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AVC está entre complicações neurológicas mais comuns da covid-19

Pacientes do Hospital da Restauração com suspeita de AVC devem fazer teste de covid para que seja analisada relação entre as doenças

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 24/08/2020 às 22:43 | Atualizado em 24/08/2020 às 22:47
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Lúcia Brito, que participa de comitê da OMS para o enfrentamento à pandemia, tem alertado sobre possibilidade de covid-19 levar a comprometimento neurológico - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Cefaleia, perda de olfato e paladar, crise epiléptica, acidente vascular cerebral (AVC), encefalopatia (comprometimento que altera funcionamento do cérebro) e síndrome de Guillain–Barré são manifestações neurológicas que podem aparecer em pacientes infectados pelo novo coronavírus. Algumas delas têm sido observadas em pacientes ao redor do mundo, e não é diferente em Pernambuco. A médica Lúcia Brito, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital da Restauração (HR), referência no tratamento de complicações neurológicas, começou a alertar os colegas de profissão sobre a possibilidade de problemas do tipo, associados à covid-19, desde o início da pandemia. Quase seis meses após os primeiros casos da infecção no Estado, ela sabe que o AVC e as encefalopatias são as manifestações neurológicas mais prevalentes em pacientes com covid-19.

"Desenvolveremos um trabalho para que todo o paciente que dê entrada no HR com suspeita de AVC faça teste de covid, a fim de analisarmos se há relação com a infecção", informa Lúcia Brito, que também faz parte da equipe do Real Hospital Português. As clínicas da instituição continuam acompanhando, com suporte da neurologia ou de outra especialidade, quem teve covid-19.

Os quadros neurológicos associados ao novo coronavírus têm despertado atenção de autoridades sanitárias, pesquisadores e médicos ao redor do mundo. No Estado de São Paulo, que acumula o maior número absolutos de casos da doença no Brasil (mais de 750 mil), o Hospital das Clínicas fez uma pesquisa que mostrou que, entre 1.208 consultas, 89 foram solicitadas avaliações neurológicas. Na lista dos principais diagnósticos, estão encefalopatia, AVC e crises epilépticas. Além de comprovar a relevância dos neurologistas no corpo médico de atendimento hospitalar à covid-19, o trabalho ajudou a compreender a demanda de recursos necessários durante a epidemia. "Agora, com esses primeiros dados em mãos, podemos explorar as manifestações neurológicas específicas, como a encefalopatia, com estudos mais focados. Eles já estão em andamento sob a supervisão de grupos dedicados dentro de nosso departamento", diz o neurologista Raphael de Luca e Tuma, da equipe do HC de São Paulo.

No Recife, um levantamento semelhante tem sido feito por Lúcia Brito, que participa do comitê da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o enfrentamento à pandemia. O grupo tem criado uma série de estratégias que ainda serão publicadas. No HR, Lúcia relata que examinou detalhadamente 15 pacientes infectados pelo novo coronavírus que evoluíram com quadro neurológico, que não era presente antes da infecção. "Eram pacientes saudáveis, até mesmo os mais idosos. Um detalhe é que, nesse grupo, não contamos com os pacientes que tiveram perda de olfato e paladar, que é também uma manifestação neurológica. Se incluirmos isso, teremos uma enormidade de pessoas."

Em entrevista coletiva transmitida pela internet no último dia 20, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, informou que atualmente não há programas específicos, na rede estadual, para atendimento a pacientes com sequelas da covid-19. "Mas estamos fazendo análises e, se houver necessidade de abrir alguma referência estadual específica para algum tipo de sequela detectada de forma importante, o Estado com certeza não vai faltar, como gestor dos procedimentos de alta e média complexidades, com os pacientes", garantiu André Longo.

Confira os casos da covid-19 em Pernambuco por município:

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