Polícia conclui mais uma investigação relacionada à chacina de Camaragibe
Desta vez, inquérito diz respeito à morte do vigilante Alex da Silva Barbosa, suspeito de ter assassinado a tiros dois policiais militares no bairro de Tabatinga na noite de 14 de setembro de 2023
A Polícia Civil concluiu a investigação relacionada à morte do vigilante Alex da Silva Barbosa, suspeito de ter assassinado a tiros dois policiais militares no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife, na noite de 14 de setembro de 2023. O inquérito conduzido pelo Grupo de Operações Especiais (GOE) foi encerrado sem pedido de indiciamentos.
Segundo a investigação, depois do crime contra os dois PMs, Alex permaneceu foragido até a manhã do dia seguinte, quando foi encontrado por militares novamente no bairro de Tabatinga. Houve um confronto, com troca de tiros, e o vigilante acabou baleado e morto. Para os investigadores, houve a legítima defesa.
Nesta terça-feira (21), o inquérito chegou à Promotoria de Camaragibe, que vai avaliar se apresenta parecer favorável pelo arquivamento à Justiça ou pede novas diligências.
Esse é o segundo de quatro inquéritos concluídos pela Polícia Civil referentes ao caso que ficou conhecido como a Chacina de Camaragibe.
ENTENDA A CHACINA
Uma sequência de assassinatos teve início após as mortes do soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e do cabo Rodolfo José da Silva, 38, que foram até o bairro de Tabatinga verificar a denúncia de que Alex estaria em cima de uma laje realizando disparos de arma de fogo.
Quando os policiais chegaram ao local, houve troca de tiros com o vigilante, que teria feito Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, de escudo humano. Os dois PMs morreram, e Alex conseguiu fugir. Além de Ana (que morreu semanas depois no IMIP), o primo dela, de 14 anos, foi baleado, mas sobreviveu.
Horas depois, durante a caçada a Alex, familiares dele foram mortos. Para o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) tratou-se de uma "operação vingança" dos policiais militares após os assassinatos dos colegas de farda.
Foram executados a tiros três irmãos de Alex, identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25. Ágata chegou a transmitir ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife.
Por volta das 9h do dia 15, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado. Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga.
DOZE POLICIAIS VIRARAM RÉUS
No começo de março, o MPPE denunciou 12 policiais militares - incluindo três oficiais - pelo crime de triplo homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa das vítimas) referente às mortes dos irmãos de Alex. A Justiça aceitou a denúncia e todos os acusados se tornaram réus. Cinco seguiram presos preventivamente e os outros sete foram afastados das funções.
O tenente-coronel Fábio Roberto Rufino da Silva faz parte da lista dos afastados. Na época da chacina, ele era comandante do 20º Batalhão.
Além dele, foram afastados o tenente-coronel Marcos Túlio Gonçalves Martins Pacheco (ocupava o segundo posto de comando da inteligência da PM), o 1º tenente João Thiago Aureliano Pedrosa Soares, o soldado Diego Galdino Gomes, a cabo Janecleia Izabel Barbosa da Silva, o 2º sargento Eduardo de Araújo Silva e o 3º sargento Cesar Augusto da Silva Roseno.
Estão presos preventivamente: o soldado Paulo Henrique Ferreira Dias, a soldado Leilane Barbosa Albuquerque, o soldado Emanuel de Souza Rocha Júnior, o cabo Dorival Alves Cabral Filho e o cabo Fábio Júnior de Oliveira Borba.
ORDENS DE EXECUÇÃO
De acordo com denúncia do MPPE, os tenentes-coronéis Fábio Roberto Rufino e Marcos Túlio teriam liderado ordens para a sequência de assassinatos após as mortes dos PMs em Camaragibe.
"(...) Convocaram os denunciados e outros policiais, de serviço e de folga, para reunião realizada nas proximidades da FOP (Faculdade de Odontologia de Pernambuco), tendo estes sido propositalmente orientados e autorizados a comparecerem ao local em veículos sem placas, viaturas descaracterizadas, com vestimentas à paisana, utilizando balaclavas, fortemente armados, com armas 'cabrito' (não-oficiais), para realizarem a missão de caçada a Alex e seus familiares, no intuito de matá-los, em vingança à morte dos dois policiais, ocorrida horas antes", descreveu o relatório do MPPE.
O documento apontou ainda que os tenentes-coronéis "participaram intensamente das trocas de mensagens entre os policiais, em que eram passadas informações a respeito dos familiares de Alex, bem como dele próprio".
O MPPE disse também que "em nenhum momento, antes ou depois dos bárbaros homicídios praticados, os denunciados Marcos Túlio e Fábio Rufino expressaram desacordo ou contrariedade com as ilegalidades praticadas durante a preparação das execuções".
A defesa dos policiais militares nega as acusações e diz que vai provar a inocência deles.