Mahmundi (Stereomono/Skol Music), é o álbum de estréia da cantora carioca Marcela Vale, cujo nome artístico batiza o CD (até então ele tinha lançado dois EPs). Mahmundi busca no passado fontes para alimentar a música no presente, e empreende uma incursão por uma seara menos visitada, o rhythm & blues, mesclado ao sinth pop dos anos 80. Boa cantora, Mahmundi é também competente instrumentista, vai do sintetizador às guitarras e percussões, e assina a produção do trabalho.
Ela dá uma atualizada no som que a influencia, geralmente baladas r&r recheadas de letras românticas, lembrando o conterrâneo Ed Motta, no capricho com que embala as canções. Não tem nada sujo aqui, é tudo assepticamente bem feito, nos arranjos elaborados, com precisão e variando de faixa a faixa. Ela se garante na interpretação, sem enfeites, e com personalidade.
Porém, como boa parte dos que fazem a música de sua geração, falta aqui uma grande melodia, enquanto as letras ficam no média pão com manteiga. Aqui e ali uma boa melodia se insinua como
Em Meu Amor (parceria Mahmundi com Roberto Barrucho). Lembrando que o r&b ou o sinth pop dos 80 emplacaram tantos hits pela boas melodias. Mas não é só Mahmundi. Nos últimos vinte anos, a canção se não morreu, não anda bem das pernas. Porém os artistas e consumidores de hoje já aprenderam a conviver com o que até os anos 90 seria considerado deficiência.
Não que as letras precisem obrigatoriamente ter belos achados poéticos. Tim Maia cantava ótimas bobagens, como “Trabalho, trabalho/no fim do mês/não ganho um tostão” (
Um Dia Eu Chego Lá, 1971). No entanto, além de do bom humor, diversificava muito os temas. Aqui, em Mahmundi, a letra é quase sempre o amor, às vezes em versos pueris: “Seus olhos riem pra mim/seus olhos riem pra me mostrar/a sua beleza/e assim em encantar” (de
Leve, outra parceria com Roberto Barrucho). Ironicamente, é na faixa
Quase Sempre que a letra vai além do funcional.
Mahmundi, além de se garantir sozinha, se acompanha nesta viagem com nomes como Carlos Eduardo Miranda (direção musical), Kassin (drum machine, em
Quase Sempre), Silva (teclados, sintetizadores, em
Desaguar), Lucas de Paiva (teclados, sintetizadores, em
Calor do Amor), e Isabel Hammer (vocais adicionais).
No que também lembra Ed Motta, na maioria dos discos dele, a preocupação com o conceito, com a roupagem das canções, acaba deixando-a em segundo plano. Isto não chega a acontecer totalmente com Mahmundi. No entanto, menos o sobrinho, mais o tio, e ela pode ser uma das principais vozes de sua turma, potencial para isto são mais que óbvios neste álbum.
Confiram Mahmundi em
Leve:
https://www.youtube.com/watch?v=kuoc3jKIWlo