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Brasil chega a 600 mil mortos pela covid-19

Além do risco de novas variantes, o patamar de vítimas ainda é alto (perto de 500 por dia) e há demanda por doses de reforço e cuidado com as sequelas do vírus

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AFP

Publicado em 08/10/2021 às 16:33 | Atualizado em 08/10/2021 às 19:25
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O Brasil superou nesta sexta-feira (8) a marca das 600.000 mortes na pandemia do coronavírus que, segundo especialistas, continua sem controle apesar da queda no número de mortes diárias graças ao avanço da vacinação.

Com um total de 600.425 óbitos - 615 reportados em 24 horas -, o país é o segundo com mais vítimas fatais da doença, atrás apenas dos Estados Unidos, que acabam de superar as 700.000 mortes, com uma população 35% superior à brasileira, de 213 milhões de habitantes.

Os últimos dados do Ministério da Saúde, considerados subestimados pelos especialistas, também reportam um total de 21.550.730 de contágios, sendo 18.172 nas últimas 24 horas.

"Estamos sem dúvida em um momento melhor, mas é preciso ter cautela", disse à AFP Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da prestigiosa Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Segundo ela, só será possível considerar a pandemia controlada quando "tivermos 80% da população vacinada", o que ainda está longe de ser o caso.

Por enquanto, 71,4% dos brasileiros receberam ao menos uma dose da vacina, mas apenas 45,9% estão completamente imunizados.

Segundo um estudo publicado na semana passada pela Fiocruz, 11% das pessoas que receberam a primeira dose estão atrasadas para tomar a segunda. Já os idosos, começaram a receber a terceira dose de reforço.

O Brasil iniciou sua campanha de vacinação no fim de janeiro, várias semanas depois dos Estados Unidos e de outros países como Argentina e Chile, um atraso atribuído por especialistas à falta de antecipação do governo na aquisição de doses.

Um Carnaval "sem restrições"

Mas a situação é muito melhor do que há três meses, quando a vacinação se arrastava e cerca de 2.000 brasileiros morriam de covid-19 todos os dias.

A média móvel de óbitos diários caiu abaixo de 1.000 no fim de julho, antes de diminuir gradualmente em agosto até se estabilizar por volta de 500 durante o mês de setembro.

O Brasil ainda está longe de ver "a luz no fim do túnel, o cenário ainda é preocupante", adverte Domingos Alves, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.

Segundo ele, o Brasil não está imune a uma explosão de casos da variante delta, já majoritária em várias regiões do país, ou ao aparecimento de novas variantes resistentes às vacinas.

Apesar das preocupações dos epidemiologistas, muitas grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, mantêm os planos de voltar à normalidade. Nas duas cidades, as autoridades analisam suspender o uso de máscaras ao ar livre a partir de meados de outubro.

O Rio exige comprovante de vacinação para acessar, entre outros, locais turísticos, e São Paulo para eventos com mais de 500 pessoas. Mas diferentemente das normas vigentes em muitos países europeus, o passaporte da vacina não é obrigatório em bares e restaurantes.

Os jogos da Série A do campeonato brasileiro voltaram a receber público no fim de semana passado e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, assegurou que o Carnaval será realizado "sem restrições" em fevereiro de 2022, pois, segundo ele, em novembro 90% dos adultos da cidade estarão vacinados.

Uma gestão caótica 

Para Margareth Dalcolmo, as aberturas indiscriminadas poderiam ser "desastrosas".

Ela critica a falta de uma "coordenação centralizada" das políticas anticovid por parte do governo de Jair Bolsonaro, um cético do coronavírus que desde o início da pandemia faz campanha contra as medidas de distanciamento social.

Em meados de setembro, o Ministério da Saúde recomendou aos estados suspender a vacinação dos adolescentes, que acabou sendo retomada uma semana depois, após uma enxurrada de críticas.

Essa caótica gestão da crise sanitária por um presidente que afirma ainda não ter se vacinado tem sido esquadrinhada durante meses por uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, cujo relatório é aguardado para 20 de outubro. A expectativa é que o documento contenha duras acusações contra o governo.

Segundo Alves, "pelo menos metade" das 600.000 mortes por covid-19 poderiam ter sido evitadas se a campanha de vacinação tivesse começado "dois meses antes", porque março e abril de 2021 foram os dois meses mais mortais da pandemia.

Nesta sexta-feira (8), a ONG Rio de Paz homenageou as vítimas do coronavírus, pendurando 600 lenços brancos em um varal na praia de Copacabana.

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