Geraldo Vandré, mito e enigma, em nova biografia

Publicado em 19/09/2015 às 23:11
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19_09_2015_21_17_35 “O Terreiro lá de casa/não se varre com vassoura/varre com ponta de sabre/bala de metralhadora”, quando cantou estes versos (de Cantiga Brava, 1967), o paraibano Geraldo Vandré já afrontava um regime que ainda tinha pudores de se assumir ditadura, e para os otimistas continuava a pairar no ar a possibilidade de se voltar ao regime democrático. Quando ele empunhou um violão, no Festival Internacional da Canção, no ano seguinte para cantar Caminhando (Para Não Dizer Que Não Falei de Flores) diante de uma multidão emocionada, o regime tirava a carapuça, e se armou com um instrumento chamado AI-5. Geraldo Vandré logo seria mais um "desaparecido" no governo dos militares. Quem quisesse saber dele que procurasse o cidadão Geraldo Pedrosa de Araújo Dias. É o que tenta fazer o mineiro Jorge Fernando dos Santos na biografia Vandré – O Homem Que Disse Não (Geração), a segunda biografia de Geraldo Vandré no ano em que ele completa 80 anos (aniversariou no dia 12de setembro). A outra, Uma Canção Interrompida, de Vitor Nuzzi, teve edição limitada a cem exemplares, e não está disponível em livrarias. O Homem que Disse Não tenta decifrar o enigma em que Vandré se tornou depois de Caminhando. Embora seja um livro difícil de largar antes de terminar, o resultado não é satisfatório. Não por incompetência do autor, mas da imprevisibilidade e tortuosidade da trajetória do biografado desde que retornou ao Brasil. O livro trata bem da fase logo depois da apresentação de Caminhando, quando ele se tornou um dos principais inimigos da ditadura. Depois de se indispor com os músicos do Trio Marayá, que o acompanharia no festival, ele montou um novo grupo, o Quarteto Livre, formado por Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos, Nelson Ângelo e Franklin da Flauta (o carioca Franklin Correa). Fizeram uma turnê, repleta de incidentes, e suspense, inclusive com bombas no teatro onde o grupo tocaria, e que acaba em Goiás com a decretação do AI-5, quando Vandré caiu na clandestinidade. Um grande tema pra um filme: “Tomamos o caminho do Rio: Vandré com pose de Che Guevara, parecia alucinado e Naná às vezes perdia paciência e dizia: ‘Vou dar uma porradas nesse cara”, trecho de relato de Geraldo Azevedo, parceiro de Geraldo Vandré em Canção da Despedida, feita nesta fase turbulenta. Ano depois Vandré negaria e renegaria a parceria, não se sabe o motivo. Talvez este e outros episódios só serão conhecidos quando Geraldo Pedrosa de Araújo Dias voltar a encarnar o seu alter ego. Confiram Gerado Vandré  o Quarteto Novo e  o Trio Marayá,  em Aroeira, ao vivo, em 1968: https://www.youtube.com/watch?v=EGyb11knYYo  

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