 03/05/2020 às 14:02 | Atualizado em 03/05/2020 às 14:05
HÉLIA SCHEPPA/SEI
Após serem submetidos a um teste RT-PCR, para confirmar o contágio de covid-19, os participantes do experimento irão ser acompanhados por oito dias pelas equipes do MCTI - FOTO: HÉLIA SCHEPPA/SEI

Tive a oportunidade de conversar esta semana, em que lamentavelmente Pernambuco atingiu a marca de dois mil profissionais de saúde infectados pelo novo coronavírus, com cinco médicos que fazem parte da Rede Solidária em Defesa da Vida de Pernambuco, grupo que tem a missão de dar contribuições para a resposta à epidemia da covid-19 no Estado. Entre vários problemas que rondam atualmente a franca aceleração da curva de casos e óbitos, a situação de vulnerabilidade dos profissionais de saúde expostos ao novo coronavírus tem sido uma preocupação dos integrantes dessa rede.

Médica epidemiologista, Fátima Militão, também pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, lançou um dado que espelha como os trabalhadores do front estão em risco: mais da metade dos profissionais testados para covid-19 estão infectados. De acordo com os dados até ontem, entre os trabalhadores da saúde examinados e que já sabem dos seus resultados, 61% (2.097) positivaram para a doença. Os demais (39% ou 1.337 em números absolutos) deram negativo para covid-19. E aqui a gente lembra que é preciso considerar a possibilidade de falso-negativo entre 30% e 40% dos testes tipo RT-PCR, o que pode fazer aumentar ainda mais a taxa de positividade entre os profissionais de saúde testados.

“Já vi imagens que mostram enfermeira coletando sangue de paciente sem usar luvas. É delicado isto: jogar ao vírus os profissionais de saúde. É pensando neles, enquanto cidadãos e indivíduos, mas também prevendo a falência dos serviços de saúde devido ao adoecimento deles (porque consequentemente, eles saem dos plantões quando adoecem), que clamamos por maiores medidas de proteção”, diz Fátima.

Também médica epidemiologista e pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Ana Brito ressalta que as discussões que envolvem o papel do profissional de saúde nesta pandemia devem ser analisadas sob duas vias. “Há o debate dele enquanto vetor infectante e como vetor desprotegido, sendo discriminado e passando por algumas atitudes de intolerância. Esta epidemia ainda vai pressionar mais pela necessidade de recursos humanos. Quem está no front é que atenua o sofrimento da situação”, destaca a especialista. Frequentemente o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) tem se manifestado sobre esse cenário. “Somos vistos como verdadeiros heróis. Porém, sem proteção, todos serão vítimas dessa pandemia. A categoria médica precisa estar protegida nesta luta e, para isso, é muito importante a utilização dos equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados em hospitais, policlínicas, maternidades, Serviço de Verificação de Óbito (SVO), Instituto Médico Legal (IML) e unidades da rede de atenção básica”, frisa, em rede social, o sindicato.

Isolamento social 

O infectologista Demócrito Miranda, professor da Universidade de Pernambuco (UPE), além de se preocupar com o adoecimento dos profissionais de saúde que atuam no front do novo coronavírus, salienta que estamos num momento em que prezar pelo isolamento social deve ser uma missão de toda a sociedade, por mais dura que essa medida seja. “Todos os indicadores estão mostrando que estamos em ascensão de casos e óbitos. Os números dobram a cada semana. É importante que as pessoas, mesmo no esgotamento do isolamento, permaneçam em casa. Não há indicador algum para ficarmos otimistas e dizer que se pode relaxar”, reforça Demócrito. Fiquemos no nosso lar, enquanto tem um time lá fora na luta por todos nós.

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