SOCIEDADE

O perfil surpreendente, a rotina e as queixas dos padres católicos

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Mirella Martins
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Mirella Martins
Publicado em 23/02/2023 às 0:00
tiao Siqueira
Fotos da Igreja de São Pedro (Reabertura) - FOTO: tiao Siqueira

Ao longo de dois anos, entre 2019 e 2021, o padre, pesquisador e sociólogo José Carlos Pereira entrevistou 1.858 colegas de clero para investigar o perfil, a rotina e as queixas daqueles que servem a Igreja Católica em diferentes lugares do Brasil. Os resultados surpreendentes dessa pesquisa inédita estão agora compilados no livro "Operários da Fé", lançamento da Matrix Editora.

A obra apresenta informações essenciais para entender o papel do padre, tido como líder e figura de influência nas comunidades onde atua. Além de revelar as opiniões dos sacerdotes sobre temas polêmicos como celibato e sexualidade, o estudo mostra como o dia a dia exaustivo de atendimentos e a solidão constante desencadeiam e agravam quadros de inquietação emocional.

 

HILTON MARQUES/DIVULGAÇÃO
Giovanni Papaleo, Prefeito Sivaldo Albino e Jackson Rocha Jr no Garanhuns Festival Jazz - HILTON MARQUES/DIVULGAÇÃO

Suicídios em alta

A partir dos dados coletados, José Carlos Pereira chama atenção para o índice elevado de suicídios entre os padres, assunto que costuma ser tratado com muita discrição ou simplesmente ignorado pela igreja. Ainda segundo o autor, o transtorno bipolar, a depressão, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), os distúrbios alimentares, os transtornos de ansiedade, a esquizofrenia, a somatização e a psicopatia estão entre os problemas psiquiátricos mais comuns enfrentados por quem veste a batina.

Samuel Barbosa/DIVULGAÇÃO
Raquel Lyra; o novo presidente da AMEPE, Leonardo Asfora, a primeira vice-presidente, Ana Veras; Priscila Krause, a segunda vice da entidade, Hélia Viegas, e o agora ex-presidente da entidade Ígor Rêgo. - Samuel Barbosa/DIVULGAÇÃO

Sexualidade

A questão da sexualidade também é abordada no livro. Apesar de 94,4% dos entrevistados afirmarem que não tinham dúvidas sobre a própria identidade afetivo-sexual, Pereira avalia que o número pode não refletir a realidade. “Desconfio que mais de 50% do clero seja tendencialmente homossexual, mas trata-se de mera suposição, e não há pesquisa confirmando essa conjectura. Ela está baseada em minha convivência de mais de trinta anos com padres e candidatos ao sacerdócio”, explica. Ele lembra também que entre os que responderam não duvidar de sua identidade afetivo-sexual, pode haver tanto homo quanto heterossexuais.

Ao serem perguntados sobre o grau de satisfação, 86,4%, ou seja, a maioria dos padres se revela conformada com o celibato. O autor destaca, contudo, que ser celibatário não significa ser casto e que as duas definições costumam causar confusão. Enquanto o celibato está relacionado à condição de se manter solteiro, não casar e nem constituir família, a castidade seria a renúncia completa aos prazeres sexuais. Portanto, nem todos que adotam o celibato fazem votos de castidade, caso dos padres seculares, maioria (78%) entre os que responderam à pesquisa.

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Ana Arraes, Zelia Suassuna e Antonio Campos - DIVULGAÇÃO

Política

Para além dos assuntos da carne, o levantamento do sociólogo José Carlos Pereira avalia o envolvimento dos membros do clero com a política no país: 97,1% dos entrevistados disseram que não são filiados a partidos políticos, contra apenas 2,9% que disseram que sim. A maioria não tem interesse em se candidatar a algum cargo eletivo (95,5%), não concorda que padres se candidatem (72,7%) e não apoiam abertamente nenhum candidato durante eleições (80,2%).

 

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