COLUNA JC SAÚDE E BEM-ESTAR

Bebê de 11 meses com bronquiolite e pneumonia morre na fila de espera por leito de UTI em hospital no Recife

Paciente, que também estava com anemia, apresentou bradicardia (ritmo cardíaco irregular ou lento), tendo parada cardíaca, sem resposta a manobras

Imagem do autor
Cadastrado por

Cinthya Leite

Publicado em 23/05/2022 às 19:58 | Atualizado em 23/05/2022 às 20:48
Notícia
X

Num cenário de avanço dos vírus respiratórios entre recém-nascidos e crianças, de dificuldade de atender esses pacientes com leitos de terapia intensiva, de falta de pediatras intensivistas e de cirurgiões pediátricos, um bebê de 11 meses foi a óbito, nesta segunda-feira (23), no Hospital Barão de Lucena (HBL), na Iputinga, Zona Oeste do Recife. 

A informação foi confirmada pela Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES). A pasta informou que o paciente tinha um histórico de prematuridade (nasceu com 28 semanas de gestação) e já havia passado por três meses de internamento em unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal.

"Chegou à unidade de saúde (HBL) em estado grave. Estava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Curado (Zona Oeste da cidade) e foi transferido para a emergência pediátrica do HLB no último sábado (21) com insuficiência respiratória", diz, em nota, a SES. 

Segundo a secretaria, ele foi internado de imediato, com diagnóstico de bronquiolite viral aguda (causada pelo vírus sincicial respiratório, o VSR - que tem predominado atualmente entre as crianças com quadros respiratórios), anemia e pneumonia.

"O paciente foi intubado e colocado em ventilação mecânica. Já estava com acesso venoso central, por onde recebia as medicações. Nesta segunda (23), infelizmente, apresentou bradicardia (ritmo cardíaco irregular ou lento), tendo parada cardíaca, sem resposta a manobras." A direção da unidade acrescenta que se solidariza com a família "neste momento de dor e se coloca à disposição para qualquer tipo de esclarecimento". 

Na última semana, ao ser questionado sobre mortes neste período de aumento de casos de doenças respiratórias na infância, o secretário Estadual de Saúde, André Longo, ressaltou que, "em situações excepcionais, de epidemia, como esta que estamos vivendo, sempre haverá infelizmente perdas de vida". Ele também destacou que lamenta a ocorrência de mortes e que Pernambuco tem aumentado o volume de leitos de terapia intensiva (UTI). 

"Pernambuco tem a menor taxa de mortalidade infantil do Nordeste, justamente por causa da robustez da nossa rede de atendimento. Nós temos seguramente a maior rede de atenção pediátrica da região. Isso se reflete agora com a interiorização. Há novos leitos de UTI pediátrico onde nunca existiu, como em Araripina e em Salgueiro (cidades do Sertão)", acrescentou.  

Também no HBL, um bebê de apenas 36 dias, conforme divulgado no domingo (22) pelo JC, está à espera de uma vaga em UTI. Na manhã desta segunda-feira (23), ele passou pelo procedimento de cateterismo venoso central. A intervenção foi realizada pelo cirurgião pediátrico em bloco cirúrgico, devido ao caráter invasivo e serve para administração de terapias medicamentosas utilizadas no tratamento dos pacientes.

A direção do HBL, através da SES, reforçou ainda que o bebê segue recebendo assistência da equipe multidisciplinar, passando por avaliações da equipe médica e de enfermagem, exames e fazendo uso de medicamentos. "O paciente está listado para leito de UTI e já está com vaga reservada. Ele deve ser transferido no início da noite desta segunda-feira (23) para o Hospital Maria Lucinda, no Recife, que irá colocar em operação 10 novos leitos de UTI pediátrica a partir das 19h", garantiu a secretaria.

O Estado, segundo assegura a SES, possui a maior rede para casos de síndrome respiratória grave (srag) em crianças do Nordeste, com 273 leitos infantis, sendo 136 de UTI e 137 de enfermaria. "O governo de Pernambuco vem trabalhando de forma permanente para ampliar a rede para atender este público, de forma descentralizada e regionalizada. Desde o ano passado, o número de vagas de UTI para crianças mais que dobrou, passando de 56 leitos na sazonalidade de 2021 para 136 atualmente."

A pasta salienta, no entanto, que o cenário atual extrapola qualquer planejamento, e o número de solicitações de UTI para crianças teve aumento de três vezes em relação à sazonalidade do ano passado.

Nos últimos dias, o governo do Estado abriu 40 leitos de UTI pediátrica, sendo 10 em Araripina (Hospital e Maternidade Santa Maria) na semana passada; 10 leitos em Serra Talhada, no Hospital Eduardo Campos, na terça-feira (17); 10 na Brites de Albuquerque, em Olinda, na quinta-feira (19); e 10 no Hospital Regional de Palmares na sexta (20).

Nesta segunda (23), outros 20 leitos estão sendo abertos na Unidade Pernambucana de Atenção Especializada (UPAE) de Goiana (10), na Zona da Mata Norte, e no Hospital Maria Lucinda (10), no Recife.

Ainda nesta semana, foi acertada, junto à rede contratualizada, a criação de outros 10 leitos no Hospital Memorial Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes, e 10 no Jesus Pequenino, em Bezerros, no Agreste. Ainda há a previsão de mais 10 leitos de UTI pediátrica no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) na próxima semana.

"É importante destacar que os pacientes acompanhados nos setores de emergência dos hospitais podem ser regulados para leitos assistenciais no próprio serviço onde já estão internados, ou mesmo para outras unidades que compõem a rede estadual, dependendo do perfil clínico e da disponibilidade de leito especializado para necessidade de cada paciente", diz a SES.

Esse monitoramento, segundo acrescenta a pasta, é realizado junto à Central de Regulação de Leitos do Estado, responsável por definir o encaminhamento de pacientes aos estabelecimentos de saúde. "Esse processo é dinâmico, se renovando a todo momento, devido à disponibilidade de vagas e leva em conta a gravidade de cada caso."

Taxa de ocupação dos leitos pediátricos em Pernambuco 

Atualmente, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), Pernambuco está com 85% de taxa média de ocupação de leitos pediátricos para pacientes com quadro de srag. Dentro desse percentual, 94% em UTI e 67% em enfermaria.

Neste momento, há 63 crianças na fila de espera de leitos de UTI pediátrica e 9 bebês aguardam transferência para UTI neonatal.

 

 

Tags

Autor