INVESTIGAÇÃO

Laudo médico diz que homens baleados por PMs do Bope chegaram sem vida no hospital

Policiais são suspeitos de fraude processual, pois deveriam ter mantido os corpos das vítimas na casa onde foram mortos, na comunidade do Detran, até a chegada da perícia

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Raphael Guerra

Publicado em 24/11/2023 às 10:09 | Atualizado em 28/11/2023 às 15:27
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Os policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) envolvidos na ação que resultou nas mortes de dois homens na comunidade do Detran, na Iputinga, Zona Oeste do Recife, na noite da segunda-feira (20), também estão sendo investigados por suspeita de fraude processual. 

O laudo médico anexado ao auto de prisão em flagrante indicou que Bruno Henrique Vicente da Silva, de 28 anos, e Rhaldney Fernandes da Silva Caluete, 32, já chegaram mortos à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá. 

Em tese, se os homens foram mortos ainda na casa onde estavam, os corpos deveriam ter sido mantidos no local para a realização da perícia. O cenário onde há mortes não pode ser alterado, sob o risco de atrapalhar as investigações e, consequentemente, os responsáveis responderem pelo crime de fraude processual. 

SUSPEITA DE AO MENOS TRÊS CRIMES

Na decisão judicial que determinou a prisão preventiva de seis dos nove policiais militares do Bope envolvidos nas mortes, a juíza Blanche Pontes Matos destacou que há indícios de que eles tenham cometido ao menos três crimes. 

"Os documentos, mormente a informação médica de que as vítimas já chegaram em óbito ao hospital, as fotografias e imagens de vídeo juntadas aos autos, e a documentação acostada trazem indícios de cometimento de crimes de violação de domicílio qualificada (art. 226, §§1º e 2º, CPM), de descumprimento de missão (art. 196, CPM) de suposta fraude processual (art. 347, parágrafo único, CP), que resultou na morte de duas pessoas suspeitas de cometimentos de crimes, o que será melhor apurado durante a instrução criminal, inclusive no tocante à ocorrência ou não de homicídio doloso", afirmou a magistrada, na decisão. 

Imagens mostraram o momento em que os policiais chegaram e arrombaram a porta da casa onde estavam as vítimas. Mulheres e crianças foram tiradas do local e, depois, houve os disparos de tiros. Momentos depois, os militares saíram da residência com os corpos. Participaram da ação dois sargentos, dois cabos e cinco soldados. 

Os PMs alegaram que houve uma troca de tiros, mas familiares das vítimas negaram essa versão. 

PRISÕES E LIBERDADE PROVISÓRIA

Estão presos preventivamente os PMs Carlos Alberto de Amorim Júnior, Ítalo José de Lucena Souza, Josias Andrade Silva Júnior, Brunno Matteus Berto Lacerda, Rafael de Alencar Sampaio e Lucas de Almeida Freire Albuquerque Oliveira. Os seis teriam entrado na casa onde os homens foram mortos.

Eles estão no Centro de Reeducação da Polícia Militar de Pernambuco (Creed), em Abreu e Lima.

Já os PMs Jonathan de Souza e Silva, Carlos Fonseca Avelino de Albuquerque e Valdecio Francisco da Silva Júnior receberam liberdade provisória, a pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que entendeu que eles não estavam na casa no momento dos tiros.

Mas esses policiais terão que cumprir três medidas cautelares: comparecimento ao juíza mensalmente para informar e justificar suas atividades; proibição de acesso ou frequência ao local onde ocorreu o fato e suas proximidades; suspensão de suas atribuições, devendo suas atividades se restringirem à área interna dos seus batalhões e sem uso de arma de fogo.

As armas de fogo usadas por todos os policiais foram recolhidas ainda na noite da segunda-feira e passam por perícia. 

INVESTIGAÇÕES EM ANDAMENTO

Há três investigações em andamento para esclarecer a conduta dos PMs. A primeira é um inquérito policial militar, já que o grupo é suspeito de praticar um crime militar (violação em domicílio). 

A segunda é da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), que apura o caso no âmbito administrativo. Ao final, a depender da gravidade, os suspeitos podem até ser expulsos da Polícia Militar.  

Por fim, a terceira investigação é da Polícia Civil, responsável por investigar as duas mortes durante a ação dos policiais. 

Dois promotores de Justiça foram designados pela Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar as investigações. 

VÁRIOS MORTOS EM AÇÕES POLICIAIS NOS ÚLTIMOS DIAS

Nos últimos dias, outras três ações policiais resultaram em oito mortes de supostos bandidos

No último sábado (18), três homens foram mortos após supostamente trocarem tiros com policiais militares na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas, na cidade de Ipojuca. A PM alegou que os homens eram suspeitos de integrar uma facção especializada no tráfico de drogas.

Na sexta-feira (17), a troca de tiros ocorreu em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. De acordo com a versão da Polícia Militar, uma equipe da Companhia Independente de Policiamento com Cães (CIPCães) recebeu a denúncia de um veículo que estava realizando direção perigosa no bairro do Vasco da Gama.

Os militares teriam sido recebidos a tiros ao localizarem o carro em Casa Amarela. Os PMs reagiram e mataram os dois homens. Ainda de acordo com a versão oficial, no carro dos suspeitos foram encontrados um pistola calibre .40, três carregadores, munições e cápsulas deflagradas.

Na troca de tiros, uma idosa de 60 anos que passava pelo local foi atingida na perna por uma bala perdida. Ela foi socorrida e encaminhada para a UPA de Nova Descoberta. Um cachorro, também atingido por um tiro, morreu.

Já na quinta-feira (16), durante ronda do Batalhão Radiopatrulha, na comunidade V8, no Varadouro, em Olinda, cinco homens teriam trocado tiros com policiais militares. A versão oficial é de que os suspeitos teriam iniciado os disparos após perceberem a presença da viatura policial.

Quatro homens ficaram feridos à bala. Eles foram socorridos e encaminhados para o Hospital da Restauração, na área central do Recife, mas três não resistiram. Os nomes e idades dos suspeitos não foram revelados.

De acordo com nota enviada pela assessoria de comunicação da Polícia Militar, quatro armas de fogo foram apreendidas, sendo três revólveres e uma pistola.

Os suspeitos, ainda segundo a nota oficial, também estavam de posse de uma grande quantidade de drogas, sendo dezenas de papelotes de maconha e pedras de crack, além de balança de precisão e uma quantia em dinheiro.

A PM disse, por fim, que um dos suspeitos envolvidos no tiroteio foi preso pelo 1° BPM após o confronto na comunidade V8. 

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