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Quarentena rigorosa em Pernambuco: um remédio amargo, forte e necessário

Medidas começam pra valer do próximo sábado (16) a 31 de maio. De hoje e até a sexta-feira (15), a quarentena reforçada vale em caráter educativo

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 12/05/2020 às 0:16 | Atualizado em 12/05/2020 às 0:25
FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Novo decreto estabelece uma quarentena mais rigorosa, do dia 16 a 31 de maio, com o objetivo de reduzir os índices de transmissão da covid-19 em Pernambuco - FOTO: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Em Pernambuco, as autoridades de Saúde preferem não falar em lockdown – uma palavra que, em inglês, caracteriza o confinamento ou isolamento compulsório, passível de rigor em diferentes intensidades passando pela restrição de transporte ao bloqueio de entradas de cidades ou Estados. Mas o teor da quarentena, decretada ontem pelo Governo de Pernambuco, é rígido, assim como outras ações que ganharam o nome de lockdown em localidades distintas. As medidas duras chegam num momento necessário para se frear a aceleração da epidemia por covid-19 no Estado. Perderíamos de salvar mais vidas se esperássemos mais tempo pela chegada desse “remédio amargo e forte”, como assim foi chamada a quarentena árdua pelo médico Jailson Correia, secretário de Saúde do Recife.

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A ampliação das medidas de proteção, com restrição do trânsito de veículos, aumento da fiscalização em estabelecimentos comerciais e redução da circulação de pessoas (nos municípios do Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata), será implantada do próximo sábado (16) a 31 de maio. Esses municípios foram escolhidos porque reúnem 75% dos casos confirmados e 68% dos óbitos de covid-19. A partir de hoje e até a sexta-feira (15), a quarentena reforçada vale em caráter educativo. Leia abaixo os detalhes da medida. 

“Apesar de termos adotados medidas restritivas anteriormente, muitas pessoas passaram a relaxar e a descumprir medidas de orientação, o que agravou a situação dos serviços de saúde. Por isso, as ações agora tomadas se fazem extremamente necessárias para aumentar o isolamento social, que é única forma para se diminuir a velocidade de contágio do vírus, que tem pressionado as redes pública e privada de saúde”, salientou ontem o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em entrevista coletiva online promovida pelo governo do Estado. Ao longo de toda a epidemia, ele não tem se esquivado para alertar a população sobre a gravidade do problema, que já ceifou vidas de pernambucanos de todas as faixas etárias e classes sociais.

As taxas de incidência e de mortalidade, segundo André Longo, continuam em crescimento, sem indicativos de desaceleração por enquanto. "Isso leva à possibilidade de saturar o sistema de saúde ainda mais e a novos óbitos antes que pacientes tenham a chance de conseguir leitos de terapia intensiva", frisa Longo, sem deixar dúvidas de que é preciso urgentemente diminuir a curva epidêmica, e isso só será possível com o alto nível de isolamento que se busca atingir com as medidas anunciadas. O isolamento que parte da população do Estado vinha adotando ajudou a reduzir o nível de contágio de 3,5, em março, para 1.3 atualmente, segundo o secretário.

“Outro estudo mostrou que essa redução permitiu que 3,4 mil vidas fossem salvas até o último dia 7. Mas, para que a epidemia inicie processo de baixa, é preciso reduzir essa taxa de infecção para abaixo de 1, significando que, em média, no Estado, cada pessoa com covid-19 passe a doença para menos de um indivíduo”, exemplificou Longo.

Ontem, em reunião por videoconferência, o governador Paulo Câmara recebeu o apoio dos dirigentes da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco e do Ministério Público de Pernambuco aos termos do decreto que estabelece a quarentena rígida no Estado.

Remédio necessário 

“Para ser efetivo, esse isolamento social rígido é como um remédio amargo e forte, que precisa ser dado no momento certo, na dose certa e pelo tempo certo. Essa dose agora é o máximo de isolamento possível, com duração que seja suficiente para garantir uma desaceleração da curva de casos", destacou Jailson em coletiva de imprensa online, realizada ontem pela Prefeitura do Recife. A capital pernambucana concentra 52,4% dos 13.768 casos já confirmados do novo coronavírus e 39% das 1.087 mortes no Estado. Há pessoas infectadas em todos os bairros da cidade, com destaque para predominância de casos graves de covid-19, aqueles que geralmente precisam de assistência hospitalar, em moradores do distrito sanitário 4, que reúne 12 bairros. Só Madalena, Iputinga e Várzea (todos na Zona Oeste) têm 131, 118 e 122 casos, respectivamente. No recorte isolado, Boa Viagem, na Zona Sul, continua a liderar no número de infectados: já são 351 com diagnóstico de covid-19 – e, entre eles, 24 foram a óbito.

Para o prefeito do Recife, Geraldo Julio, a quarentena vem no tempo oportuno porque maio é o mês em que se prevê uma maior velocidade no processo de aceleração da curva epidêmica na cidade, considerada o epicentro da covid-19 em Pernambuco. “Dados mostram que, na segunda quinzena de maio, há projeção de uma aceleração muito rápida (da epidemia), o que levou à adoção da quarentena entre 16 e 31 deste mês”, ressaltou.

No Nordeste, segundo boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde, divulgado na sexta-feira (8), o Recife compreende a região de saúde com maior coeficiente de incidência da doença, atrás de Fortaleza e de São Luís, que ocupam o primeiro lugar e o segundo, respectivamente, neste ranking.

O rejuvenescimento da covid-19 na capital pernambucana (ou seja, a característica que a epidemia ganhou por causar adoecimento numa faixa etária economicamente ativa), seguindo a tendência de outras cidades brasileiras, é um dos fatores que revelam a necessidade de endurecimento das medidas de isolamento social. No Recife, a maior proporção de casos graves do novo coronavírus se acumula nos adultos jovens, aqueles que se deslocam para trabalhar e ganhar o pão de cada dia. Entre os 30 anos e 59 anos, estão concentrados 60% dos 3.711 casos graves da doença na capital. A partir dos 60 anos, esse percentual cai para 29%. Muitas dessas pessoas (e algumas por questões de sobrevivência, para sustentar a família) não conseguiram fazer o isolamento social inicialmente proposto, no Estado, ou abandonaram essas medidas passados os primeiros 30 dias.

Saiba como funcionará a quarentena rígida 

O novo decreto prevê três medidas adicionais nas cidades do Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata

1.Uso obrigatório de máscaras

- Peça deverá ser usada pela população em geral sempre que houver necessidade de sair de casa para comprar um produto/serviço essencial ou para prestar atividade essencial

- Pessoas sem máscaras, em vias públicas, serão orientadas a retornar para suas casas. Os estabelecimentos comerciais ou transporte público serão autuados quando for constatada a presença de pessoas sem o uso da peça

2.Restrição de circulação de pessoas

- Será controlada pela exigência de documento de identificação, comprovante de residência e justificativa do destino e finalidade essencial para a saída de casa

- Permanecem permitidas todas as atividades essenciais, como funcionamento de supermercado, farmácias e atendimento médico

- Recomenda-se que as pessoas que precisem sair se dirijam a estabelecimentos próximos a suas residências

- Quem trabalha em atividade essencial deve portar declaração assinada pelo empregador. Caso sejam abordadas pela fiscalização, essas pessoas devem comprovar que estão desempenhando atividades essenciais, que não sofreram mudança com o novo decreto

3.Restrição de circulação de veículos

- Será implantado o rodízio: veículos com final da placa número par podem circular nos dias pares; veículos com o final da placa número ímpar, nos dias ímpares

- Motoristas de transporte por aplicativo também deverão seguir esse rodízio: eles só poderão circular dia sim, dia não

- Haverá a instalação de pontos de controle móveis e intermunicipais

- O decreto determina realização de ações de fiscalização e a apreensão dos veículos sem autorização para transitar. Exceções serão os profissionais das áreas de Saúde, Segurança, Defesa Civil e de uso oficial

- Veículos de serviços essenciais, como distribuidoras de água e gás, energia, Correios, imprensa, alimentos, funerárias, coleta de lixo, obras, guinchos e ambulâncias, táxis, ônibus e motocicletas de entrega também estão liberados

- Serão ativados 34 pontos de fiscalização, sendo 16 em Recife, 8 em Olinda e 8 em Jaboatão dos Guararapes. Outros dois pontos serão instalados, sendo 1 em Camaragibe e 1 em São Lourenço da Mata

- Só poderão circular veículos com até três pessoas, incluindo o motorista, com exceção de socorro médico, por exemplo

- Quem for sair de carro para comprar produto ou serviço essencial deve obedecer ao rodízio

- Apenas em casos excepcionais, é possível sair de casa independentemente do dia previsto para o rodízio. Diariamente podem trafegar veículos em atendimento ou socorro médico, os usados por profissionais de saúde, de segurança pública e da imprensa, desde que estejam nos exercícios de suas funções. Também podem circular os veículos usados por servidores públicos das áreas de assistência social, saúde e segurança, nos exercícios de sua função

- Também estão liberados para circular, independentemente do dia previsto para o rodízio, os veículos destinados aos transportes de carga para determinados seguimentos (postos de combustível, atividades médico-hospitalares e farmacêuticas, gêneros alimentícios), e os veículos de quem trabalha em instituições financeiras dos bancos e lotéricas para atendimentos ao auxílio emergencial federal

- A fiscalização será feita em blitze. Ou seja, apenas de forma presencial

- Não serão aplicadas multas de trânsito. Motoristas que desobedecerem à regra, num primeiro momento, serão orientados a voltar para casa. Se insistirem, terão veículo apreendido

- Se a desobediência continuar por parte do condutor, as forças policiais poderão ser empregadas, com condução do motorista a uma delegacia

Fontes: Governo de Pernambuco e Prefeitura do Recife

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