COLUNA JC SAÚDE E BEM-ESTAR

"A pandemia não acabou, mas não tem cabimento dizer que ela vai ficar muito pior", diz médico sanitarista fundador da Anvisa

Para Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Anvisa, tudo se caminha para o começo do fim da pandemia, mas os cuidados precisam ser mantidos

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 17/03/2022 às 16:32
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ESPECIALISTA Médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto também é fundador e ex-presidente da Anvisa - FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE
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Neste momento em que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alerta para aumento dos casos de covid-19 no mundo e que esse crescimento é "uma advertência" para as Américas de que o vírus não está sob controle, muitas dúvidas têm sido levantadas sobre a crise sanitária. Na avaliação do médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tudo se caminha para o começo do fim da pandemia, mas os cuidados precisam ser mantidos. E essa comunicação precisa ser feita de forma correta, segundo o especialista. 

Leia também: "Deltacron não é ameaça importante porque não tem infectividade como outras variantes", diz médico fundador da Anvisa

"Há um problema de entendimento. Acho que é necessário realçarmos a importância de que a pandemia não acabou. Mas o contrário também não é correto; não é correto dizer que a pandemia não só acabou, como vai ficar muito pior. Creio que isso não tem cabimento. A gente tem que dizer a verdade", ressalta Vecina, em entrevista à titular desta coluna Saúde e Bem-Estar, do JC. Para o médico sanitarista, estamos próximos de, com a variante ômicron, ter esgotado os susceptíveis - ou seja, as as pessoas que poderiam ter a doença. "Quem já poderia ter a ômicron já teve ou foi vacinado. Então, por isso, a gente está se aproximando do fim. Se houver a capacidade de a BA.2 acometer todo mundo que teve a BA.1, é jogo novo. Na Europa, a BA.2 está subindo, sem dúvidas. As autoridades precisam parar de bater cabeça. Cada um fala uma coisa diferente."

Ao falar sobre as suas expectativas para a pandemia, Vecina dispara: "Estou preocupadamente otimista. Sim, é isso: estou otimista, mas atento". 

Possibilidade de reinfecção

Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, a inquietação diz respeito à possibilidade de a variante BA.2 infectar quem já teve a BA.1. "Aparentemente isso é possível sim. Mas não está comprovado. Acredito que estamos no começo do fim da pandemia primeiramente porque a BA.1 infectou quem poderia infectar. Então, os susceptíveis, do ponto de vista da BA.1, estão no fim. Agora, essa questão de quem teve BA.1 pode ter a BA.2 é que será a decisão. Se quem teve a BA.1 está protegido contra a BA.2, não teremos mais muitos casos. Mas, se o contrário for verdadeiro (se houver reinfecção), teremos novamente uma população que terá a doença."

Para Vecina, a chance de aparecimento de uma nova variante é relativamente pequena. Ele explica que, de tão poderosas que são a BA.1 e a BA.2, dificilmente surja uma mais potente. "Estatisticamente é mais difícil. Uma variante é um conjunto de erros cometidos ao criar a cópia de um vírus, que entra na nossa célula e se reproduz. O vírus utiliza o nosso maquinário genético para se reproduzir. Nesse processo, ocorrem erros", explica.

E a deltacron? 

"A deltacron não é uma ameaça importante. E isso não é uma questão de achar. Ela não é uma ameaça importante porque não tem capacidade de infectar como outras variantes que temos em circulação, no Brasil, atualmente", avalia Gonzalo Vecina Neto. 

Sobre o cenário em que a pandemia se encontra, Vecina frisa que a subvariante da ômicron BA.2 é o que mais requer atenção. "Ela, sim, é de preocupação mais importante do que a deltacron. E temos ainda a circulação da BA.1, que está perdendo força porque fez um estrago grande, com muitos casos. A BA.2 está chegando, vamos ver o que vai acontecer", acrescenta.

Teremos novas variantes?

O médico sanitarista esclarece que as falhas que enfraquecem a ação dos vírus são esquecidas pela natureza. "Mas os erros que melhoram os vírus tendem a tomar o espaço onde o vírus existe. Então, sempre uma variante melhor que surge ocupa o espaço da anterior. Uma variante melhor é mais infectiva, mais invasiva." Ele diz que, para ocorrer uma variante mais invasiva do que a ômicron, seriam necessárias muitas mutações, o que é probabilisticamente improvável. "Então, hoje, a gente acredita que o vírus atingiu um nível de mutações que é muito difícil que ocorram mais, embora seja possível", completa.

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