Cantoras do Brasil que conhecem pouco a música do Brasil

Publicado em 05/11/2014 às 15:52
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04_11_2014_20_57_39 Cantoras do Brasil (Deck Disc/Canal Brasil) vídeo que reúne uma série de cantoras, umas mais, outras menos conhecidas, atuantes no atual cenário brasileiro (a mais conhecida, porém como atriz, é  Camila Pitanga).  Uma compilação da série homônima que vai ao ar pelo Canal Brasil.  A maioria canta pianinho, e aí nem é influência do estilo que marcou a bossa nova, por influência de João Gilberto. É a tendência atual de interpretação, algumas no estilo que já se rotulou, pejorativamente, de pop fofinho, shoegaze, e afins. O que surpreende no DVD, são depoimentos sobre as músicas  e a cantoras homenageadas. A pernambucana Lulina canta História difícil (Pereira Costa/Victor Santos), que descobriu ouvindo um disco de Ademilde Fonseca, a quem não conhecia. Chega a comentar o pioneirismo de Ademilde em cantar chorinho, até então, explica Lulina, um gênero feito praticamente por homens. Bem em Pernambuco,  nos anos 50,  Dona Ceça foi um chorona famosa, assim como Tia Amélia Brandão. O primeiro 78 rotações de Carmen Miranda, de 1929, tem um choro,  Se o samba é moda (Josué de Barros). Sem esquecer de Isaurinha Garcia, contemporânea de Ademilde, uma paulista bamba, no choro e no samba. Gaby Amarantos descobriu Clementina de Jesus, e admira-sede  que ela gostasse de uma cachacinha, e ser "uma mulher nas rodas de samba".  As mulheres bebem e, desde a época da escravidão, participam de rodas de samba, ou semba. Não apenas as do povo, feito enfatiza Gaby. Maysa, por exemplo, bebia bem. A paraense identifica-se também com Clementina de Jesus por ela "ser muito brasileira" (sic)   Lourdes da Luz confessa que, até gravar este programa, ignorava a obra de Nara Leão, teve que pesquisar para conhecer melhor. Um atestado de inocência sobre a MPB, e logo com Nara Leão, que tinha um conhecimento enciclopédico da música brasileira. Enquanto Andreia Dias, somente por volta dos 20 anos é que desvendou a idade secreta de uma jurada do Programa Silvio Santos: Aracy de Almeida, que soube ter sido também cantora. É como se cantoras da nova  geração do jazz fossem gravar standards do american songbook desconhecendo  Ella Fitzgerald, Dinah Washington, Rosemary Clooney, Sarah Vaughan Estranho é que o conceito do programa seria o de uma convidada interpretando uma música de outra voz feminina do passado, também brasileira, que tenha inspirado sua vida ou carreira. Até mesmo Tulipa Ruiz, que aparenta ser mais descolada, deslumbra-se com a descoberta de Fim de comédia (Ataulfo Alves),  um maiores sucessos da novela mexicana em que se tornou a rumorosa separação litigiosa de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins que, por si, só daria um álbum. Na comparação, quase todas saem perdendo. Gaby Amaranto soa como uma cantora de barzinho, numa versão morna de Na linha do mar (Paulinho da Viola),  Mallu Magalhães não deveria nunca ter gravado  Manhã de carnaval (Antonio Maria/Luis Bonfá) , que entre dezenas de versões, tem um registro marcante com Elizeth Cardoso, a quem homenageia.  Quando Mallu canta os versos  “manhã, tão bonita, manhã”,  tem-se a impressão de que está anunciando um dia chuvoso. A interpetação "não tõ nem ai" dela, não se encaixa neste tipo de música. Elis, Maysa, Nara, Dolores Duran, Elizeth, Dalva de Oliveira,  e até Celly Campello, foram ótimas cantoras (mesmo  Dolores Duran, mais autora que intérprete), algumas excepcionalmente ótimas. Tiê reinterpreta Celly Campelo ciente de que canta musica ingênua. Aí acaba toda a ingenuidade, e a graça,  de uma música  cuja graça estava na ingenuidade e brejeirice da paulistana, criada em Taubaté, Celly Campello. Lurdes da Luz, apesar de desconhecer Nara Leão, tem personalidade, não chega a marcar as duas músicas que canta, mas não se compromete. Nina Becker, mais uma cantora da voz fofinha, fez um bom disco, com canções da obra de Dolores Duran (Minha Dolores, Joia Moderna). Aqui ela  canta Solidão e Manias (Flávio e Celso Cavalcanti), numa intepretação. no mínimo, correta. Mariana Aydar e Tulipa Ruiz saem-se bem, em reinterpretar Clara Nunes e Dalva de Oliveira, respectivamente. Luiza Maita não faz feio em É com esse que eu vou (Pedro Caetano), que recebeu uma interpretação antológica de Elis. Se bem que gravar Elis acaba se tornando tarefa confortável, porque não há como comparar. Por fim, a paulista Bluebell, não afirma, mas deve saber pouco de Sylvia Telles, sua influência.  Ressalta que escolheu Oba-la-la (João Gilberto) por ser uma música pouco conhecida. Certamente, é  menos conhecida do que, digamos,  Garota de Ipanema, mas tem dezenas de regravações, com nomes que vão de Novos Baianos, a Stan Getz, e Cannonball Adderley.  Andreia Dias intepreta muito bem as canções pinçadas do repertório da jurada de Silvio Santos, tem uma ginga deliciosa na voz. Já  a atriz, Camila Pitanga, que interpreta Maysa, além de boa cantora, é que parece conhecer mais a MPB, pelo comentários que tece sobre suas escolhas. Confiram Andreia Dias em Camisa amarela (Ary Barosso): https://www.youtube.com/watch?v=780wJRiewWQ&list=PL-VZyqlUnYOgz8KJ9NTJZ1oMm-P--X6PR

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