Casos de chicungunha sobem 136% em Pernambuco; escalada da doença se torna preocupante com nova aceleração da covid-19
Pernambuco já notificou este ano 3.417 casos de chicungunha em 89 dos 184 municípios
A escalada da chicungunha preocupa cada vez mais, semana após semana, em Pernambuco. O desafio se torna ainda mais complexo porque o aumento de casos de arboviroses acontece no momento em que o Estado vivencia a reaceleração da curva da covid-19, o que já tem causado pressão intensa nas unidades de saúde. Agora, os serviços também precisam dar assistência aos pacientes com chicungunha e, se o aumento progressivo de casos não for controlado, a situação tende a estrangular o sistema de saúde.
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Até o último dia 15, Pernambuco notificou 3.417 casos de chicungunha em 89 dos 184 municípios, o que corresponde a um aumento de 136%, em relação ao mesmo período de 2020. Os dados estão no boletim epidemiológico das Secretaria Estadual de Saúde (SES). Mais um vez, a doença, responsável por epidemias em 2015 e 2016, apresenta-se como a mais torturante das arboviroses (doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti), devido à sua característica mais marcante: as dores e os edemas nas articulações, que podem durar meses. Do total de notificações, 717 foram confirmadas, e 747 descartadas. As demais permanecem em investigação.
Além disso, em relação a gestantes com manchas vermelhas na pele (um dos indicativos sugestivos de arboviroses), há 130 registros este ano. Entre elas, 62 realizaram exame para dengue (14 positivaram), 46 para chicungunha (18 positivaram) e 39 para zika (todas tiveram diagnóstico descartado). Uma mesma gestante pode ter feito teste para mais de uma arbovirose.
Levantamento
Um estudo feito por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco mostrou que 37% dos recifenses já tiveram chicungunha. Ou seja, há 63% da população da capital em risco de se infectar atualmente, neste momento em que o vírus tem feito mais doentes. A pesquisa, intitulada Inquérito de Arboviroses do Recife, é coordenada pela médica epidemiologista Cynthia Braga, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, e examinou moradores da cidade nos anos de 2018 e 2019, cerca de três anos após a tríplice epidemia de arboviroses no Estado. Os resultados do levantamento estão em análise final para publicação científica, mas Cynthia antecipou os destaques do estudo para a reportagem do JC, a fim de alertar as autoridades e a população para medidas preventivas neste momento de pico de casos de chicungunha.
Para o inquérito, foram sorteados 884 domicílios. Somando os residentes deles, 2.071 pessoas (5 a 65 anos) passaram por exames de dengue, chicungunha e zika. "Nossa amostra representou todas as classes sociais do Recife. Chama a atenção o fato de, em tão pouco tempo (considerando a epidemia que ocorreu em 2015 e 2016), a chicungunha ter acometido 37% da população geral do Recife. E a doença se torna expressiva porque faz sintomas (intensos) em 70% das pessoas infectadas", diz Cynthia.
A coordenadora da pesquisa também adverte sobre a quantidade de pessoas ainda suscetível à zika. "É uma doença cuja prevalência chegou a 55% no nosso estudo. Então, ainda temos 45% da população em risco de ter zika." Ainda segundo Cynthia, o levantamento mostrou que quase 90% dos moradores do Recife já tiveram algum tipo de dengue (adoeceu por um dos quatro sorotipos). "Os resultados corroboram que há uma necessidade urgente de se discutir políticas públicas intersetoriais para enfrentamento a essas arboviroses", reforça a médica epidemiologista.
Zika e dengue
No Estado, também há aumento de notificações de pessoas com quadros sugestivos de zika. Até o momento, foram registrados 1.176 casos em 57 municípios - um aumento de 61,8%, em relação ao mesmo período de 2020. Das notificações deste ano, 9 foram confirmadas. Já nos casos de dengue, foram registrados 8.723 pessoas com sintomas da doença (com 1.048 confirmações) em 153 municípios, representando uma redução de 28%, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Ainda em Pernambuco, foram notificados este ano nove óbitos suspeitos de arboviroses - um foi descartado e os demais se encontram em investigação. Em relação às formas graves, foram registrados 14 casos de dengue com sinais de alarme e dois de dengue grave.
Também no Estado, a análise do 2º Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) mostra 118 (64,1%) municípios em situação de risco para transmissão elevada das arboviroses, sendo 36 (19,6%) em situação de risco de surto (3,9%) e 82 (44,6%) em situação de alerta. Outros 49 (26,6%) municípios estão em situação satisfatória e 17 (9,2%) não encaminharam resultados (ou não foi possível
ser realizado).