Tubulação rompe e derruba parte de teto da unidade de trauma do Hospital da Restauração
Mais de 80 pacientes foram removidos do setor
O rompimento da tubulação de água, na tarde desta segunda-feira (2), causou a queda de parte do teto da unidade de trauma (emergência) no Hospital da Restauração (HR), no Derby, na área central do Recife. Mais de 80 pacientes precisaram ser removidos do setor.
Como o teto é de gesso, duas placas cederam. Houve transtorno para fazer a transferência das pessoas que estavam internadas no setor.
De acordo com a assessoria de imprensa do HR, assim que parte do teto caiu, a equipe de manutenção foi para o local, consertou a ruptura do tubo e retirou as placas, que serão recolocadas.
À espera de notícias dos parentes internados, famílias ficaram angustiadas na entrada do hospital. A feirante Joelma Martins, 54 anos, e o irmão, o office boy Demétrio Martins, 48 anos, permaneceram horas preocupados sem saber informações sobre a mãe, de 82 anos, internada no setor de trauma do HR desde o sábado (30), após um acidente vascular cerebral.
"Está um caos aqui por causa desta tubulação. Viemos ontem (domingo, dia 1º) falar com a assistente social e não conseguimos. Hoje não estão deixando entrar para ver minha mãe. Ela tem que ter acompanhante para trocar as fraldas, o vestido. Ela tem incontinência urinária e diabetes. Nem sei se ela comeu ainda. Está ao léu. Tem condições não", relatam, ao JC, os irmãos Joelma e Demétrio.
Também no HR, a moradora de Camaragibe (Grande Recife) Sônia Maria Lira, 62 anos, informou que, ao chegar para visitar o marido, soube que o teto havia caído e que o setor de trauma ficou cheio de água. "Os pacientes ficaram molhados, especialmente os entubados. Tiraram eles da ala vermelha e colocaram de novo lá. Quero agora visitar o meu esposo, que aguarda uma cirurgia, há dois meses, por causa de um problema na coluna. Ele está sobre uma maca, no chão. Não sei se foi atingido por um pedaço de gesso. E nem água tem aqui para os pacientes beberem. Se a gente não traz, eles ficam com sede", diz Sônia.
Por volta das 15h40, o diretor do HR, Miguel Arcanjo, conversou com a imprensa sobre o ocorrido e garantiu que não falta água para os pacientes. Além disso, ele assegurou que a situação está sob controle. "Não existe risco algum para o paciente agora. Tudo já está normalizado", disse.
O diretor contou que, com o rompimento da tubulação de água, extravasou água para a ala laranja. "Terminou indo também para a ala vermelha. Os pacientes (nesses setores) foram levados para outra área do hospital. Em seguida, contivemos o vazamento e limpamos toda a área", contou Miguel Arcanjo. "Todos os pacientes estão de volta, e graças a Deus não ocorreu nada demais. Está tudo sob controle", acrescentou o diretor do HR. Ele assegurou ainda que, apesar de pacientes terem sido atingidos pela água que desceu do teto, eles não foram machucados pelo gesso.
Ao todo, segundo Miguel Arcanjo, 86 pacientes estão internados na área atingida pelo rompimento da tubulação. Com o ocorrido, 75% deles precisaram ser removidos temporariamente. "Eles foram para o setor amarelo e corredor. Mas ninguém sofreu danos." Para tentar controlar o problema, as visitas dos parentes, que deveriam ocorrer às 14h, foram suspensas.
Questionado sobre problemas de infraestrutura no hospital, Miguel Arcanjo informou que regularmente é feita manutenção preventiva e corretiva na unidade. "Sobre este lado de fora (onde ficam os familiares), como não temos pacientes nele nem assistência, temos uma menor preocupação com essa área", disse o diretor do HR para explicar por que a unidade de saúde permanece com ferragens expostas e forros de gesso caídos na área externa.
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) determinou, ainda na tarde desta segunda-feira (2), que o Hospital da Restauração se pronuncie sobre a queda de parte do teto da unidade de trauma (emergência).
Por meio da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde da Capital, foi instaurada uma notícia de fato com remessa de ofício à direção do hospital, para que "se pronuncie sobre as imagens e as providências adotadas, a fim de garantir a assistência aos pacientes desse setor". O diretor, o cirurgião Miguel Arcanjo, tem 24 horas para se manifestar.
"Baratas circulam nas proximidades dos pacientes", diz funcionário do HR
Um funcionário do HR, que conversou com a reportagem da TV Jornal e prefere ter a identidade preservada, contou que parte da teto desabou há bastante tempo, com toda a fiação elétrica exposta, água caindo sobre os fios e fumaça. "Tudo isso coloca em risco os profissionais e os pacientes, que são transportados pelos corredores. Vemos baratas circulando nas proximidades dos pacientes, que estão recebendo assistência precária", diz.
Ele acrescenta que as pessoas internadas na unidade estão fora do setor onde deveriam estar porque não há vagas. "E apesar disso, o hospital continua recebendo (pacientes), sabendo que não tem mais condições (de atender) a partir de um número 'x' de pacientes, de prestar assistência digna."
Outro detalhe que chama a atenção do funcionário é o fato de os pacientes ficarem espalhados, em locais longe dos profissionais de saúde. "Há paciente para todos os lados. Quando não dá para eles ficarem no salão, ficam sendo distribuídos pelos corredores e muito longe do local de assistência. Vemos com muita frequência pacientes perdendo vida sem terem a chance de ter o tratamento certo."
O trabalhador do HR ainda vê, neste cenário de caos, profissionais adoecendo, que não querem mais tirar plantão em determinadas áreas do hospital. "Já perdi as contas das vezes em que eu me retirei do setor para chorar, tendo que assistir a tudo isso quase que todos os dias. E no quesito segurança, vários funcionários têm feito queixa. Eles deixam as coisas (os pertences) no repouso e, quando voltam, não tem nada. A bolsa foi levada, o celular foi levado, o sapato de trabalho foi levado. Tudo é completamente inseguro. O SUS não é isso", complementa.
O que diz o Simepe
O presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Walber Steffano, informa que já conversou com a direção do HR para entender a causa do problema e como estão os pacientes da área atingida pela queda do teto. "Pode ter sido algo eventual, mas infelizmente não é incomum esse tipo de ocorrência do HR. As imagens mostram como foi uma situação desesperadora. Já havíamos solicitado uma conversa com o secretário de Saúde (André Longo) para trazer à tona questões de falta de estrutura nos hospitais", diz Walber.
Ele acrescenta que a crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19 agravou problemas da saúde pública que já são de muitos anos, de responsabilidade de muitos e sucessivos governos. "Somado a isso, houve uma piora de capacidade estrutural imensa nos serviços. Vemos os corredores ocupados com pacientes, que também chegam a ficar em macas na entrada dos bancos localizados dentro dos hospitais. Há unidades, como o Hospital Otávio de Freitas (Zona Oeste do Recife), em que os pacientes chegaram a ficar em macas do lado de fora, de tão superlotada que estava a unidade", acrescenta.
Descaso e insegurança
Inaugurado há 52 anos, o HR recebe pessoas de todo o Estado de Pernambuco. É a maior emergência pública do Norte e Nordeste do Brasil, além de ser referência no atendimento de casos de queimaduras graves, intoxicação, agressões, acidentes de trânsito e neurocirurgia.
Mas infelizmente, além do descaso, os pacientes e acompanhantes relatam superlotação, demora no atendimento e na realização de exames no HR.
Outro ponto preocupante é que o hospital tem vivenciado ainda dias de insegurança. Recentemente funcionários têm denunciado roubos dentro da unidade. Há pouco mais de um mês, trabalhadores relataram que um homem entrou facilmente nas salas e quartos de repouso do hospital para roubar objetos e dinheiro das equipes de saúde.
Questionada sobre a situações relatadas no HR, a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) responde, em nota, que "o serviço social é o elo entre acompanhantes e/ou família com os pacientes internados no hospital. Os acompanhantes de usuários internados nos leitos de enfermaria recebem informações diretamente da equipe médica. Nos locais em que não é permitida a presença do acompanhante, como a unidade de trauma, UTI (unidade de terapia intensiva) e sala de recuperação, os familiares contam com horários definidos pelo serviço social para que as informações sobre a evolução clínica sejam repassadas".
A pasta acrescenta que, quando não é possível a presença de familiares, o serviço social também disponibiliza número telefônico para que a família possa ter informações. Em relação à higiene corporal e demais cuidados com os pacientes, a SES informou que a "equipe multiprofissional segue o protocolo recomendado de acordo com o quadro clínico, com todas as ações realizadas de forma contínua".