Após 8 dias, corpo de jovem que foi sequestrado é encontrado no Grande Recife
Alisson da Rocha Alves, 26 anos, foi roubado e levado por criminosos numa área de mata no Cabo de Santo Agostinho. Caso chamou atenção pela demora da Polícia Civil em dar início às buscas
Após oito dias de sofrimento dos familiares, o corpo do auxiliar de carga e descarga Alisson da Rocha Alves, de 26 anos, foi encontrado em um riacho próximo à PE-60, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, na manhã do sábado (20). Havia marcas de tiros. O rapaz estava desaparecido desde o dia 12 de abril, quando foi levado por criminosos durante um assalto.
O caso de Alisson chamou a atenção pela demora da Polícia Civil em dar início às investigações. Parentes e amigos do jovem precisaram realizar um protesto, em frente à delegacia do Cabo, na manhã da última segunda-feira (15), para cobrar que fossem realizadas buscas.
De acordo com os parentes, Alisson e o pai seguiam de moto para um armazém de construção que fica na Cidade Garapu. Por causa do GPS, os dois acabaram seguindo pela Vila Claudete, também no Cabo, onde houve ao menos dois criminosos se aproximaram e anunciaram o assalto.
O celular e a corrente de prata de Alisson foram recolhidos. Os bandidos ainda deram a ordem para que o pai dele deixasse o local. Já o jovem foi arrastado para a mata.
Familiares acreditam que o pai de Alisson só foi liberado porque estava com o colete de mototáxi e pode os criminosos podem ter pensado que ele era mototaxista. Antes, ele foi obrigado a deixar as chaves com a moto.
INVESTIGAÇÃO
Nesse sábado, com apoio da Polícia Militar, parentes encontraram um corpo e reconheceram que se tratava de Alisson.
Em nota, a Polícia Civil disse apenas a ocorrência foi registrada pela Força Tarefa de Homicídios Da Região Metropolitana Sul. E que as "investigações foram iniciadas e seguirão até a completa elucidação dos fatos". Até agora, nenhum suspeito foi preso.
DELEGACIA NÃO FUNCIONA NO FIM DE SEMANA
A demora para o início das investigações do desaparecimento de Alisson ocorreu pela falta de estrutura de efeito da Polícia Civil de Pernambuco. Com déficit histórico de profissionais, a maioria das delegacias não funciona à noite e nos fins de semana.
É justamente o caso da Delegacia do Cabo de Santo Agostinho. Familiares esperaram três horas para fazer o registro da queixa. Quando conseguiram, o expediente se encerrou. Era noite de sexta-feira, e a unidade policial só voltou a funcionar na manhã da segunda.
Em comunicado à coluna Segurança, na semana passada, a Associação de Delegados e Delegadas de Polícia de Pernambuco (Adeppe) afirmou que a falta de delegacias abertas 24h atinge todo o Estado, sobretudo no interior. Na capital, por exemplo, há apenas duas unidades funcionando ininterruptamente: a Delegacia de Boa Viagem e a Central de Plantões da Capital.
"Com quase um milhão e meio de pessoas vivendo no Recife, temos apenas duas delegacias que trabalham em regime de 24 horas, como se a bandidagem trabalhasse em regime comercial. É imprescindível que a gente volte ao ano de 2012, quando existiam as delegacias de plantão em cada AIS (Área Integrada de Segurança). Recife compõe 5 Áreas Integradas de Segurança e o ideal é que todas as 5 AIS tenham sua delegacia de plantão", disse o presidente da Adeppe, delegado Diogo Melo Victor.
Em 2012, quatro delegacias localizadas na capital funcionavam 24h: Boa Viagem, Várzea, Casa Amarela e Santo Amaro.
MORTES EM PERNAMBUCO CRESCERAM 9,16% EM 2024
De acordo com estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS), 989 mortes violentas intencionais foram registradas em Pernambuco entre janeiro e março de 2024. Houve aumento de 9,16% em relação ao primeiro trimestre de 2023. Naquele período, 906 pessoas perderam a vida para a violência.
Somente no último mês de março, 324 mortes foram somadas pela polícia. O aumento foi de 6,57% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando 304 pessoas foram mortas.
A situação mais preocupante está no Recife, que registrou 80 assassinatos em março. O crescimento foi de 73,9% em relação ao mesmo período de 2023, quando 46 pessoas foram assassinadas. Esse foi o pior resultado dos últimos sete anos, perdendo apenas para março de 2017, quando 96 mortes foram somadas pela polícia.
Nas estatísticas de mortes violentas intencionais, como atualmente são classificadas pela SDS, estão incluídos os homicídios, feminicídios, latrocínios (roubo seguido de morte), lesões corporais seguidas de morte e óbitos decorrentes de intervenção policial.