Violência armada: número de adolescentes baleados cresceu 37% no Grande Recife
Estudo do Instituto Fogo Cruzado apontou que quantidade de vítimas nessa faixa etária foi superior a outras regiões metropolitanas, a exemplo do Rio

Um novo levantamento do Instituto Fogo Cruzado reforça o alerta sobre a falta de políticas públicas para tirar os adolescentes e jovens da situação de vulnerabilidade e evitar a perda de vidas de forma precoce. O número de baleados, na faixa etária entre 12 e 17 anos, cresceu 37% na Região Metropolitana do Recife (RMR) em 2024, em comparação com o ano anterior.
Esse foi o pior resultado da série histórica, contabilizada pelo instituto que estuda a violência armada na RMR desde 2019. No ano passado, 141 adolescentes foram atingidos por tiros. Desse total, 99 morreram e 42 ficaram feridos.
Em 2023, o Fogo Cruzado identificou que ao menos 109 adolescentes foram baleados no Grande Recife. Desses, 74 morreram.
Em vulnerabilidade e sem perspectiva de um futuro melhor, adolescentes são atraídos por facções criminosas, sobretudo nas regiões periféricas, com a promessa de retorno financeiro rápido. E, muitas vezes, acabam entrando para essas estatísticas da violência armada.
"Em Pernambuco, a violência armada atinge de forma sistemática os jovens, com um impacto ainda mais grave sobre os adolescentes. Esse problema tem sido negligenciado pelo poder público, enquanto programas de prevenção e proteção para essa faixa etária seguem sem prioridade como estratégia de redução de homicídios", avaliou Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado no Estado.
"Os dados são alarmantes, 2024 foi o pior ano da série histórica. Enquanto outros indicadores caíram, o de adolescentes baleados disparou. Não é aceitável que indivíduos que mal deixaram a infância estejam entre as principais vítimas da violência armada, tendo seus futuros interrompidos", completou.
O número de adolescentes baleados em 2024 supera também o registrado nas outras regiões metropolitanas mapeadas pelo Fogo Cruzado. No Grande Rio, 38 adolescentes foram vítimas da violência armada, enquanto em Salvador e região metropolitana foram 53 atingidos. Já na Região Metropolitana de Belém, 12 vítimas.
PREVENÇÃO
Questionada pela coluna sobre as ações de prevenção social adotadas, a Secretária da Criança e da Juventude de Pernambuco (SCJ-PE) informou, em nota, que uma das políticas adotadas é a "Casa da Juventude", que são aparelhos sociais voltados a desenvolver as potencialidades e habilidades dos jovens com foco no ensino profissionalizante, empregabilidade e inserção sociocultural.
"Vale ressaltar que esses equipamentos são desenvolvidos em parceria com os municípios, sendo customizados de acordo com as necessidades e potencialidades dos territórios, visando desenvolver uma política que colabore com a prevenção da violência que vitimiza esse público, ofertando mais dignidade e cidadania aos nossos jovens", disse.
A pasta estadual pontuou ainda que está prevista a entrega de novas Casas das Juventudes até o próximo ano, mas não informou a quantidade.
MÉDIA DE 5 TIROTEIOS DIÁRIOS
O estudo do Fogo Cruzado identificou que 2024 foi o segundo ano com mais tiroteios no Grande Recife na série histórica. A média foi de cinco disparos de arma de fogo por dia.
No total, 1.748 tiroteios foram mapeados na RMR no ano passado. Houve queda de 4% em comparação com 2023, quando 1.827 tiros foram somados.
Recife concentrou 38% dos tiroteios, 36% dos mortos e 46% dos feridos mapeados em 2024 pelo instituto. Os municípios mais afetados pela violência armada foram:
Recife: 658 tiroteios, 512 mortos e 242 feridos;
Jaboatão dos Guararapes: 288 tiroteios, 248 mortos e 68 feridos;
Olinda: 167 tiroteios, 136 mortos e 42 feridos;
Cabo de Santo Agostinho: 138 tiroteios, 124 mortos e 43 feridos;
Paulista: 92 tiroteios, 72 mortos e 28 feridos.