Adiel Luna: a música do sertão, sem purismo, nem pretensão

Publicado em 26/05/2015 às 19:41
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Capa de Baionada, ilustração de  Valeria Rey Soto Capa de Baionada, ilustração de Valeria Rey Soto A autêntica poesia sertaneja, com poucas exceções, esteve até agora fora da música pop e do rock pernambucano. Lira recorria a ela, mais na época do Cordel do Fogo Encantado, consequência de sua formação, e convívio com declamadores, cantadores, glosadores. Siba Veloso se vale da métrica da poesia popular da Mata Norte em suas canções, que também destilam influência do repente.  A dupla Vates & Violas explorou a poesia e a música do Sertão. Nascidoa em região rica em poesia e cantadores,  os irmãos Luiz Homero e Miguel Marcondes levaram uma carreira inconstante, e não desenvolveram todo o seu potencial. Este universo, ainda pouco badalado, à margem do mercado, quase sempre confundido com o cordel,  é cantado agora por Adiel Luna. Filho de cantador, crescido em meio a cultura sertaneja, fez um dos mais bem resolvidos álbuns deste gênero híbrido do popular, com influências urbanas, do litoral, que lança domingo, em local que não poderia ser mais apropriado: próximo ao mar, no museu Cais do Sertão, no Marco Zero, Baionada é o título do álbum, produzido por Juliano Holanda e Areia. Basicamente um disco de forró, mas forró como o coletivo que abriga os diversos ritmos criados no Nordeste ou aqui adaptados. Podendo ir do baião de viola (Legado, com participação do pai dele, o repentista Arnaldo Ferreira), o aboio (Pega o boi), o samba de matuto ( Caco de vidro), e até uma morna, um dos ritmos do Cabo Verde, mesclada com uma mazurca de forte sotaque nordestino (Eita saudade). Adiel Luna canta com uma banda formada por  Rubem França (violão de oito cordas), Eduardo Buarque (viola de 10 cordas e violão tenor), Thiago Martins, (rabeca), Uana Mahin (percussão e vocais), Johan Bremer (percussão) e Rodrigo Félix (percussão), que o ajudam a fazer um dos grandes discos da música pernambucana até o momento. Luna segue à risca as métricas, bastante variadas, da cantoria de viola, os ritmos (coco, emboladas, sambas, baiões), mas adiciona a tudo isto o tempero da cultura urbana, e suas variantes, sem forçar barra. As doze faixas do álbum fluem leves e sem acidentes. Composições que, às vezes, lembram o grande Zé Marcolino, pela ausência de pretensão, e alta dosagem de diversão. Baionada é poesia, e música dos sertões devidamente retrabalhadas, para agradar a sertanejos, ou gente de paladar pouco afeito a tais tipos de manifestações. Confiram Adiel Luna em Baionada:

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