PRÉVIAS DE CARNAVAL

CARNAVAL 2023: Polícia interrompe prévia do John Travolta, em Olinda, e gera indignação de agremiações

Cortejo do tradicional bloco John Travolta foi interrompido por conta de medida da Prefeitura de Olinda, que determinou limite de horário para blocos após cenas de violências nas prévias de 2023; agremiações criticam decisão

Emannuel Bento
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Emannuel Bento
Publicado em 23/01/2023 às 15:21 | Atualizado em 23/01/2023 às 16:06
ANIZIO SILVA/PREFEITURA DE OLINDA
CARNAVAL Boneco do John Travolta nas prévias do Carnaval de Olinda, em 2014 - FOTO: ANIZIO SILVA/PREFEITURA DE OLINDA

A prévia do tradicional bloco T.C.M. John Travolta, com 45 anos de história em Olinda, terminou de forma inesperada na noite do último domingo (22), no Sítio Histórico. Após sair do Clube Atlântico, a agremiação passava pela Rua do Amparo, em rumo ao Largo de Guadalupe, quando policiais militares exigiram o encerramento do cortejo.

De acordo com músicos da orquestra do Maestro Oséas, que tocava no desfile, a polícia tomou o instrumento de um músico e chegou a informar que quem continuasse tocando seria detido.

O episódio ocorreu como consequência de uma medida da Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo de Olinda (Sepactur), que orientou as agremiações a encerrarem os ensaios até 19h. A recomendação foi feita após constantes cenas de violência na Cidade Alta.

"Eles chegaram no meio da orquestra e decretaram o fim do cortejo. Não foi educado. Uma policial meteu a mão na batida [instrumento para tocar o bumbo] de um músico. Isso, para mim, não existe", diz Robson Leão, músico da orquestra e filho do Maestro Oséas.

"A gente vive da cultura. Passamos dois anos sem festas. Quando volta, volta com uma norma dessas. E ainda com policiais sem educação. Primeiro, o problema foi o modo como ocorreu essa abordagem. Não pode. Segundo, Olinda é uma cidade turística e que vive da cultura. Não pode acabar com o bloco na hora que eles querem", contesta.

Eraldo Gomes, presidente do John Travolta, disse que tentou negociar que o bloco tivesse mais 20 ou 30 minutos de desfile, o que não foi aceito. Ele admite que a saída da agremiação atrasou entre 10 e 15 minutos. "A abordagem foi agressiva, tanto que Maestro Oséas saiu chorando, decepcionado com a Polícia", diz Gomes.

"Eu já havia tido uma reunião com o pessoal da Prefeitura e abri mão do lugar em que o bloco acaba todos os anos para que ele acabasse mais cedo. Escolhemos o Largo de Guadalupe justamente por isso. Para mim, o que ocorreu ontem foi péssimo. O John Travolta tem 45 anos. Todo mundo do bairro fica esperando o boneco passar."

Após a saída da orquestra, moradores do entorno chegaram a colocar frevos em caixas de som para que o bloco continuasse. Contudo, a organização optou por não seguir. "Nunca teve isso em Olinda. Nunca aconteceu isso", diz o presidente.

Os relatos causaram incômodo entre líderes e agremiações de músicos que trabalharam durante o período das prévias.

Anax Botelho, da diretoria do Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda, explica que todas as agremiações enviam ofícios sobre horários de desfiles para que o poder público se prepare. "Nós temos os nossos horários tradicionais. Não recebemos bem essa imposição de horário com a desculpa da segurança. As agremiações não são culpadas pela violência, isso é de responsabilidade da segurança pública", diz.

"Ficamos muito tristes com o que ocorreu com o John Travolta, que é uma agremiação parceira. É uma tradição histórica da cidade, não se acaba com ela no meio da rua. Se isso ocorreu com esse bloco, pode ocorrer com qualquer outro", opina o diretor, informando ainda que uma reunião com a Prefeitura de Olinda deve ocorrer na quinta-feira (26).

O vereador de Olinda Vinicius Castello (PT) também se pronunciou nas redes sociais. "Estou fazendo um pedido de informação à Prefeitura, Secretaria de Cultura de Pernambuco, FUNDARPE e Secretaria de Defesa Social para saber de quem é a responsabilidade pelo abuso de autoridade e pela tentativa de acabar com a tradição das prévias do carnaval de Olinda."

Em notas enviadas à reportagem, a Prefeitura e a Polícia Militar mostram visões divergentes sobre a medida. A gestão municipal pede "sensibilidade para garantir a segurança, mas sem limitar o cortejo completo das agremiações". Já a PM diz que "cortejos, ensaios e agremiações carnavalescas se encerrariam às 19h". 

PREFEITURA DE OLINDA DIZ QUE NÃO ORDENOU O ENCERRAMENTO

Em nota, a Prefeitura de Olinda esclareceu que "não direcionou qualquer tipo de recomendação para o encerramento do cortejo da agremiação supracitada". "A gestão do município reforça, ainda, que também não expediu ordem para o recolhimento dos instrumentos, lamentando o ocorrido".

A gestão ainda informou que recebeu representantes da T.C.M. John Travolta, assim como de outras troças e orquestras, no próprio domingo (22). Uma conversa ocorreu entre o prefeito Professor Lupércio e demais secretários envolvidos na estrutura do ciclo festivo na cidade.

"Os gestores se solidarizaram com os carnavalescos e garantiram a saída da T.C.M John Travolta, no próximo domingo (29), completando o percurso que foi interrompido. Vale ressaltar, que a recomendação de horário de encerramento de prévias é fruto de acordo mediado pelo Ministério Público, devendo ser empregado com sensibilidade para garantir a segurança, mas sem limitar o cortejo completo das agremiações. O ajustamento deve respeitar, além dos laços culturais, as relações dos movimentos com a comunidade local", encerra a nota.

O QUE DIZ A POLÍCIA MILITAR

Já a Polícia Militar informou que uma decisão conjunta entre a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, a Prefeitura de Olinda, a Polícia Militar de Pernambuco, o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco, a Polícia Civil e demais operativas envolvidas nos eventos de pré-carnaval, resolveu que os cortejos, ensaios e agremiações carnavalescas se encerrariam às 19h.

"Semanalmente são realizadas reuniões com a Secretária de Cultura do Município e envolvidos nos eventos de pré-carnaval, onde eles tomam conhecimento das diretrizes, direitos e obrigações a serem cumpridas e respeitadas, a fim de realizar o evento", informa.

"Os organizadores do referido bloco tinham conhecimento do horário de encerramento e foram orientados para adequarem os seus horários de concentração, saída do bloco, cortejo pelas ruas do Sítio Histórico e encerramento no Guadalupe. Porém, não cumpriram o que ficou acordado e foram determinados a encerrar o bloco na Rua do Amparo, local onde o Bloco se encontrava quando o horário foi encerrado."

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