DOENÇA RESPIRATÓRIA | Notícia

Coqueluche em adultos ressurge em Pernambuco e acende alerta; veja como se proteger

SES-PE diz que já são 11 notificações da doença em adultos neste ano. No mesmo período de 2023 e 2024, não houve registro para a mesma faixa etária

Por Cinthya Leite Publicado em 25/02/2025 às 17:42

Historicamente associada a crianças, a coqueluche tem se tornado mais frequente em várias partes do mundo, com um incidência preocupante em adultos. Popularmente conhecida como tosse comprida, a doença é uma infecção respiratória altamente contagiosa causada pela bactéria Bordetella pertussis

À coluna Saúde e Bem-Estar, do JC, o médico pneumologista Alfredo Leite informou que tem acompanhado, no dia a dia de consultório, pacientes adultos com quadros de coqueluche.

"Nas últimas três semanas, testei seis pessoas. Todas com resultados laboratoriais positivos. São adultos entre 45 e 60 anos, com muita tosse e sufocação durante os acessos (crises). Não me parecem casos isolados", alerta o pneumologista, que atende na rede privada de saúde e é chefe da Pneumologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Recife. 

O médico explica que esse cenário é reflexo da queda da imunidade do adulto que se vacinou contra coqueluche na infância. "A imunidade não é para sempre." Assim, pessoas que tiveram coqueluche ou que foram vacinadas quando criança podem apresentar reinfecção pela Bordetella pertussis

 

JC PLAY/REPRODUÇÃO
"Nas últimas três semanas, testei seis pessoas. Todas com resultados positivos. São adultos entre 45 e 60 anos, com muita tosse e sufocação durante os acessos (crises). Não me parecem casos isolados", alerta Alfredo Leite - JC PLAY/REPRODUÇÃO

Para compreender como estão as notificações de coqueluche em Pernambuco, o JC entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). Segundo os dados da pasta, até o dia 15 de fevereiro, foram notificados 11 casos suspeitos de coqueluche em adultos (20 anos ou mais) neste ano de 2025. Desse total, dois foram confirmados.

Um detalhe importante é que, no mesmo período de 2023 e 2024, não houve notificação de casos para a mesma faixa etária.

"No início do segundo semestre de 2024, com o aumento de casos no País, foi realizado um webinar para atualização dos profissionais da rede de todo o Estado sobre a doença, imunização e vigilância epidemiológica da coqueluche, com o objetivo de maior sensibilização para um olhar mais atento à necessidade de notificar casos suspeitos", diz, em nota, a SES-PE. 

A pasta assegura que, "até o presente momento, apesar de mais casos serem notificados, não houve um número de registros que superasse expressivamente o total de casos esperados". 

A questão é que os casos em adultos certamente são subestimados e subnotificados, já que o diagnóstico da coqueluche em estágios iniciais é difícil. Os sintomas podem parecer como resfriado ou até mesmo outras doenças respiratórias. A tosse seca é um forte indicativo da coqueluche.

Diagnosticar nessa faixa etária é necessário. Os adultos são vetores silenciosos e podem transmitir a bactéria da coqueluche para grupos mais suscetíveis a complicações da doença, como bebês com menos de 1 ano, gestantes, pessoas imunocomprometidas e indivíduos com asma moderada ou grave.

Para confirmar o diagnóstico, o médico pode pedir os seguintes exames: coleta de material de nasofaringe para cultura e PCR em tempo real.

É preciso ainda ficar atento ao tempo adequado para se fazer o diagnóstico laboratorial. A coleta da secreção da nasofaringe deve ser realizada antes do início do tratamento com antibióticos ou, no máximo, até três dias após seu início, de acordo com o Ministério da Saúde. Como exames complementares, podem ser realizados hemograma e raio-x de tórax.

"A pessoa com coqueluche apresenta, a partir da segunda semana de doença, o que chamamos de tosse ladrante - ou 'tosse de cachorro'. Há presença de um ataque de tosse, e não se consegue respirar entre as tossidas. Por isso, o doente faz um guincho (ruído durante a inspiração) para recuperar o fôlego", explica Alfredo Leite. 

O pneumologista acrescenta que esses casos vêm com paroxismos de tosse - ou seja, crises de tosse súbita, incontroláveis e rápidas que podem causar vômitos. Durante essas crises a pessoa pode ter dificuldade para inspirar, apresenta rosto vermelho ou azulado (cianose).

"O paciente com coqueluche precisa tomar antibiótico para diminuir a duração dos sintomas e a transmissão. É importante iniciar esse tratamento até o fim da primeira semana (de doença). Se a doença não for identificada e nem tratada, são dois meses de tosse. É um quadro bem desgastante."

Segundo Alfredo Leite, a coqueluche traz menos complicações para o adulto, em comparação com os quadros que ocorrem na infância, mas "maltrata bastante" o paciente.

A maioria das pessoas consegue se recuperar da coqueluche sem sequelas e maiores complicações. No entanto, nas formas mais graves podem ocorrer quadros mais severos. Em crianças, especialmente as menores de seis meses, as complicações são mais graves e podem incluir infecções de ouvido, pneumonia e convulsão. 

O pneumologista orienta sobre o momento de procurar um médico. "Em casos de tosse que demora mais de cinco dias, especialmente se esse sintoma só piora, é preciso procurar atendimento. Outro alerta é para o fato de os demais sintomas (febre, coriza e mal-estar geral) irem embora e a tosse só agravar. O tratamento se faz essencial", orienta Alfredo. 

A vacinação é o principal meio de prevenção da coqueluche. Crianças de até 6 anos, 11 meses e 29 dias devem ser vacinadas contra a coqueluche. O Sistema Único de Saúde (SUS) também oferta a vacina recomendada a mulheres gestantes (a cada gravidez), todos os profissionais da saúde e parteiras tradicionais.

A imunização ainda está disponível para estagiários da área da saúde que atendem recém-nascidos em berçários, maternidades e unidades de internação neonatal. 

Dados gerais de coqueluche em Pernambuco 

A Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informa que, até o dia 15 de fevereiro, foram notificados 50 casos suspeitos de coqueluche em 2025. Entre eles, 16 casos em menores de 1 ano, oito casos de 1 a 4 anos, três casos de 5 a 9 anos, 14 casos de 10 a 19 anos e nove casos em maiores de 20 anos.

Até o momento, foram confirmados sete casos: dois em menores de 1 ano, um entre 1 e 4 anos, dois casos de 10 a 19 anos e dois em maiores de 20 anos.

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