Chacina em Camaragibe: policiais militares são alvos de operação nesta terça-feira (24)
A pedido do Ministério Público, estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão com apoio da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social
Uma operação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) foi deflagrada, nesta terça-feira (24), para avançar nas investigações da sequência de assassinatos ocorridos após as mortes de dois policiais militares que entraram em confronto com um suspeito no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife, em setembro deste ano. PMs estão entre os alvos dos mandados de busca e apreensão.
A operação relacionada à "Chacina de Camaragibe", como o caso ficou conhecido, foi autorizada pela Justiça a pedido de promotores do MPPE que instauraram um Procedimento de Investigação Criminal - em paralelo ao inquérito da Polícia Civil - para apurar os crimes ocorridos nas cidades de Camaragibe e Paudalho.
Horas após as mortes de dois policiais, três irmãos, a mãe e a companheira do suspeito foram mortos. Posteriormente, o suspeito também foi atingido por tiros em suposto confronto com policiais.
"O Ministério Público tem acompanhado o trabalho desenvolvido pela Polícia Civil, mas sem perder de vista sua autonomia investigatória, em especial se considerada sua tarefa constitucional de controle externo da atividade policial, prevista no art. 129, VII, da Constituição Federal", disse o comunicado da assessoria do MPPE.
"Foram requeridas medidas cautelares ao Poder Judiciário a fim de possibilitar uma compreensão mais aprofundada de como os fatos ocorreram e de quem deles, em tese, teve alguma participação. O cumprimento das ordens judiciais se deu dentro dos parâmetros constitucionais, foi coordenado por membros do Ministério Público e, pela sua dimensão, contou com o apoio da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social", completou.
O MPPE não informou quais são os locais onde estão sendo cumpridos os mandados de busca e apreensão. Também não há informações de cumprimento de mandados de prisão.
"Em face do sigilo sob o qual tramitam as diligências, não há possibilidade de serem divulgadas maiores informações", informou a assessoria.
Em paralelo ao trabalho dos promotores de Justiça, um inquérito policial está sob a responsabilidade do Grupo de Operações Especiais (GOE). Nessa segunda-feira (23), quatro PMs prestaram depoimento.
O caso voltou aos holofotes após a confirmação da morte da mulher grávida que foi feita de escudo humano e acabou atingida com um tiro na cabeça na noite de 14 de setembro. Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, faleceu nesse sábado (21), no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), na área central do Recife, onde deu à luz o bebê.
ENTENDA A CHACINA EM CAMARAGIBE
A informação inicial repassada pela polícia, na época dos fatos, foi de que o soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, 38, foram até Tabatinga verificar uma denúncia de que um homem estaria em cima de uma laje realizando disparos de arma de fogo.
Quando os policiais chegaram ao local, houve troca de tiros com o vigilante Alex da Silva Barbosa, que teria feito Ana Letícia de escudo humano.
Os dois PMs morreram, e Alex conseguiu fugir. Além de Ana, o primo dela (um adolescente de 14 anos) foi baleado, mas sobreviveu. Em depoimento, ele contou que foi agredido pelas costas e atingido com um tiro na nuca disparado pelos policiais.
Após a morte dos militares, começou uma sequência de assassinatos de parentes de Alex na madrugada do dia 15 de setembro.
Três irmãos de Alex identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25, foram baleados por volta das 2h.
Ágata transmitiu ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife.
Por volta das 9h do mesmo dia, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado.
Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga. A PM alegou que houve uma abordagem e que ele teria reagido, resultando na troca de tiros.
ALEX TINHA REGISTRO DA ARMA DE FOGO
Investigações apontaram que Alex não tinha antecedentes criminais. Ele tinha direito ao uso de arma de fogo porque estava registrado como vigilante no Sistema Nacional de Armas e tinha Certificado de Registro de Arma de Fogo (Craf), indicando ser proprietário de uma pistola.