Testosterona ajuda a aumentar libido na menopausa, mas só é indicada em poucos casos
Médica da Mayo Clinic, nos EUA, participa de evento no Recife e debate sobre reposição da testosterona. "Deve-se evitar uso do hormônio a toda hora"
A testosterona é um hormônio presente em homens e, em menor quantidade, também nas mulheres. A reposição dessa substância tem crescido, nos últimos anos, como uma forma de recuperar a libido feminina na menopausa. Sobre o tema, há muitas controvérsias em todo o mundo. A discussão ganha vez durante o Diabetes & Metabolism in Debate - 28º Fórum Internacional de Diabetes e Cárdio-metabolismo, que conta com programação até este sábado (6) no Mar Hotel Conventions, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife.
Durante as mesas-redondas, a médica Jewel Kling, líder em medicina interna e saúde da mulher da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, falou sobre benefícios da reposição da testosterona em mulheres e cuidados que se deve adotar com esse tipo tratamento.
A médica também trouxe para o evento uma discussão atual sobre depressão, ansiedade e disfunções sexuais durante a menopausa - uma fase em que ocorre redução significativa na produção de hormônios como o estrogênio e a progesterona. Essa queda hormonal pode levar a diversas alterações físicas e hormonais, com impacto na libido e na satisfação sexual das mulheres. Esse contexto reforça a importância do acompanhamento médico das mulheres nesse período da vida.
"De 50% a 60% das mulheres apresentam sintomas de ansiedade na menopausa. Os hormônios ajudam (no controle desse quadro). Mas, se passar um ano da menopausa e os sintomas de depressão e ansiedade continuarem, o tratamento não é mais hormonal; é tratamento clássico para ansiedade e depressão", disse Jewel Kling, em entrevista ao JC.
Ela ressaltou que o médico deve analisar se os sintomas (de ansiedade e depressão) são associados à menopausa em si ou a outras condições. "É preciso ter atenção ao sono, à secura vaginal. Muitas mulheres ficam de mal-humor por causa disso e deixam de ter orgasmo. Entram, então, nos 12% de mulheres na menopausa com baixa libido associada a estresse. É importante frisar que só é considerado transtorno nessa situação de queda de desejo sexual relacionada ao estresse. Sem ele, isso não é considerado uma disfunção", explica Jewel.
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Em geral, a menopausa se manifesta entre os 50 e 55 anos e marca o término da fase reprodutiva feminina. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que o Brasil tenha aproximadamente 29 milhões de mulheres que estejam no climatério ou na menopausa, o que representa 7,9% da população feminina do país.
"Para mulheres na menopausa, a reposição da testosterona existe há um tempo. Mas só há uns três anos ganhou mais força, porque foi feito um estudo na Austrália, com 8 mil mulheres, que analisou o uso da testosterona para a baixa libido", disse Jewel.
A médica salienta que a maioria dos tratamentos usa estrogênio associado, algumas vezes, à progesterona. "Mas há muitas outras técnicas, como a testosterona. Mas é importante frisar que, como a indicação ainda é muito restrita, para baixa libido apenas, e a questão das funções sexual em mulheres é muito complexa, evita-se usar testosterona a toda hora."
De acordo com Jewel, a dose da testosterona para mulheres na menopausa (uso off-label - fora da bula) corresponde a um décimo da dose que seria dada a homens. "A reposição é por via transdérmica, gel. Não se faz via oral, pois pode afetar o colesterol."
A médica lista ainda os sintomas bem típicos da menopausa: ansiedade, mau-humor, irritabilidade. "Destacamos também o suor noturno, que impede a mulher de dormir. Ela pode piorar, fica cansada, com dor nas juntas e não consegue raciocinar direito. O tratamento traz benefícios e leva a desaparecimento dos sintomas. É importante considerar isso porque vai empoderar a mulher."
A maioria das mulheres (70%) na menopausa têm sintomas leves, segundo Jewel. O restante, 30%, apresentam quadros mais graves. "Em algumas situações, as mulheres chegam a sentir um impacto negativo no trabalho, em torno de 40% delas. Outros 10% têm problema mesmo, a ponto de faltar."
Em relação a terapias não hormonais, a médica destaca a terapia cognitiva-comportamental pode ajudar as mulheres, assim como a hipnose e o Vioza. "Esta é uma medicação aprovada recentemente, pela FDA (Food and Drug Administration), e que ajuda a controlar sintomas como as ondas de calor."
“A matéria apresentada neste portal tem caráter informativo e não deve ser considerada como aconselhamento médico. Para obter informações fornecidas sobre qualquer condição médica, tratamento ou preocupação de saúde, é essencial consultar um médico especializado.”