Pesquisadores da USP iniciam projeto para estimar a cobertura vacinal no Brasil
Aplicativo baseado em algoritmo de inteligência artificial mensura nas carteiras de papel quais vacinas e quantas doses foram administradas
* Com informações da Agência Fapesp
Quantos brasileiros já se imunizaram contra o sarampo? E quantos já tomaram vacina contra hepatite B e outras doenças? Ao certo, não se sabe, mesmo o Programa Nacional de Imunizações (PNI) sendo reconhecido mundialmente por ter alcançado conquistas importantes, como a erradicação de da varíola. Essa precisa cobertura vacinal (percentual da população que está imunizada) é desconhecida porque o registro do histórico de imunizações feitas na rede pública de saúde do País, nas últimas décadas, está guardado em cadernetas de vacinação em papel.
- Covid-19: doença de Alzheimer aumenta riscos de gravidade e morte pela doença
- "Fato que nos preocupa", diz secretário ao informar que Pernambuco receberá 92 mil doses de CoronaVac a menos do que o previsto
- Comorbidades aparecem em 70% das mortes por covid-19 em Pernambuco; veja as doenças mais associadas aos óbitos pelo coronavírus
- Uma dose das vacinas Pfizer e AstraZeneca reduz infecção em até 65%, revela estudo
- Covid-19: faltam mais de 126 mil doses de CoronaVac para completar a vacinação dos pernambucanos
- Em Pernambuco, pessoas com comorbidades devem ir a serviços de saúde comprovar doença para receber vacina contra covid-19
Para auxiliar o PNI a estimar essa cobertura vacinal em diversas regiões brasileiras, um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) iniciou um projeto com a meta de digitalizar as carteiras de vacinação antigas e em papel do maior número possível de brasileiros. Batizado de Levacc, o projeto foi encomendado pelo Ministério da Saúde e é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os pesquisadores pretendem aproveitar a campanha de vacinação contra a covid-19 para coletar mais fotos de carteiras de vacinação e, dessa maneira, aumentar a base de dados para treinar o algoritmo de leitura.
“Com base na informatização dos dados das carteiras de vacinação de milhões de brasileiros, os técnicos do Ministério da Saúde poderão determinar melhor a cobertura vacinal das regiões do País. Com isso, poderão planejar campanhas de vacinação ou desenhar estratégias para evitar surtos de doenças para as quais há vacinas”, diz à Agência Fapesp o vice-diretor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP), Helder Nakaya, coordenador do projeto.
Na primeira etapa do trabalho, os pesquisadores estão coletando fotos de cadernetas de vacinação, que podem ser tiradas por meio de smartphone e enviadas pelo site do projeto. Os voluntários precisam enviar apenas a imagem do registro de histórico de vacinações na caderneta, sem a necessidade de expor seus dados pessoais. As fotos de carteiras de imunização podem ser compartilhadas com os pesquisadores por meio do site https://levacc.csbiology.org. Essas imagens, enviadas pelos voluntários, ajudarão os pesquisadores a treinar um algoritmo de inteligência artificial que estão desenvolvendo para identificar quais vacinas e quantas doses foram aplicadas.
"Precisamos coletar grandes quantidades e diferentes modelos de caderneta de vacinação para termos uma base de dados robusta o suficiente para treinar o algoritmo que estamos desenvolvendo, de modo que ele seja capaz de identificar os quadrantes da caderneta e verificar qual vacina e quantas doses foram administradas", explica o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Luiz Durão, coordenador tecnológico do projeto.
Os pesquisadores identificaram que há dois tipos de caderneta de vacinação em papel em circulação no Brasil. Uma delas é estruturada em um modelo de coluna, em que no topo de uma coluna consta o nome da vacina e nos quadrantes abaixo o número do lote e a data da imunização. Na maioria dos casos, essas informações foram registradas manualmente, a caneta ou a lápis. O segundo modelo de caderneta, mais recente, é o de etiqueta, em que foram colados nos quadrantes rótulos com informações sobre a vacinação impressas ou registradas manualmente.
“O algoritmo que estamos desenvolvendo será capaz de identificar esses dois tipos de marcações nos quadrantes e conseguirá ‘ler’ as informações da etiqueta ou identificar quais colunas de uma determinada vacina estão ou não preenchidas em uma caderneta”, relata Durão.
Aplicativo
Com base no algoritmo, os pesquisadores vão desenvolver um aplicativo móvel para ser utilizado por agentes responsáveis pela vacinação em Unidades Básicas de Saúde (UBS). O app permitirá obter dados básicos dos pacientes, como o nome e endereço, e registrar uma foto para identificação. O algoritmo de leitura integrado ao sistema possibilitará detectar quais vacinas o paciente já recebeu e quantas doses.
Os dados serão armazenados em um servidor local e futuramente na nuvem. A ideia é que possam ser integrados ao sistema do PNI para complementar a base de dados e permitir que os técnicos do programa possam fazer estimativas de cobertura vacinal de diferentes regiões do País.
“Desenvolvemos o primeiro protótipo funcional do aplicativo sem o algoritmo de leitura integrado, mas já com as funções de coleta de dados e para tirar foto dos pacientes e da carteira de vacinação em papel”, diz a pesquisadora Manoela Gomes Domingos da Silva, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Neurologia e Neurociências da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e participante do projeto.
Nessa etapa de teste do aplicativo, será avaliada a usabilidade do sistema pelos agentes de saúde responsáveis pela vacinação nas UBS e como será o fluxo para coleta e integração dos dados. Paralelamente, os pesquisadores aprimorarão o algoritmo de leitura de cadernetas de vacinação, a fim de melhorar a precisão. "Essa fase de teste permitirá melhorar e colocar mais funcionalidades no aplicativo e consertar eventuais erros. No final dessa etapa, ele será aprimorado e integrado com o algoritmo de leitura", acrescenta Manoela.