INVESTIGAÇÃO

'Perseguição', diz delegada afastada pela SDS após interceptação telefônica com Rodrigo Carvalheira

Empresário ligou para Natasha Dolci, amiga dele, durante andamento dos inquéritos que apuravam denúncias de estupro. Ela não fazia parte da investigação

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Raphael Guerra

Publicado em 25/04/2024 às 15:42 | Atualizado em 25/04/2024 às 17:20

A delegada Natasha Dolci, afastada por 120 dias das funções públicas, após ser flagrada numa interceptação telefônica conversando com o empresário Rodrigo Carvalheira, suspeito de estupro, afirmou que sofre perseguição na Polícia Civil. 

"Em dois anos, fui transferida de delegacias 14 vezes. Virei uma ameaça porque apresentava bons resultados. Depois denunciei que, na Polícia Civil, há fraude nos números de prisões e apreensões, além de inquéritos solucionados", disse, em entrevista à coluna Segurança, na tarde desta quinta-feira (25). 

Natasha Dolci reforçou que é amiga pessoal de Rodrigo Carvalheira. E que não interferiu na investigação das denúncias de estupro. 

"Liguei para Rodrigo Carvalheira me levar ao Palácio do Campo das Princesas para denunciar os números fraudados na Polícia Civil. Depois disso, a perseguição aumentou. Nunca tive intenção de interferir na investigação dele. Só fiz uma pergunta como amiga, mas nossos telefones estavam grampeados. Eu queria ser transferida para Fernando de Noronha para parar de ser perseguida", afirmou Natasha.

"Já fiz várias denúncias de perseguição. A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social tem conhecimento."

AFASTAMENTO

A decisão do afastamento da delegada por 120 dias foi do secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho. 

Na portaria, o secretário destacou que está em curso um processo administrativo disciplinar especial em desfavor da delegada e que "se mostra cabível o afastamento cautelar da Policial Civil, objetivando garantir à ordem pública, à instrução regular do processo disciplinar e à viabilização da correta aplicação de sanções disciplinares, já que recai sobre ela indícios de práticas de atos incompatíveis com as funções públicas".

Além disso, o secretário determinou que sejam recolhidos, no prazo de 24 horas, a identificação funcional, as armas e utensílios funcionais que se encontrem com a delegada. 

Na decisão que determinou a prisão de Rodrigo Carvalheira, em 11 de abril, o juiz José Claudionor da Silva Filho destacou que o "investigado tentou, através dos seus contatos políticos, retirar o inquérito policial que originou o presente processo da Delegacia da Mulher". 

"Restou comprovado, ainda, que a Delegada Natasha Dolci orientou o investigado a agilizar a sua tentativa de interferência política para retirada do inquérito policial da Delegacia da Mulher, a fim de encerrar a presente investigação, solicitando, inclusive sua ajuda para ser removida para a Delegacia de Fernando de Noronha, colocando-se à disposição para ajudá-lo no presente caso, caracterizando-se uma troca de favores", pontuou o magistrado, nos autos. 

 

 

RODRIGO CARVALHEIRA ESTÁ EM LIBERDADE

Rodrigo Carvalheira passou seis dias no Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. A liberdade provisória foi concedida pela Justiça, com parecer favorável do Ministério Público, mas o suspeito de estupro permanecerá usando uma tornozeleira eletrônica. 

No dia em que foi solto, o MPPE confirmou que ofereceu a primeira denúncia à Justiça contra o empresário. Outras duas investigações, concluídas pela Polícia Civil, ainda estão sob análise de promotores. Os crimes atribuídos ao suspeito na denúncia não foram revelados.

Por enquanto, além do monitoramento eletrônico, o empresário não poderá deixar o País. Ele teve o passaporte retido. 

As queixas foram feitas por três mulheres (todas do círculo social e de amizade do empresário), que afirmaram que foram dopadas e, quando acordaram, apresentavam sinais de abuso sexual - os casos ocorreram entre os anos de 2009 e 2019.

Quem é Rodrigo Carvalheira?

Além de empresário do ramo imobiliário e também atuar com produções de eventos, Rodrigo Carvalheira foi eleito presidente do PTB em Pernambuco, em outubro de 2023.

O partido se fundiu ao Patriota e se tornou o PRD. Ele foi secretário de Turismo do município de São José da Coroa Grande, no Litoral Sul do Estado, por um ano, e deixou o cargo em dezembro de 2023 por "fins políticos", de acordo com a gestão municipal.

A Executiva Nacional do PRD decidiu que expulsá-lo do quadro de filiados, após o anúncio da prisão.

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