Justiça arquiva inquérito da morte do suspeito de assassinar PMs em Camaragibe
Polícia concluiu que militares que mataram o vigilante Alex da Silva Barbosa, durante caçada, agiram em legítima defesa. Duas investigações continuam
A pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), a Justiça arquivou o inquérito relacionado à morte do vigilante Alex da Silva Barbosa, suspeito de assassinar a tiros dois policiais militares no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife, na noite de 14 de setembro de 2023. A investigação foi conduzida pelo Grupo de Operações Especiais (GOE).
Segundo o inquérito, depois do crime contra os dois PMs, Alex permaneceu foragido até a manhã do dia seguinte, quando foi encontrado por militares novamente no bairro de Tabatinga. Houve um confronto, com troca de tiros, e o vigilante acabou baleado e morto. Para os investigadores, houve a legítima defesa.
Na decisão pelo arquivamento, publicada na última semana, a juíza Marília Falcone Gomes pontuou que, antes de ser morto, Alex resistiu à prisão e chegou a atirar em três policiais - um baleado no ombro direito, outro na cabeça e outro nas costas.
"Diante da análise dos fatos, percebe-se que os policiais atingidos foram surpreendidos pela reação do investigado quando percebeu a presença da força policial, portanto, tendo usado os meios necessários para a defesa própria e dos demais e, ainda, prestado o imediato socorro ao investigado. De sorte que caracterizada a excludente de ilicitude em relação a estes", disse a magistrada, na decisão.
Esse é o segundo inquérito concluído pela Polícia Civil referente ao caso que ficou conhecido como a Chacina de Camaragibe. Ainda faltam mais dois.
PARENTES DE ALEX FORAM MORTOS
A sequência de assassinatos teve início após as mortes do soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e do cabo Rodolfo José da Silva, 38, que foram até o bairro de Tabatinga verificar a denúncia de que Alex estaria em cima de uma laje realizando disparos de arma de fogo.
Quando os policiais chegaram ao local, houve troca de tiros com o vigilante, que teria feito Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, de escudo humano. Os dois PMs morreram, e Alex conseguiu fugir. Além de Ana (que morreu semanas depois no IMIP), o primo dela, de 14 anos, foi baleado, mas sobreviveu.
Horas depois, durante a caçada a Alex, familiares dele foram mortos. Para o MPPE tratou-se de uma "operação vingança" dos policiais militares após os assassinatos dos colegas de farda.
Foram executados a tiros três irmãos de Alex, identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25. Ágata chegou a transmitir ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife.
Por volta das 9h do dia 15, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado. Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga.
DOZE POLICIAIS VIRARAM RÉUS
No começo de março, o MPPE denunciou 12 policiais militares - incluindo três oficiais - pelo crime de triplo homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa das vítimas) referente às mortes dos irmãos de Alex. A Justiça aceitou a denúncia e todos os acusados se tornaram réus. Cinco seguiram presos preventivamente e os outros sete foram afastados das funções.
O tenente-coronel Fábio Roberto Rufino da Silva faz parte da lista dos afastados. Na época da chacina, ele era comandante do 20º Batalhão.
Além dele, foram afastados o tenente-coronel Marcos Túlio Gonçalves Martins Pacheco (ocupava o segundo posto de comando da inteligência da PM), o 1º tenente João Thiago Aureliano Pedrosa Soares, o soldado Diego Galdino Gomes, a cabo Janecleia Izabel Barbosa da Silva, o 2º sargento Eduardo de Araújo Silva e o 3º sargento Cesar Augusto da Silva Roseno.
Estão presos preventivamente: o soldado Paulo Henrique Ferreira Dias, a soldado Leilane Barbosa Albuquerque, o soldado Emanuel de Souza Rocha Júnior, o cabo Dorival Alves Cabral Filho e o cabo Fábio Júnior de Oliveira Borba.
De acordo com denúncia do MPPE, os tenentes-coronéis Fábio Roberto Rufino e Marcos Túlio teriam liderado ordens para a sequência de assassinatos após as mortes dos PMs em Camaragibe.
A defesa dos policiais militares nega as acusações e diz que vai provar a inocência deles.
DUAS INVESTIGAÇÕES EM ANDAMENTO
O GOE e o MPPE seguem colhendo provas para concluir dois inquéritos. Um deles diz respeito à dinâmica que resultou nas mortes dos dois PMs e da mulher grávida. Os investigações querem confirmar se Alex agiu sozinho ou se houve a ajuda de outra pessoa.
Uma reprodução simulada foi realizada no local do crime, mas o resultado ainda não foi apresentado.
O último inquérito tenta identificar os autores dos assassinatos da mãe e da esposa de Alex.