HOSPITAL FECHA AS PORTAS

Todos os 48 médicos de hospital de retaguarda são demitidos; outros 121 profissionais vão para demais serviços de Pernambuco

Desligamento foi confirmado pela Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes (FGH), organização social de saúde responsável pelo gerenciamento do Hospital de Retaguarda em Neurologia

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 23/06/2023 às 15:38 | Atualizado em 23/06/2023 às 17:42
MIVA FILHO/SES
Entre diaristas e plantonistas, o HRN contava com uma equipe de 48 profissionais médicos, incluindo clínicos, uteístas e neurologistas - FOTO: MIVA FILHO/SES

Com o fechamento do Hospital de Retaguarda em Neurologia, no Prado, Zona Oeste do Recife, a Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes (FGH) informou à reportagem do JC que todos os 48 médicos que atuavam na unidade foram desligados.

A FGH é a organização social de saúde (OSS) responsável pelo gerenciamento do HRN, como também pelo Hospital Pelópidas Silveira, que oferece atendimento de urgência e emergência em neurologia. 

Em nota, a assessoria de comunicação da FGH esclarece que, com o fim do contrato de gestão da unidade, tem trabalhado em sua desmobilização, o que inclui o encerramento de contratos de trabalho, bem como de prestação de serviços

"Especificamente em relação aos médicos, a FGH esclarece que, entre diaristas e plantonistas, o HRN conta com uma equipe de 48 profissionais, incluindo clínicos, uteístas e neurologistas. Com o fechamento da unidade, todos estão tendo seus contratos encerrados até o dia 30 de junho", informou. 

A nota ainda acrescenta que parte dos profissionais não médicos que trabalhava no Hospital de Retaguarda em Neurologia (HRN) já foi encaminhada para outras unidades de saúde

"A FGH reforça que trabalha para manter o máximo de profissionais da unidade em sua rede. Dos 232 colaboradores que atuavam no HRN, um total de 121, ou seja, mais de 52%, já foram transferidos para outros serviços de saúde da rede." 

A organização social acrescenta que a expectativa é que, "com a abertura de 30 leitos de neurologia no Hospital Alfa, a partir do dia 1º de julho, esse número suba ainda mais".

A reportagem do JC entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), para saber a posição da autarquia sobre o desligamento dos 48 médicos. A assessoria de comunicação do Cremepe informou que o órgão não foi comunicado pela Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes (FGH) sobre o encerramento de contrato de trabalho dos médicos. Dessa maneira, o Cremepe disse que só falaria sobre o assunto na segunda-feira (26).

Procuramos também a diretoria do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), que acompanha a situação do HRN.  

"A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) havia nos informado que parte dos médicos seria transferida para o Alfa, também administrado pela FGH. Mas isso não ocorreu. Lamentamos que profissionais tão bem capacitados, que atendem pacientes com quadros neurológicos como AVC, sejam desligados dessa forma. Alguns têm 30 anos nesse tipo de assistência", destacou o neurologista Marcílio Oliveira, diretor do Simepe

ENTENDA O CASO DO HOSPITAL DE RETAGUARDA EM NEUROLOGIA

O Hospital de Retaguarda em Neurologia (HRN), no Prado, Zona Oeste da cidade, será fechado oficialmente no próximo dia 30. 

Aberto em março de 2022 para evitar o colapso do Hospital da Restauração (HR), que é a maior emergência pública do Norte e Nordeste do Brasil, o HRN operava com 75 leitos de enfermaria e 10 vagas de terapia intensiva (UTI).

Com o fechamento do hospital, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) informou, no último dia 20, que fez uma reestruturação dos leitos públicos voltados para pacientes com quadros neurológicos.

Em nota, a pasta destacou que o antigo Alfa (Hospital Nossa Senhora das Graças), na Zona Sul do Recife, ganhará mais 30 vagas de enfermaria.

E o Hospital do Tricentenário, em Olinda, terá 20 novos leitos - também de enfermaria.

Além disso, a SES-PE confirmou ao JC, na noite da quinta-feira (22), que 20 leitos de enfermaria foram contratualizados como retaguarda em neurologia para a rede estadual, no Hospital De Ávila (da rede privada), na Madalena, bairro da Zona Oeste da capital.

A SES-PE garante que, com essa reestruturação, os pacientes da neurologia não sofrerão com desassistência.

Mas, e os 10 leitos de UTI que eram operados no hospital de retaguarda? Esses ainda não foram distribuídos na rede. O déficit permanece. 

Uma médica ouvida pela reportagem do JC, nesta sexta-feira (23), informou que as duas urgências em neurologia do Estado (Hospital Pelópidas Silveira e Restauração) permanecem com dezenas de pacientes nos corredores. O fechamento do HRN leva ambas as unidades, que sempre tiveram grande demanda, a uma superlotação.  

HOSPITAL DE RETAGUARDA ENCERRA ATIVIDADES: "FECHAMENTO É IRREVERSÍVEL", DIZ PRESIDENTE DO CREMEPE 

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Maurício Matos, e o 1º secretário da autarquia, André Dubeux, reuniram-se, na quinta-feira (22), com a secretária de Saúde do Estado, Zilda Cavalcanti. 

Eles debaterem sobre o fechamento do Hospital de Retaguarda em Neurologia (HRN) e ações em andamento e as que ainda serão realizadas pela, Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), para garantir a assistência aos pacientes pernambucanos.

A reunião contou com a presença do setor jurídico da secretaria, que passou informações sobre as causas que levaram o governo do Estado a fechar o hospital de retaguarda.

Entre os motivos, está principalmente o fato de não haver segurança jurídica para contratualização do aluguel do imóvel, segundo a SES. "Entendemos, dessa maneira, que o fechamento do hospital de retaguarda é irreversível", disse Maurício

O presidente do Cremepe ressaltou que a autarquia realizará fiscalização nas unidades indicadas com os novos leitos para pacientes com quadros neurológicos. 

"A secretaria alegou também que, no HRN, os pacientes não contavam com exames de imagens, como tomografia e ressonância magnética, hemodiálise e laboratório 24 horas, a exemplo do Alfa. Por isso, só eram atendidos pacientes de baixa complexidade", ressaltou Maurício Matos. 

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