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Você sabia? Proteína da saliva do mosquito da dengue tem potencial para tratar doenças

Uma pequena proteína encontrada na saliva de mosquitos fêmeas do Aedes aegypti mostrou-se eficiente para tratar colite, uma doença inflamatória do intestino

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Publicado em 30/09/2021 às 15:36 | Atualizado em 30/09/2021 às 15:38
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Por Fabiana Mariz/Jornal da USP 

Um peptídeo (pequena proteína) encontrado em maior quantidade na saliva de mosquitos fêmeas de Aedes aegypti, mostrou-se eficiente para tratar colite, uma doença inflamatória do intestino. O mosquito é muito conhecido dos brasileiros por ser o vetor de doenças como dengue, zika e chikungunya. Esse resultado foi obtido em uma pesquisa liderada pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, Instituto Butantan e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dos Estados Unidos.

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A administração terapêutica de uma versão sintética do peptídeo em camundongos doentes reduziu a leucocitose (aumento de leucócitos no sangue, que acontece quando há alguma infecção em curso no organismo), a atividade dos macrófagos (células de defesa do organismo do hospedeiro) e a expressão de citocinas (substâncias que participam da inflamação e fazem a comunicação com componentes do sistema imunológico), bem como os níveis de óxido nítrico no intestino dos animais, o que resultou em uma melhora dos sinais clínicos.

O óxido nítrico é um radical livre sintetizado por várias células do nosso organismo, especialmente macrófagos, e desempenha papel importante em doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn e colite ulcerativa.

Os cientistas mostraram, também, que o peptídeo puro tem sua expressão aumentada em 30 vezes nas glândulas salivares de mosquitos fêmeas quando comparada ao machos, e sua secreção na saliva do inseto induz à produção de anticorpos específicos em animais expostos à picada dos mosquitos.

Por causa das propriedades acima descritas e pelo fato de não haver moléculas semelhantes em outros mosquitos, os cientistas denominaram a molécula de Aedes-specific MOdulatory PEptide (AeMOPE-1), algo como “Peptídeo Modulador Específico do Aedes”, em português.

Nos últimos 30 anos, vários grupos de pesquisa vêm estudando a saliva do Aedes aegypti e já foi possível demonstrar o papel dela e de suas moléculas isoladas em reações alérgicas, agregação plaquetária, vasoconstrição e coagulação sanguínea. Mas até a conclusão deste trabalho, havia poucas informações sobre as atividades biológicas da saliva sobre a inflamação e a imunidade do hospedeiro.

“Utilizamos os bancos de dados de sialotranscriptomas [conjunto de transcritos – RNAs mensageiros – da saliva do mosquito] como um ponto de partida para identificar novas moléculas como a AeMOPE-1, cuja função era até então desconhecida”, explica Priscila Lara, bióloga e primeira autora do estudo.

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