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Veja o que se sabe sobre a hepatite misteriosa que afeta crianças na Europa

Alguns casos exigiram transferência para unidades especializadas em hepatologia pediátrica e seis crianças foram submetidas a transplante de fígado

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 18/04/2022 às 15:13
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PERIGO Infecção misteriosa em crianças pode desencadear uma série de problemas, incluindo a necessidade de transplante de fígado - FOTO: FREEPIK/BANCO DE IMAGENS
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No último dia 5 de abril, a Organização Mundial de Saúde (OMS) foi notificada de dez casos de hepatite aguda grave com causa desconhecida em crianças menores de 10 anos, previamente saudáveis, na região central da Escócia. A idade dos pacientes varia de 11 meses de vida a 5 anos, segundo informa comunicado da OMS

Desses dez casos de hepatite, nove tiveram início dos sintomas em março de 2022, enquanto uma criança começou a manifestação em janeiro de 2022. Os sintomas incluem icterícia (pele amarela), diarreia, vômito e dor abdominal. Todos os dez casos foram detectados quando hospitalizados.

Três dias depois, 8 de abril, 74 casos foram identificados no Reino Unido. A síndrome clínica é de hepatite aguda com enzimas hepáticas acentuadamente elevadas, muitas vezes com icterícia, às vezes precedida por sintomas gastrointestinais, principalmente em crianças até 10 anos de idade.

Alguns casos exigiram transferência para unidades especializadas em hepatologia pediátrica e seis crianças foram submetidas a transplante de fígado. Até 11 de abril, nenhuma morte foi relatada, e um caso foi detectado por critério epidemiológico.  

Os vírus da hepatite (A, B, C, E e D, quando aplicável) foram excluídos após testes laboratoriais. Investigações adicionais estão em andamento para entender o que leva ao aparecimento desses casos de hepatite. Devido ao aumento de casos relatados no último mês, a OMS estima que mais notificações sejam feitas nos próximos dias.  

Hepatite aguda misteriosa em crianças: coronavírus pode ser a causa? 

Enquanto os testes laboratoriais excluíram os vírus da hepatite, o coronavírus e/ou adenovírus foram detectados em vários casos. O Reino Unido observou recentemente um aumento na atividade do adenovírus, que está em cocirculação com o coronavírus, embora o papel desses vírus na patogênese (mecanismo pelo qual a doença se desenvolve) ainda não esteja claro.

Nenhum outro fator de risco epidemiológico foi identificado até o momento, incluindo viagens internacionais recentes. No geral, a causa dos casos atuais de hepatite aguda ainda é considerada desconhecida e permanece sob investigação ativa. Testes laboratoriais para infecções adicionais, produtos químicos e toxinas estão em andamento para os casos identificados.

Após a notificação do Reino Unido, foram notificados menos de cinco casos (confirmados ou possíveis) na Irlanda, com investigações adicionais em andamento. Além disso, três casos confirmados dessa hepatite aguda de causa desconhecida foram relatados em crianças (faixa etária de 22 meses a 13 anos) na Espanha. As autoridades nacionais estão atualmente a investigar essas manifestações. 

Investigações em andamento 

Estão em andamento investigações adicionais, pelas autoridades sanitárias dos países onde os registros foram feitos, para incluir um histórico de exposição mais detalhado, como testes toxicológicos e testes virológicos/microbiológicos. 

Embora o papel potencial do adenovírus e/ou coronavírus no desenvolvimento desses casos de hepatite aguda seja uma hipótese, outros fatores infecciosos e não infecciosos precisam ser totalmente investigados para avaliar e gerenciar adequadamente o risco.

A OMS informa que monitora de perto a situação. A entidade acrescenta que não recomenda restrições de viagens e/ou comércio com o Reino Unido ou qualquer outro país onde sejam identificados casos, com base nas informações atualmente disponíveis. 

O que são hepatites virais?

As hepatites virais são um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Trata-se de uma infecção que atinge o fígado, causando alterações leves, moderadas ou graves. Na maioria das vezes, são infecções silenciosas - ou seja, não apresentam sintomas. Entretanto, quando presentes, elas podem se manifestar com cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

No Brasil, as hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D (mais comum na região Norte do País) e o vírus da hepatite E, que é menos comum no Brasil, sendo encontrado com maior facilidade na África e na Ásia.

As infecções causadas pelos vírus das hepatites B ou C frequentemente se tornam crônicas. Contudo, por nem sempre apresentarem sintomas, grande parte das pessoas desconhece ter a infecção. Isso faz com que a doença possa evoluir por décadas sem o devido diagnóstico.

O avanço da infecção compromete o fígado, sendo causa de fibrose avançada ou de cirrose, que podem levar ao desenvolvimento de câncer e à necessidade de transplante do órgão.

O impacto dessas infecções acarreta aproximadamente 1,4 milhões de mortes anualmente no mundo, seja por infecção aguda, câncer hepático ou cirrose associada às hepatites. A taxa de mortalidade da hepatite C, por exemplo, pode ser comparada às do HIV e tuberculose.

Atualmente, existem testes rápidos para a detecção da infecção pelos vírus B ou C, que estão disponíveis no SUS para toda a população. Todas as pessoas precisam ser testadas pelo menos uma vez na vida para esses tipos de hepatite. Populações mais vulneráveis precisam ser testadas periodicamente.

Além disso, ainda que a hepatite B não tenha cura, a vacina contra essa infecção é ofertada de maneira universal e gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS), nas unidades básicas de saúde.

Já a hepatite C não dispõe de uma vacina que confira proteção. Contudo, há medicamentos que permitem a cura.

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