Em menores de 6 anos, infecções graves por vírus respiratórios aumentam 25% em Pernambuco; dezenas de bebês e crianças continuam na fila de UTI
Até o momento, a terceira semana de maio foi a que teve um maior volume de notificações: 147 registros de srag em menores de 6 anos
A intensidade com que as infecções virais respiratórias têm se manifestado de maio, em Pernambuco, foi responsável pelo quadro de síndrome respiratória aguda grave (srag) em quase 400 bebês e crianças de 0 a 5 anos. O dado leva em consideração as três primeiras semanas do mês.
O número, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) a pedido da reportagem do JC, corresponde a um aumento de aproximadamente 25%, em comparação com o mesmo período do ano passado, que somou 318 casos de srag nesta mesma população infantil.
Neste mês, até o momento, a terceira semana (15 a 21 de maio) foi a que teve um maior volume de notificações: 147 registros de srag em menores de 6 anos. O mês iniciou (1º a 7 de maio) com 106 casos de srag na mesma faixa etária; a semana seguinte (08 a 14 de maio) acumulou 143 notificações. É preciso considerar que os números ainda sofrerão alterações nos próximos dias, visto que há o registro de notificações tardias por parte dos municípios.
Mesmo após o governo estadual ter aberto novos leitos de terapia intensiva (UTI) para o público infantil, Pernambuco continua a ter fila de espera por este tipo de vaga. Atualmente, segundo lista enviada pelo Estado ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), 47 crianças e 16 recém-nascidos aguardam transferência para um leito de terapia intensiva.
O que é bronquilite?
O perfil de maior gravidade das doenças respiratórias tem sido observado nas crianças menores de 2 anos, segundo relato de profissionais que atuam nas unidades de pediatria. Nessa faixa etária, a infecção tem sido causada, na maioria dos casos, pelo vírus sincicial respiratório (VSR), que causa bronquiolite (inflamação dos bronquíolos, o que aumenta a produção de secreção, dificulta a respiração, gera chiado e cansaço).
As crianças abaixo de 2 anos têm maior risco de adquirir o VSR, especialmente pela falta de imunidade contra esse vírus. É nessa fase que ocorrem as exposições aos agentes infecciosos para formar a defesa do organismo contra infecções futuras.
Além disso, nessa faixa etária, o calibre das vias aéreas é menor. Dessa maneira, a inflamação do bronquíolo leva a um estreitamento para a passagem do ar, e isso exige maior esforço respiratório para o ar entrar e sair dos pulmões.
Com o avanço das doenças respiratórias na infância, infelizmente 29 bebês e crianças até 5 anos foram a óbito em Pernambuco, em decorrência de complicações de srag não causada por covid-19. O dado leva em consideração os registros deste ano feitos até o dia 21 de maio sem relação com o coronavírus.
Outros três óbitos mais recentes nessa faixa etária, ocorridos de 22 a 24 de maio, ainda não estão no total divulgado pela pasta. Foram vidas perdidas à espera de um atendimento digno em leito de UTI, diante do cenário de avanço dos vírus respiratórios entre recém-nascidos e crianças, da dificuldade de atender esses pacientes nos hospitais, da falta de pediatras intensivistas e de cirurgiões pediátricos.
O que diz o Estado
Em meio a esse cenário de qualidade assistencial não adequada para bebês e crianças, a rede estadual conta apenas com 34 cirurgiões pediátricos lotados nos serviços. Em nota, a SES diz que o quadro de escassez de médicos dessa especialidade, como também de intensivistas pediátricos e neonatais, é uma realidade de todo o País, tanto na rede pública, como na privada.
"Para se ter ideia, em Pernambuco, que é o principal polo formador de profissionais de saúde do Nordeste e um dos principais do País, por ano, são formados, em média, apenas três cirurgiões pediátricos, dois intensivistas pediátricos e menos de 10 neonatologistas", informa a SES.
Na última semana passada, o governo estadual realizou uma nova convocação de 369 profissionais de saúde concursados, entre os quais 14 médicos pediatras e 46 fisioterapeutas, que reforçarão os plantões em unidades de referência em pediatria, como o Hospital Barão de Lucena (HBL), no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife.
A SES ainda ressalta que todas as crianças atualmente internadas, em emergências pediátricas na rede estadual de saúde, estão sendo assistidas por equipes multiprofissionais e recebendo atendimento médico. "Todas as unidades operam com sua capacidade total e não recusam nenhum paciente", diz.
A pasta frisa que os serviços de emergência pediátrica da rede estadual estão preparados para o atendimento aos pacientes em estado crítico e contam com equipes multiprofissionais 24h. "As unidades são referência no atendimento de alto e médio risco, e as salas são equipadas com ventiladores pulmonares para os casos em que há necessidade de intubação e respiração artificial", acrescenta.