Dono do Esportes da Sorte e esposa se entregam à polícia, diz defesa; leia carta

Darwin Henrique da Silva Filho se apresentou nesta quinta-feira (5), um dia após operação que apura lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais

Publicado em 05/09/2024 às 20:44 | Atualizado em 05/09/2024 às 21:06

O empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da casa de apostas Esportes da Sorte, se entregou à polícia nesta quinta-feira (5), um dia após a Operação Integration, que apura crimes como lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais. A esposa dele, Maria Eduarda Filizola, também se apresentou. 

Na manhã da quarta-feira, policiais civis estiveram no apartamento onde o casal mora, na Avenida Boa Viagem, Zona Sul do Recife, mas eles não foram encontrados, por isso os mandados de prisão preventiva não foram cumpridos.

Em nota divulgada à imprensa, o escritório Rigueira, Amorim, Caribé e Leitão, que representa o casal, declarou que eles se entregaram espontaneamente à Polícia Civil na manhã de hoje, já prestaram depoimento e se encontram à disposição das autoridades.

"Todos os questionamentos da polícia foram devidamente respondidos e as dúvidas sobre as atividades da empresa Esporte da Sorte foram sanadas, demostrando-se a regularidade e a legalidade das atividades profissionais. O escritório impetrou habeas corpus perante o TJPE (Tribunal de Justiça de Pernambuco) e aguarda a análise acerca das prisões", informou a defesa. 

De acordo com a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária e Ressocialização, Darwin está no Centro de Observação Criminológica e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. A esposa está na Colônia Penal Feminina do Recife, onde também estão a advogada, empresária e influenciadora digital Deolane Bezerra e a mãe dela, Simone Bezerra. 

Por meio da assessoria de imprensa do Esportes da Sorte, que tem sede no Recife, Darwin também divulgou uma "carta aberta".

Em primeiro lugar, não existem duas verdades, mas podem existir duas, cinco, dez, mil mentiras, mas a verdade é sempre uma só. Preferi vir aqui, antes de cumprir o meu dever com a justiça, e falo com muita transparência, porque se não tivesse a consciência tranquila sobre meus atos, jamais iria me expor nesse momento, inclusive porque serei confrontado comigo mesmo daqui para frente.

Sempre fui muito vocal no intuito de contribuir com o debate favorável à regulamentação das apostas esportivas de cota fixa e jogos online no Brasil. Como representante do Esportes da Sorte, sempre colaborei com a atuação das autoridades e das investigações. Nossa atividade é lícita, já as organizações criminosas são difíceis de combater e acredito que isso deve ser separado. A minha atitude sempre foi defender a lei. Também sempre pautei nossa atuação em favor das boas práticas, do jogo responsável e o defendo como forma de entretenimento.

Sigo colaborando com todas as investigações, inclusive ficando surpreso com a ausência de motivos que levaram a uma medida tão rigorosa, quanto a que a mim foi aplicada. Dado que sempre me coloquei à disposição das autoridades. De qualquer forma, irei cumprir os ritos legais e observar todas as nuances jurídicas.

Me encontro tranquilo neste momento. Por mais que tenha muita angústia, o que é natural, já que ninguém deseja passar por isso, sigo confiante no processo. Aproveito para agradecer aos nossos colaboradores, clientes, parceiros, e dizer que vocês jamais irão se decepcionar com o Esportes da Sorte.

Vou me dirigir às autoridades para me apresentar e o farei de maneira muito serena. Eu acredito muito na justiça e tenho absoluta certeza da minha conduta e de todas as pessoas que trabalham conosco, sei que tudo isso será esclarecido.

BALANÇO DA OPERAÇÃO

Um novo balanço parcial da operação foi divulgado pela polícia nesta quinta-feira (5). Após o cumprimento de 24 mandados de busca e apreensão, a polícia somou uma quantia de mais de R$ 454 mil em dinheiro - além de reais, há euros, dólares e libras esterlinas.

Duas aeronaves e dois helicópteros avaliados em R$ 127 milhões estão entre as apreensões. Ainda fazem parte da lista, cinco automóveis de luxo avaliados em mais de R$ 24 milhões, 37 bolsas femininas de luxo, 76 anéis e 17 joias de diversos modelos e 16 relógios de luxo.

A operação investiga crimes como lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais, com movimentações bancárias avaliadas em cerca de R$ 3 bilhões. A empresa bet Esportes da Sorte, com sede no Recife, foi um dos alvos da operação. Vinte e quatro mandados de busca e apreensão também foram cumpridos pelo País. 

Para os investigadores, a organização criminosa atua em ao menos 11 ramos, incluindo eventos por todo o País, casas de câmbio e seguros, publicidades. A lavagem de dinheiro ocorria por meio de depósitos e transações bancárias. 

Além de Deolane, a mãe dela, Solange Alves Bezerra, também foi presa preventivamente. Nesta quinta-feira, as duas passaram por audiência de custódia, por videoconferência, na Colônia Penal Feminina do Recife, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste da cidade. A Justiça decidiu pela manutenção da prisão por termo indeterminado. Advogados de defesa tentam a liberdade delas. 

Por causa da repercussão do caso, as duas estão em uma cela isolada das demais presas. 

COMO A ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA AGIA?

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a investigação teve início em abril de 2023, a partir da apreensão de R$ 180 mil reais em espécie em 1º de dezembro de 2022.

"Foram movimentados, de janeiro de 2019 a maio de 2023, mais de R$ 3 bilhões em contas correntes, em aplicações financeiras e dinheiro em espécie, provenientes dos jogos ilegais", disse o ministério em nota. 

O dinheiro era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie, transações bancárias entre os investigados com o imediato saque do montante, compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo, além da aquisição de centenas de imóveis.

Investigadores identificaram movimentações financeiras atípicas de pessoas físicas e jurídicas, com indícios de ilícitos financeiros, sem nenhum suporte para as transações comerciais e financeiras feitas pelo grupo.

"A maioria dos integrantes tem padrão de vida totalmente incompatível com a renda e bens declarados", disse, em nota, o ministério. 

A Polícia Civil de Pernambuco, que coordena as investigações, não detalhou o suposto envolvimento de cada um dos investigados no esquema criminoso.

DEPOIMENTO DE DEOLANE BEZERRA

Deolane Bezerra e a mãe foram presas no Novotel Marina, localizado no Cais de Santa Rita, na área central do Recife. As duas chegaram à capital no fim da semana junto com a família. Apesar de serem pernambucanas, elas moram em São Paulo.

Na sede do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri), em Afogados, na Zona Oeste, ambas prestaram depoimento. 

A influenciadora digital negou envolvimento em crimes. Ela confirmou que teve contrato com a empresa Esportes da Sorte, com sede no Recife, e que o contrato foi encerrado em maio deste ano.

Deolane afirmou que possuía três contas bancárias para receber pagamentos por trabalhos realizados, mas que todas foram encerradas. E que atualmente tem uma conta digital.

A influenciadora declarou que não emprestou suas contas bancárias para terceiros, nem deixou que outras pessoas movimentassem as contas delas.

No depoimento, Deolane ressaltou que não teve envolvimento com lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores provenientes do crime.

O QUE DIZ O ESPORTES DA SORTE?

Em nota à imprensa, a empresa Esportes da Sorte declarou que "ainda não teve acesso à decisão judicial que autorizou busca e apreensão em sua sede".

"Ressalta, contudo, que, desde março de 2023, tem prestado todos os esclarecimentos necessários nos autos do inquérito policial em curso, através de diversas petições e documentos apresentados pelo escritório Rigueira, Amorim, Caribé e Leitão – Advocacia Criminal", disse.

"As atividades de aposta de cotas fixas da empresa cumprem rigorosamente a Lei n.º 13.756/2018 e Lei 14.790/2023 com excelência jurídico-regulatória e acompanhamento de auditoria independente e sistema de compliance", pontuou a nota.

"A operação policial será impugnada perante o Juízo competente, demonstrando-se que houve interpretação precipitada e equivocada dos fatos apurados, sem qualquer análise ou consideração dos argumentos já apresentados. Tanto é assim que a autoridade policial não apreendeu qualquer objeto, documento ou equipamento na sede da empresa", afirmou o texto.

"A Esportes da Sorte, como sempre esteve, permanece à disposição das autoridades", completou.

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