Mais uma criança morre com doença respiratória em Pernambuco, e total de óbitos sobe para 45 até os 5 anos
Emergências e UTI permanecem lotadas, com bebês e crianças que apresentam complicações de doenças infecciosas
Em Pernambuco, os casos de síndrome respiratória aguda grave (srag) em bebês e crianças continuam em alta. Pediatras relatam que emergências e unidades de terapia intensiva (UTI) permanecem lotadas, com pacientes que apresentam complicações de doenças infecciosas.
Na terça-feira (7), Mirian Vitória, de apenas 5 anos, foi a óbito em decorrência do agravamento do quadro respiratório. Ela chegou a ser internada, na segunda-feira (6), na UTI pediátrica do Hospital Brites de Albuquerque, em Olinda, no Grande Recife.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a menina já chegou à unidade de saúde com quadro geral considerado grave. "A paciente já estava em ventilação mecânica e, durante o período de internação, evoluiu com dessaturação (de oxigênio), entrando em parada cardiorrespiratória. Mesmo com todos os esforços da equipe, a criança faleceu na madrugada desta terça-feira (7)", informa, em nota, a SES.
Também neste mês, após mais de 20 dias internada, a pequena Aylla Eloá, de 8 meses, foi a óbito por apresentar complicações de srag. Ela ficou três dias na fila por um leito de terapia intensiva (UTI) em Pernambuco.
Infelizmente o Estado, desde o começo de maio, passa por um momento de explosão de infecções respiratórias entre crianças, o que tem aumentado a pressão nas redes públicas e privadas.
Só este ano, até o dia 28 do último mês, foram notificados 43 mortes por srag em crianças de 0 a 5 anos de idade. Desse total, 10 tiveram confirmação para covid-19. No mesmo período do ano passado, de acordo com dados informados pela SES, foram registrados 38 óbitos por srag nessa faixa etária.
O dado total de mortes da pasta ainda não inclui as que ocorreram este mês. Portanto, até o momento, pelo menos 45 bebês e crianças desse grupo etário não resistiram ao agravamento de infecções respiratórias e foram a óbito.
Inicialmente os especialistas acreditavam que, ao atingirem o pico (o que ocorreu no início da segunda quinzena de maio), as infecções por vírus respiratórios na infância começariam a ter queda no início deste mês. Mas não é o que tem ocorrido.
No Recife, casos de broquiolite e pneumonia permanecem frequentes nas emergências de unidades como Hospital Barão de Lucena (HBL), na Iputinga (Zona Oeste), e Helena Moura, na Tamarineira (Zona Norte), e Restauração (área central da cidade).
"No Hospital da Restauração (HR), há pacientes graves, muitas crianças com pneumonias complicadas e derrame pleural, necessitando de cirurgia para descorticação pulmonar (procedimento de limpeza cirúrgica pulmonar, realizado após quadro infeccioso em alguns casos). As equipes do HR estão bem preocupadas", diz a infectopediatra Alexsandra Costa, presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe).
A médica destaca que, pelo perfil de gravidade desses casos atuais, os profissionais de saúde se organizam para tentar identificar quais fatores favorecem esse padrão de complicação que tem sido visto com maior intensidade e incidência. "É um perfil diferente do que vínhamos acompanhando em anos anteriores, incluindo até crianças de 5 a 10 anos. Diferentemente das bronquiolites, que tem acometido os menores (até 2 anos), percebemos que as crianças maiores têm agravado com pneumonias complicadas."
Nesses casos a partir dos 5 anos, Alexsandra explica que os quadros não são decorrentes de infecção viral, e sim de bactérias. "A maioria das pneumonias é causadas pelo pneumococo, e a gente está querendo descobrir o que tem ocorrido. Será que o sorotipo de pneumococo mudou? Não seria mais o sorotipo que era prevenido pelas vacinas pneumocócicas? Houve alguma modificação de perfil de sorotipo dessa bactéria? São questões que buscamos responder", destaca Alexsandra.
A infectopediatra também ressalta que outros agentes também precisam ser considerados, como os estafilococos, que também causam pneumonia. "É preciso vigiar isso. As equipes estão preocupadas e querem investigar melhor essas ocorrências", acrescenta.
Fila para vaga em leito de UTI
Atualmente, Pernambuco tem 95 bebês em crianças à espera de um leito para casos de srag. Desse total, 55 aguardam vaga de UTI infantil e 19 de UTI neonatal (para recém-nascidos). Outros 21 pacientes da pediatria esperam uma vaga de enfermaria. Os dados são divulgados pelo painel de leitos da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado (Seplag).