Geraldo, Vinicius e Chico Buarque, hoje

Publicado em 14/03/2013 às 13:50
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GeraldoMaiaeVinicius sarmento capa CD pequena Geraldo Maia e o violonista Vinicius Sarmento lançam hoje, à noite,  na Passa Disco (no Sítio da Trindade), o CD Voz e violão. Tive o prazer e a honra de escrever um texto para a dupla. Ai vai o cujo, na íntegra: GERALDO MAIA, VINICIUS SARMENTO - VOZ E VIOLÃO Provoca uma certa estranheza saber que o novo disco de Geraldo Maia visita a obra de Chico, na base da voz e violão. O álbum tem apenas ele e o violonista Vinícius Sarmento, um espantoso talento precoce do instrumento (não por acaso, Rafael Rabello foi seu padrinho de batismo). É certo que Geraldo Maia é de arriscar, de evitar o confortável caminho das pedras. Fez isto em seu trabalho anterior, Ladrão de Purezas, uma incursão na obra de Manezinho Araújo, pernambucano, cuja música o Brasil injustamente, esqueceu. Mas ele não gravou o óbvio de Manezinho Araújo, o embolador, o coquista. Transformou em lado A o que até então era lado B do compositor. Ao encarar reinterpretar o tão vastamente interpretado Chico Buarque, Geraldo Maia não optou pelo óbvio: o lado B de Chico. Isto já se fez bastante. Tampouco apelou para um tema dentro da obra do compositor. Nem por isto deixa de ser conceitual o CD Geraldo Maia & Vinícius Sarmento voz e violão (um título tão simples que o torna inusitado). Em Chico foi perscrutado o drama que é palpável em boa parte de sua obra. Poucos autores da MPB conseguem chegar à beira do precipício, a destilar tanto desespero em letras e melodias sem que se torne popularesco, nem resvale para o dramalhão: “E esse aspecto dramático é por demais flagrante em Chico o que nos ajudou bastante a construir do clima do disco”, explica Geraldo Maia. Gravar um disco com composições de Chico Buarque (algumas com parceiros) não se tratou de mais um caso de tomar o atalho do certo e sabido. Este disco é consequência de alguns shows apresentados por Geraldo e Vinicius, no Recife: “A gente tinha um repertório montado com músicas de Chico. Havíamos feito algumas vezes, inclusive abrindo um show de Gilberto Gil, no Teatro Guararapes. Fizemos um filtro. No início chegou a ser temático, depois decidimos abrir o repertório, deixá-lo bem livre”, continua Geraldo Maia. É como se o próprio repertório se configurasse a si mesmo para o lírico e o dramático. Tem qualquer coisa de ibérico no canto de Geraldo, e no violão de Vinicius. No primeiro facilmente explicável: seus pais são portugueses. Ele mesmo passou dez anos vivendo de música em Portugal. Vinicius Sarmento,embora pernambucaníssimo, filho, sobrinho e afilhado de violonistas de sotaque brasileiríssimo, toca com uma exuberância dramática que se aproxima da passionalidade do flamenco. POR QUE CAETANO?  "A seleção do álbum equilibra-se entre canções manjadas, Vida, Deus lhe pague e Sobre todas as coisas; algumas relativamente bem conhecidas, Rosa dos ventos, Xote da navegação, Mar e lua, e umas menos lembradas, e pouco regravadas, Mambembe, Almanaque, Acalanto para Helena (esta, até então, além do autor, apenas Ney Matogrosso tinha gravado, no disco Um brasileiro, de 1996, só com composições de Chico Buarque). São nove canções de Chico (duas com parceiros) e, de bônus, uma de Caetano Veloso, Os argonautas. Julgamentos precipitados podem levar a se temer uma distorção no conceito do disco. Por que Caetano Veloso? Por que Os argonautas ? Geraldo Maia esclarece: “Os Argonautas exala um certo lirismo lusitano que é de algum modo, próprio ao meu canto, e tem a ver com o violão de Vinicius que também tem sotaque meio ibérico flamenco. Temos ambos um traço dramático, cada qual a seu jeito”. Os argonautas entra como contraponto e complemento à dramaticidade das demais canções. Mais do que isso, o fado de Caetano Veloso (que o lançou no seu Álbum branco de 1969) é prima-irmão de O xote da navegação, que na gravação original de Chico Buarque resvala para o ritmo lusitano. Em seu décimo disco solo (sem contar com o LP Cena de ciúmes, de 1987, dividido com Henrique Macedo), Geraldo Maia ratifica que é uma das grandes vozes masculinas no universo em que cantoras predominam. E ainda: definiu um estilo inconfundível, em que a voz casa-se com elegância com o tino para escolha de o que cantar. Por fim, mas não menos importante, senso apuradíssimo na escolha de músicos que o acompanham. A prova é este incrível jovem violonista, que ainda vai dar, e muito, o que falar. Confiram Geraldo Maia no programa Ensaio da TV Cultura: http://www.youtube.com/watch?v=SwHPymEH7OA&playnext=1&list=PLD1A80D93D9EA6786&feature=results_video

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