Josildo Sá tira do ineditismo samba de latada manifesto de João Silva

Publicado em 16/07/2015 às 15:11
João Silva, autor e voz de Pra Não Morrer de Tristeza
João Silva, autor e a voz de Pra Não Morrer de Tristeza foto: Heudes Régis - FOTO: João Silva, autor e voz de Pra Não Morrer de Tristeza
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João Silva, autor e voz de Pra Não Morrer de Tristeza João Silva, autor e voz de Pra Não Morrer de Tristeza. foto: Heudes Régis Em 1996, Josildo Sá em parceria com o paulista Paulo Moura, um dos instrumentistas mais importantes da história da música brasileira, resgatou uma vertente do samba, o de latada (também chamado de “matuto”), tocado no sertão antes mesmo de Luiz Gonzaga partir de Exu, em 1930, para reformular a MPB. Samba de Latada, o disco da dupla rendeu elogios e prêmios, e um DVD (gravado ao vivo no Teatro de Santa Isabel). Depois de Tem Frevo na Latada (2011)  Josildo Sá prepara-se para gravar, em setembro, o DVD (e CD), Sons de Latada, refirmando-se como o intérprete desta nuance do samba, sem o aparato percussivo da contraparte carioca, e que se apoia sobre o trio sanfona, zabumba, triângulo, mais instrumentos de cordas. Seu trunfo desta vez é a benção do pernambucano, de Arcoverde, João Silva (1935/2013), o autor mais gravado por Luiz Gonzaga, um dos mais fecundos e bem sucedidos da MPB, responsável pela disseminação do samba de latada, há 50 anos, com Pra Não Morrer de Tristeza (sucesso nacional, em 1976, com Ney Matogrosso). Além de avalizar a interpretação de Josildo, o compositor fez para ele Eu Quero Um Samba, espécie de manifesto do samba de latada, que finalmente sairá do ineditismo. “Eu quero um samba/Assim um samba/Sem nada de língua enrolada /Nem agringalhada/Samba fundo de latada/Com linguajar daqui do interior”, A composição foi escrita pouco antes de João Silva morrer, de um infarto, em seu apartamento em Boa Viagem, aos 78 anos. “Mulher, deixaste a moradia/pra viver de boêmia/e viver nos cabarés/e eu, pra não morrer de tristeza/me sento na mesma mesa/mesmo sabendo quem és”, os versos iniciais de Pra não morrer de tristeza (de João Silva com K-Boclinho, pseudônimo de um funcionário da CBS que entrou de carona na parceria) ecoaram Nordeste e Norte afora. num canção que Influenciou nomes importantes do forró, como o paraense Ary Lobo, a entrar no samba. Pra não morrer de tristeza, que será regravada por Josildo Sá no DVD, é a faixa sexta do LP Sai do Sereno (1965, CBS) do sanfoneiro paraibano Abdias (1933/1991), e uma das três cantadas por João Silva, que não recebeu os devidos créditos no disco. João Silva, há meio século, e Josildo, no presente, retomaram uma dos ritmos mestiços do sertão, e provam que o samba não é privilégio de baianos, ou cariocas. Ele existiu em qualquer região do Brasil onde os negros se impuseram com seus batuques africanos. A letra de Eu Quero Um Samba, de João Silva: Eu quero um samba Assim um samba Sem nada de língua enrolada Nem agringalhada Samba fundo de Latada Com linguajar daqui do interior Porque veja bem Na família do samba já tem Samba de roda, tem Samba de Ouro Partido Alto, samba de asfalto Porque não ter? Um Ouro baixos, um triângulo Um zabumba, um pandeiro, Um cavaquim É o meu samba apracatado Samba de Latada Feito aqui mesmo por mim O meu amor me chamou Pre'u sambar na mangueira Que mangueira que nada, meu bem Eu quero mesmo É que você me queira. Confiram Pra Não Morrer de Tristeza, de João Silva, ao vivo, com Josildo Sá e o rapper Zé Brown: https://www.youtube.com/watch?v=b8j3T5C6uWE    

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