VARÍOLA DOS MACACOS

VARÍOLA DOS MACACOS: Nova York declara estado de emergência por causa da doença

A declaração expande o leque de profissionais que podem administrar vacinas contra a varíola dos macacos, incluindo funcionários do Serviço Médico Emergencial (EMS, na sigla em inglês), farmacêuticos e parteiras

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Amanda Azevedo

Publicado em 30/07/2022 às 19:30 | Atualizado em 30/07/2022 às 20:17
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Da Estadão Conteúdo 

A governadora do estado norte-americano de Nova York, Kathy Hochul, declarou estado de emergência diante do aumento de casos de varíola dos macacos.

A informação foi publicada no site oficial do governo nessa sexta-feira (29) e também pela governadora nas redes sociais.

"Estou declarando emergência estadual de desastre para fortalecer nossos esforços contínuos para enfrentar o surto de varíola dos macacos. Esta ordem executiva nos permite responder mais rapidamente e possibilita que profissionais de saúde tomem medidas adicionais que ajudarão a vacinar mais nova-iorquinos", afirmou a governadora.

A declaração expande o leque de profissionais que podem administrar vacinas contra a varíola dos macacos, incluindo funcionários do Serviço Médico Emergencial (EMS, na sigla em inglês), farmacêuticos e parteiras. Além disso, viabiliza médicos e enfermeiros certificados a emitir ordens de vacinas para pacientes.

"Mais de um em cada quatro casos de varíola neste país estão em Nova York, causando um impacto desproporcional em grupos de risco", destacou Hochul. O estado de emergência por causa da varíola dos macacos deve vigorar até 28 de agosto.

Brasil tem primeira morte por varíola dos macacos e cria grupo emergencial

O Ministério da Saúde criou nesta sexta-feira (29) um novo grupo emergencial para tratar o avanço da varíola dos macacos no País, que teve sua primeira morte pela doença confirmada.

O Centro de Operação em Emergências (COE) reúne representantes de diferentes setores da federação, como Anvisa, Conass e Conasems.

Mesmo com a medida, especialistas e gestores de saúde reforçam que a pasta ainda precisa ampliar sua capacidade de testagem, desenvolver campanhas públicas de conscientização com sentido de urgência e impulsionar as negociações para aquisição de vacinas contra varíola dos macacos.

Em coletiva de imprensa nesta tarde, o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, afirmou que "o grande objetivo" do COE é desenvolvermos um plano de contingência, com análise das informações epidemiológicas da doença. Ele confirmou ainda que o Brasil chegou a 1.066 casos confirmados da varíola dos macacos e que foi "verificado um aumento" do vírus em homens com menos de 18 anos.

Segundo a apresentação mostrada por Medeiros, o novo grupo também deve estabelecer os aspectos logísticos de diagnósticos e laboratórios, protocolos assistenciais e clínicos, formação e capacitação das unidades de saúde, e desenvolver uma campanha de comunicação a ser veiculada em redes sociais, rádio e TV, em parceria com a sociedade civil e a assessoria de comunicação do ministério.

"Estamos entrando em contato com a sociedade civil para entender como podemos comunicar melhor para esse grupo de homens que fazem sexo com homens as medidas de prevenção e controle", afirmou, completando que eles representam mais de 95% dos casos confirmados no mundo. "Isso é um dado epidemiológico, não é estigmatização. Eles estão em maior risco, por isso o nosso cuidado a qualquer forma de discriminação."

Muitas das medidas anunciadas nesta sexta pelo Ministério da Saúde já tinha começado com a Sala de Situação Monkeypox, cujo Plano de Desmobilização foi publicado na segunda-feira, 11. Questionada um dia depois pelo Estadão, a pasta disse que continuaria "monitorando o cenário epidemiológico" no País.

UK Health Security Agency
O paciente com varíola dos macacos desenvolve erupção cutânea - UK Health Security Agency

Mais tarde naquela mesma semana, representantes do Conass, da Anvisa e servidores do ministério foram convidados para integrar um novo grupo de aconselhamento sobre a varíola dos macacos, incluindo alguns que compunham a extinta Sala de Situação. O objetivo era apoiar e orientar as decisões do governo federal no enfrentamento da doença, com a ajuda de epidemiologistas, virologistas, infectologistas e pesquisadores de todo o País.

Um grupo no WhatsApp foi criado e duas reuniões online organizadas nas semanas seguintes. Oficialmente, nada foi anunciado pelo Ministério da Saúde e membros desse "departamento técnico assessor" ouvidos pelo Estadão apontam que ele não tinha caráter ou poder deliberativo. Questionada pela reportagem, a pasta ignorou as perguntas feitas sobre o objetivo e a composição do comitê informal.

O grupo informal teria insistido para que o Ministério da Saúde declarasse o estado de emergência pública pelo menos uma semana antes de a Organização Mundial da Saúde ter tomado a medida no último sábado. O objetivo seria liberar com celeridade a verba do orçamento destinada à aquisição de insumos para testagem e diagnóstico dos casos e ao treinamento de pessoal, que ainda não atendem à demanda do território nacional.

Hoje, apenas quatro laboratórios em São Paulo, no Rio e em Minas estão habilitados para a confirmação de diagnóstico da monkeypox Na coletiva desta tarde, Medeiros disse que há previsão de expandir esse quantitativo para as 27 unidades federativas, mas não deu um prazo para quando isso deve acontecer.

ALAIN JOCARD / POOL / AFP
Vacina contra varíola dos macacos - ALAIN JOCARD / POOL / AFP

A sugestão para ampliar a capacidade nacional de testagem e diagnóstico, assim como aprimorar o escopo clínico de investigação dos casos de varíola dos macacos já tinha sido direcionada ao ministério há pelo menos duas semanas.

Com o encerramento da Sala de Situação, o enfrentamento à varíola dos macacos no Brasil foi redirecionado para o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, que cuida das políticas direcionadas ao HIV, hepatites virais, tuberculose e outras doenças desse tipo na Secretaria de Vigilância em Saúde.

"O ministério tem um quadro técnico extraordinário, mas é necessário que toda essa cadeia receba o devido comando, então tenho certeza que ela vai responder", diz Nésio Fernandes, secretário estadual de Saúde do Espírito Santo e presidente do Conass. "Possivelmente, todos os Estados já têm transmissão comunitária e a testagem deve ser o foco agora, principalmente por não termos as vacinas."

Fernandes diz achar difícil ter o quantitativo necessário de vacinas contra varíola dos macacos nos próximos meses. "Podemos nos programar para quase um ano de enfrentamento com comunicação, testagem e isolamento." O cronograma inicial apresentado hoje pelo ministério prevê a entrega de 50 mil doses da vacina contra a varíola ao Brasil, a serem distribuídas em dois lotes de 21 e 29 mil, em setembro e novembro.

"Estamos repetindo os mesmos erros da covid", alerta a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo. "Estamos muito lentos e não conseguimos informar a população. Esses casos que temos notificados são das pessoas que têm acesso melhor ao serviço e à informação, mas certamente não são todos."

A análise é ecoada por Maria Amélia Veras, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

"Estamos diante de uma situação no Brasil que, nos últimos tempos, temos sentido muita falta de campanhas de conscientização e orientação da população sobre saúde pública. Estamos vendo uma repetição do que aconteceu com a vacinação da covid, quando tínhamos doses e não tínhamos campanha", aponta. "Precisamos ter comunicação clara, rede de serviços onde as pessoas possam ir e os profissionais saibam do que se trata (a monkeypox). Acabamos de ter uma nova doença e não teve treinamento adequado dos profissionais. Nesse momento, é importante que serviços de referência sejam identificados, embora não tenha que ficar restrito isso."

Para o presidente do Conass, ainda é necessário pensar em algum tipo de seguridade social para as pessoas que se infectarem pela varíola dos macacos.

"A comunicação de risco e suspeita clínica está defasada, assim como a nossa capacidade de poder testar. Mas suponhamos que temos uma capacidade extraordinária e ampla, como vamos fazer para que caminhoneiros, profissionais da construção civil, diaristas, professores etc. mantenham o isolamento indicado de 40 dias?", questiona.

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