Pessoas com TDAH têm mais chances de desenvolver demência, alerta psiquiatra
Referência mundial na área, psiquiatra Luis Augusto Rohde traçou panorama do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade durante debate no 40º Congresso Brasileiro de Psiquiatria
Por Malu Silveira, em colaboração para o JC
SALVADOR (BA) - Pessoas com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) têm mais chances de desenvolver demência na velhice. Esse foi um dos alertas feitos pelo psiquiatra gaúcho Luis Augusto Rohde, um dos mais importantes especialistas no tema em todo o mundo, em debate voltado para a imprensa na 40ª edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria (CBP).
O encontro terminou, no último sábado (21), em Salvador e reuniu profissionais de diversos Estados, além de convidados estrangeiros.
Embora seja diagnosticado com maior frequência na infância e na adolescência (estimativas apontam para uma prevalência em 5% nessa fase da vida), o TDAH também pode ser detectado na fase adulta (a incidência cai pela metade, para 2,5%), inclusive em idades mais avançadas.
Um estudo publicado, neste mês de outubro, no periódico científico JAMA Network Open, apontou que adultos diagnosticados com TDAH têm quase três vezes mais probabilidade de desenvolver demência, em comparação com outras a população em geral. O acompanhamento periódico com profissionais atentos pode fazer a diferença.
De acordo com o estudo, o TDAH pode levar a um processo neurológico que reduz a capacidade de compensar os efeitos do declínio cognitivo.
"Em adultos, por exemplo, a hiperatividade motora diminui e passa a ser o que chamamos de uma inquietude interna. Os pacientes relatam que só conseguem desempenhar suas funções quando estão muito motivados ou quando estão pressionados. Há uma dificuldade de manter a atividade do córtex pré-frontal, o que é associado ao transtorno", diz Luis Augusto Rohde, eleito presidente da Associação Mundial de Psiquiatria da Infância e Adolescência e Profissões Afins (IACAPAP).
A ideia de que atualmente exista um excesso de diagnósticos de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade também foi abordada pelo psiquiatra durante o congresso. "Precisamos ter cuidado com a associação de causa e efeito que não reflete a realidade. O que existe, de fato, é um aumento de diagnóstico clínico, mas quando observamos os dados, notamos que não há um aumento real da prevalência do TDAH na população", explicou Rohde.
"O que a gente percebe hoje é que há um processo de diagnóstico muito rápido em algumas situações. Um bom processo de avaliação implica uma consulta na qual possamos ter acesso a uma história detalhada do desenvolvimento da criança, entendendo como os sintomas impactam na vida dela neste momento", ressaltou o psiquiatra, que também coordenador-geral do Programa de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
"Tudo deve ser contextualizado com a história médica e familiar da criança, além de poder entrar em contato com outras áreas da vida deste paciente, como a escola. É preciso investiga com os professores como esses sintomas se manifestam no ambiente escolar. É um processo mais cuidadoso, que pode requerer mais de uma consulta de avaliação. Isso vai nos levar a um diagnóstico preciso do TDAH."
Além disso, Rohde acrescentou que é importante reforçar que não existe nenhum exame que confirme o diagnóstico da doença. "Por isso, é fundamental uma boa avaliação do quadro clínico."
O tratamento deve incluir o uso de medicamentos e intervenções não farmacológicas. Mudanças no estilo de vida, como a prática regular de exercício físico, são fundamentais.
"Para as crianças e adolescentes, também é indicado o treinamento parental, o que ajudará os pais com os comportamentos do filho", reforça Rohde.