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Uber dispara e fatura R$ 30,6 bilhões, tem lucro e nenhuma boa notícia para motoristas

A receita do Uber subiu 83% no último trimestre de 2021. A melhora aconteceu por causa da recuperação das viagens de carro, mas principalmente pelo aumento da demanda de entrega de alimentos, apesar da reabertura dos restaurantes

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Guilherme Ravache

Publicado em 10/02/2022 às 9:15 | Atualizado em 10/02/2022 às 9:50
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O Uber registrou faturamento de R$ 30,6 bilhões nos últimos três meses de 2021. A receita de carona no trimestre aumentou 55%, indo para R$ 12 bilhões. O valor pode impressionar, mas ainda está bastante abaixo dos R$ 16,1 bilhões que a empresa faturava antes da pandemia.

Enquanto o negócio de carona patina para voltar ao nível pré-pandemia, a entrega de alimentos acelerou. Mesmo com a abertura dos restaurantes, os serviços neste segmento aumentaram 34% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando boa parte dos restaurantes ainda estavam fechados em diversos países.

Na área de entrega de alimentos, as receitas do Uber subiram para R$ 12,7 bilhões, um aumento de 78% em relação ao ano anterior. Vale notar que o Uber já está faturando mais com entregas do que com carona.

O Uber encerrou o trimestre com 118 milhões de clientes ativos, um recorde para a empresa.

Uber segue dando prejuízo

O Uber anunciou ainda que teve um raro lucro no último trimestre de 2021. Mas o número positivo só veio por causa dos investimentos em outras empresas. Apesar do aumento de 83% da receita e do Uber faturar R$ 30,6 bilhões em três meses, a companhia não conseguiu ter lucro com suas próprias operações.

Com seus investimentos na Grab Holdings (uma empresa de entregas da Ásia) e na Aurora Innovation, (empresa de carros autônomos) o Uber lucrou R$ 4,7 bilhões. Descontados os prejuízos na Didi Global, dona da 99 no Brasil, mas sócia do Uber na China, mais o prejuízo das operações do próprio Uber, o lucro da empresa cai para R$ 471 milhões. Ou seja, o Uber teria lucrado dez vezes mais, se estivesse fora do negócio de transportes e apenas atuasse como investidor.

O resultado das outras empresas que o Uber é investidor ajudou a companhia a alcançar o segundo anúncio positivo de sua história. O movimento é uma tentativa do Uber de acalmar os investidores cada vez mais céticos com as chances da empresa dar lucro consistentemente no futuro.

Por que a notícia é ruim para motoristas

Ironicamente, apesar de aumentar 83% seu faturamento, na visão de muitos motoristas, o Uber passou a pagar menos. Os frequentes cancelamentos de corrida dão uma mostra da insatisfação da categoria, que afirma cancelar viagens para evitar prejuízos.

Para os usuários, a sensação é que os preços não param de subir. A notícia pode ser ainda pior se levarmos em conta que a Lyft, concorrente americana do Uber, reportou números de viagens já em linha com o período pré-pandemia, o que leva a crer que a queda das viagens do Uber se deu principalmente em mercados fora dos Estados Unidos, caso do Brasil.

Além disso, se o transporte de passageiros é uma área menos rentável e que cresce mais devagar que as entregas de restaurante, nada indica que os motoristas ou passageiros vão sentir uma melhora em curto prazo. Temos que parar de pensar no Uber como uma empresa de carona, e cada vez mais como uma empresa de entrega.

Como afirma o jornalista Martin Peers, do The Information, “Notavelmente, o Uber agora está ganhando dinheiro com entrega – ou o que conta como “ganhar dinheiro” quando você exclui várias despesas de seus cálculos. Isso parece ser em parte devido à força da publicidade, mostraram os relatórios do Uber. Talvez o Uber devesse mudar seu nome corporativo – para Uber Eats!”

Ou seja, o que dá dinheiro na área de entregas do Uber nem mesmo são as entregas, mas a publicidade que os restaurantes pagam para conseguir aparecer com destaque no aplicativo.

Os cínicos podem dizer que não é de hoje que a mágica do Uber está em sua capacidade de marketing e publicidade, e não na capacidade de resolver qualquer questão de transporte público.

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