COLUNA SAÚDE E BEM-ESTAR

Casos de lesões que provocam coceira na pele aumentam no Recife

Na noite desta terça-feira (23), a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informou que o número de ocorrências passou de 117 para 134

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Amanda Azevedo, Cinthya Leite

Publicado em 23/11/2021 às 22:21 | Atualizado em 26/11/2021 às 22:12
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O Recife registrou mais um aumento de casos de "lesões cutâneas a esclarecer" que provocam coceira. Na noite desta terça-feira (23), a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informou que o número de ocorrências passou de 117 para 134. Outras cidades da Região Metropolitana, como Paulista e Camaragibe, também têm registros da doença, que segue sem causa conhecida.

À tarde, a informação era de que havia casos em 16 bairros da capital. A maior parte concentrava-se em Dois Irmãos e na Guabiraba, e os demais registros espalhavam-se pela Várzea, Boa Viagem, Córrego do Jenipapo, Bomba do Hemetério, Encruzilhada, Torre, Graças, Morro da Conceição, Brejo da Guabiraba, Passarinho, Linha do Tiro, Boa Vista, Sítio dos Pintos e Imbiribeira.

Desde que o Recife emitiu o alerta, na última semana, sobre o surto, muitas pessoas começaram a relatar sintomas que se assemelham a essa condição, com presença de manchas avermelhadas acompanhadas de pequenos caroços, coceira intensa, crostas e até sangramento. Dermatologistas e demais médicos que acompanham os casos garantem que é possível aliviar esses sintomas, geralmente incômodos. 

A recomendação é buscar uma unidade de saúde para receber atendimento e tratar as irritações na pele. "O que podemos fazer, por enquanto, é controlar os sintomas. É importante evitar o uso inadequado de pomadas, assim como os banhos de ervas e plantas que dizem ter o potencial de eliminar as lesões. E coçar o local só piora. A coceira tende a machucar a pele, arranhar, arder e abrir espaço para micro-organismos entrarem na pele", orienta a dermatologista Cláudia Ferraz, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia/Regional Pernambuco (SBD/PE).

No Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), ela já atendeu pessoas que apresentam essas manifestações na pele. "Faz uns 15 dias que comecei a ver pacientes com esse quadro. São lesões que se apresentam de forma diferente de pessoa para pessoa. Não dá para fechar um diagnóstico apenas com a clínica (ou seja, a olho nu). É preciso concluir toda a investigação que tem sido feita para se chegar a uma conclusão." De acordo com Cláudia, os locais onde as lesões aparecem são diversos. "Elas se manifestam não apenas em áreas expostas, como pernas e braços, que são onde picadas de inseto mais ocorrem. Mas já vimos também em tronco, coxas e abdome. Por isso, não dá para pensar apenas em mosquitos."

Em Paulista, município do Grande Recife, o vendedor Ricardo Ferreira é uma das pessoas que relatam estar incomodadas com a coceira intensa. Na manhã de ontem, ele foi à Prontoclínica Torres Galvão, no Centro da cidade, para receber atendimento médico. "Essa coceira começou há dois dias. Ontem piorou mais ainda. Não dormi; passei a noite me coçando. Tomei uns dez banhos com sabão amarelo para ver se passava, mas nada", contou Ricardo. Há seis pessoas, em Paulista, que já foram notificadas com as lesões na pele. Em Camaragibe, Região Metropolitana, são 62 notificações, e o Recife contabiliza 134 casos: cerca de 83% deles concentradas em Dois Irmãos e na Guabiraba.

Na visão da dermatologista Cláudia Ferraz, essas lesões, acompanhadas da coceira, aparentemente não são transmitidas pelo contato. "Acreditamos que não são contagiosas, pois vemos famílias em que uma pessoa apresenta o quadro e outras não. Outro detalhe é que essas lesões não têm uma morbidade (gravidade) importante. Mas, neste momento em que não sabemos a causa, questionamos se isso poderá ter alguma repercussão (na saúde) se for um quadro viral, como aconteceu com a zika", frisa Cláudia. A Sesau confirma que, até agora, não houve o registro de agravamento associado às lesões cutâneas e reforça a importância de as pessoas manterem as mãos higienizadas e não tomarem remédio por conta própria.

"Para aliviar os sintomas, podemos prescrever medicamentos de acordo com cada caso. Recomendamos banho frio, hidratação da pele, reparador cutâneo e, se necessário, anti-histamínicos (antialérgicos), que pode aliviar a coceira. Para os quadros em que percebemos que os ferimentos na pele facilitaram a contaminação das feridas por bactérias, indicamos antibiótico. Mas é fundamental ressaltar que são medicações usadas por recomendação médica", sublinha Cláudia Ferraz.

Também entre as possíveis causas levantadas para explicar as lesões, está a escabiose, popularmente conhecida como sarna. "Há a hipótese de as manifestações na pele serem decorrentes da ação direta de ácaros. Nesse contato, entra a escabiose", diz o infectologista Demétrius Montenegro, chefe do setor de doenças infectocontagiosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc). Sobre a possibilidade de se tratar de arboviroses, ele comenta que as lesões têm se apresentado de forma diferente do exantema que tende a aparecer nos casos de zika, por exemplo. "Nesses casos de agora, estamos vendo pequenos caroços na pele, que causam coceira, levam a ferimentos, podendo até sangrar, e formam uma crosta."

Além disso, Demétrius fala sobre diferenças na duração dos sintomas. "Há pacientes que ficam bem rapidamente, mas há outros em que o quadro demora mais de dez dias, mesmo quando seguem o tratamento para alívio das manifestações (lesões e coceira)", diz. Para o infectologista, pelo fato de os casos terem começado em localidades próximas a áreas de mata, existe a possibilidade de o surto ser causado por um desequilíbrio ambiental, o que levaria algum inseto a causar as lesões na pele com coceira.

 

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