Parentes de homens mortos pelo Bope na comunidade do Detran, no Recife, prestaram depoimento
Testemunhas foram ouvidas no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), nessa segunda-feira (27)
Três parentes dos homens mortos durante ação de policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na comunidade do Detran, na Iputinga, Zona Oeste do Recife, prestaram depoimento no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), nessa segunda-feira (27).
As ouvidas estavam previstas para acontecer no final da semana passada, mas foram adiadas a pedido das testemunhas, que estavam abaladas e com medo de sofrer represálias. Os relatos foram considerados muito relevantes para esclarecer a dinâmica da ação que resultou nas mortes, na noite do último dia 20. Os conteúdos estão sob sigilo.
Na ação dos PMs do Bope, foram mortos Bruno Henrique Vicente da Silva, de 28 anos, e Rhaldney Fernandes da Silva Caluete, 32.
Imagens de uma câmera de segurança mostraram o momento em que os policiais chegaram e arrombaram a porta da casa onde estavam as vítimas. Mulheres e crianças foram tiradas do local e, depois, houve os disparos de tiros. Após isso, os militares saíram da residência com os corpos.
Em depoimento, após a ação, os PMs alegaram que houve uma troca de tiros. Mas familiares das vítimas negaram essa versão.
O laudo médico anexado ao auto de prisão em flagrante indicou que os homens já chegaram mortos à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá. Se as vítimas foram mortas ainda na casa onde estavam, os corpos deveriam ter sido mantidos no local para a realização da perícia.
SUSPEITA DE AO MENOS TRÊS CRIMES
Na decisão judicial que determinou a prisão preventiva de seis dos nove policiais militares do Bope envolvidos nas mortes, a juíza Blanche Pontes Matos destacou que há indícios de que eles tenham cometido ao menos três crimes: violação de domicílio qualificada, descumprimento de missão e fraude processual.
Estão presos preventivamente os PMs Carlos Alberto de Amorim Júnior, Ítalo José de Lucena Souza, Josias Andrade Silva Júnior, Brunno Matteus Berto Lacerda, Rafael de Alencar Sampaio e Lucas de Almeida Freire Albuquerque Oliveira. Os seis teriam entrado na casa onde os homens foram mortos.
Eles estão no Centro de Reeducação da Polícia Militar de Pernambuco (Creed), em Abreu e Lima.
Já Jonathan de Souza e Silva, Carlos Fonseca Avelino de Albuquerque e Valdecio Francisco da Silva Júnior receberam liberdade provisória, a pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que entendeu que eles não estavam na casa no momento dos tiros.
INVESTIGAÇÕES EM ANDAMENTO
Há três investigações em andamento, sem prazo definido de conclusão. A primeira é um inquérito policial militar, que analisa se os PMs cometeram crimes militares e se devem ser indiciados.
A segunda é da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), que apura o caso no âmbito administrativo. Ao final, a depender da gravidade, os suspeitos podem até ser expulsos da Polícia Militar.
A terceira investigação é do DHPP, responsável por investigar as duas mortes durante a ação dos policiais.
MORTES EM AÇÕES POLICIAIS
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), 95 pessoas morreram em ações policiais entre janeiro e outubro de 2023. O crescimento foi de 20,25% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 79 casos foram somados.