IMPUNIDADE

Após 2 anos, polícia não esclareceu morte do presidente da Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco

Familiares de Albérisson Carlos cobram respostas e punição para os autores do crime. "Após duas ameaças de morte, precisei me mudar para Portugal", desabafou o filho

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Raphael Guerra

Publicado em 20/02/2024 às 13:01
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Dois anos após o assassinato do então presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiros de Pernambuco (ACS-PE), Albérisson Carlos da Silva, 50, a polícia ainda não esclareceu quem foram os autores e o que motivou o crime. Amedrontados e com o forte sentimento de impunidade, familiares cobram respostas e mais empenho da polícia nas investigações. 

"Desde o início, muita coisa não foi falada sobre o caso para a família, sempre com a polícia argumentando que isso poderia atrapalhar as investigações. Delegados foram trocados e, mesmo assim, não vimos avanço no caso", lamentou Albérisson Carlos Júnior, filho da vítima. 

Atualmente, ele vive com a esposa em Portugal. A decisão de sair do País foi tomada após duas ameaças de morte sofridas após a execução do pai.

"Uma vez eu estava no shopping com a minha esposa e amigos. Ao entrar no banheiro, uma pessoa me abordou e disse que era melhor eu ir embora, se não ia ser o próximo a morrer. Da outra vez, eu estava de moto, quando outra se aproximou e o condutor reforçou que era melhor eu embora", contou.

EXECUÇÃO

Albérisson Carlos foi executado a tiros em 16 de fevereiro de 2022. Minutos antes, ele e a esposa haviam deixado a sede da associação, no bairro da Madalena, no Recife, e seguiam a pé até uma rua próxima, onde o carro do casal estava estacionado. Não deu tempo nem de entrar no veículo. Criminosos em um carro branco e em uma moto se aproximaram e efetuaram os tiros. 

GUGA MATOS / JC IMAGEM
Albérisson foi surpreendido por criminosos armados no momento em que pegava o carro, na Madalena, em 16 de fevereiro de 2022 - GUGA MATOS / JC IMAGEM

O então presidente da ACS-PE foi atingido na cabeça, costas e abdômen. Nenhum tiro foi disparado contra a esposa.

Uma hipótese investigada, na época, foi a de que os projéteis balísticos teriam sido recolhidos rapidamente pelos assassinos antes da fuga. Isso porque nenhum vestígio foi encontrado pelos peritos do Instituto de Criminalística.

MISTÉRIO NA INVESTIGAÇÃO

Inicialmente, o inquérito estava sob a coordenação de dois delegados do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Posteriormente, o caso foi transferido para o Grupo de Operações Especiais (GOE), que geralmente assume investigações de organizações criminosas e/ou de policiais. 

O JC solicitou um porta-voz para falar sobre o andamento do inquérito, mas a Polícia Civil de Pernambuco não autorizou. 

Por meio de nota, disse apenas que o caso continua em investigação pelo GOE e que conta, nesta fase, com contribuição de órgãos parceiros da Secretaria de Defesa Social.

"Para não comprometer as diligências do caso em investigação que ainda estão acontecendo, não é possível fornecer mais detalhes, mas a PCPE se pronunciará ao final", disse o texto. 

Albérisson Carlos Júnior contou que trabalhava diretamente com o pai, cuidando da comunicação dele. 

"Nunca tive conhecimento de que ele recebeu alguma ameaça. Mas certamente há alguma motivação política no crime. Estamos de mãos atadas. O medo de agir é maior porque a gente sofreu ameaças após a morte do meu pai. Muita gente não compreende nossa situação, nosso silêncio esse tempo todo. O que a gente precisa é que o caso não fique impune", disse.

TRAJETÓRIA

Antes de ser assassinado, Albérisson Carlos ocupava uma vaga de suplente pelo DEM na Câmara Municipal do Recife. Havia uma expectativa de que ele assumisse uma cadeira de vereador, após Justiça Eleitoral de Pernambuco cassar a chapa do Avante, por descumprimento de cota de gênero. 

Entre as pautas que Albérisson defendia, estava a ampliação de moradia para pessoas com baixa renda; a implantação de escolas cívico-militares; criação de programas que de prevenção ao uso de drogas; além de se posicionar contra ideologias que fossem de encontro aos preceitos cristãos e conservadores.

ANDRÉ NERY/ACERVO JC IMAGEM
TRAJETÓRIA Líder sindicalista chegou a ser detido, no final de 2016, durante movimento grevista - ANDRÉ NERY/ACERVO JC IMAGEM

Albérisson ingressou na Polícia Militar de Pernambuco em 1993. Ele assumiu a presidência da Associação de Cabos e Soldados em 2014, cargo que ocupou até ser morto. 

Em sua trajetória, ele bateu de frente com o governo de Pernambuco para defender os interesses da categoria, principalmente em 2014, ano da última greve da Polícia Militar, quando a atuação dele ganhou mais notoriedade. Três anos depois, após processo administrativo disciplinar, foi expulso da PM por liderar o movimento grevista.

Mesmo assim, ele permaneceu recorrendo da expulsão na Justiça, na tentativa de retornar ao posto de cabo.

ASSOCIAÇÃO TAMBÉM COBROU SOLUÇÃO PARA O CRIME

Em publicação nas redes sociais, a ACS-PE também cobrou esclarecimento para o assassinato de Albérisson Carlos. 

"Até o momento, o crime não foi elucidado pelos investigadores responsáveis pelo caso. A ACS-PE e toda a categoria aguardam respostas das forças de segurança referentes a esse crime que ceifou a vida do nosso guerreiro e irmão de farda. Não deixaremos com que o legado do nosso irmão seja esquecido", disse trecho do texto. 

"Albérisson Carlos liderou a ACS-PE por muitos anos, empenhando-se na busca da valorização dos policiais e bombeiros militares de Pernambuco. Sua memória deve ser honrada com a resolução desse crime, a punição dos responsáveis e o contínuo fortalecimento das causas pelas quais ele dedicou sua vida: melhores condições de trabalho e segurança para todos os profissionais dedicados à segurança pública", completou. 

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