Johnny Mathis cantando a trilha do fim de uma era

Publicado em 08/11/2015 às 21:42
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johnny mathis O texano, crescido em San Francisco, Johnny Mathis provavelmente seria um cantor de jazz, cultuado por poucos, e ignorado pela maioria, se tivesse prosseguido na linha do primeiro LP que gravou, em 1956, Record Album, pela Columbia.  O vice-presidente da gravadora, e também produtor, Mitch Miller, vislumbrou o potencial comercial na voz do jovem, e o direcionou em direção ao pop. Aos 80 anos, Johnny Mathis é o rei do easy listening, música descomplicada, feita para tocar no rádio, ou na festinha. Do tipo que o vizinho não reclama, mesmo se colocada em alto volume. Segundo o Guiness, é o terceiro maior vendedor de discos da história da indústria fonográfica. Número impressionam, mas não conferem qualidade a ninguém. No entanto, mesmo os que o consideram brega, ou popularesco, não questionam os dons vocais de Johnny Mathis. Para celebrar a data redonda e emblemática, a Columbia/Legacy, reúne pela primeira vez os singles (os antigos compactos), lançados por Johnny Mathis numa caixa, com quatro CDs, intitulada tão somente The Singles. O nome, tão “simples assim”, deve-se ao fato de que o conteúdo da caixa refere-se apenas ao que saiu exclusivamente em compacto, ou em faixas de coletâneas. Nada que tenha sido extraídos dos álbuns. O que afasta do projeto o perigo de ser mais uma das dezenas de compilações de grandes sucessos que consta da imensa discografia de Johnny Mathis. São mais de 80 discos, sem contar as coletâneas.  . The Singles Abrange um período que vai de 1956 a 1981,  e contém 87 canções. Destas, 31 continuavam inéditas em CD. Há os clássicos de Mathis, It’s Not for me to Say, Chances Are, My Love For You, mas não é mais um grandes sucessos. Ele entrou em cena quando o mercado da música chegava à idade adulta nos EUA. Foi o primeiro cantor a ter um disco de greatest hits (que figurou durante uma década entre os 40 mais da Billboard, um recorde não igualado até hoje). Foi igualmente pioneiro, no segmento pop, a gravar LP sem enchimentos de lingüiça, pra completar as 12 faixas. Mas foi, sobretudo, um cantor de singles, dos compactos. Em compensação, atribuem-lhe também a diluição da tradição da canção composta por profissionais de imenso talento, Cole Porter, Johnny Mercer, Hoag Carmichael, George Gershwin. Os compositores que escreviam para Johnny Mathis, em boa parte, são de uma geração que atendia aos gostos de um público menos exigente. Mas há entre eles, nomes como Leiber & Stoller, ou Paul Vance, que que fez grandes canções, ao menos para para a época,(nesta caixa ele assina várias faixas, com parceiros). E mais adiante, de meados do anos 60, para inicio dos 70, atualiza os fornecedores, acrescentando autores como Burt Bacarach. Gordon Lightfoot, e Carole King e Gerry Goffin. Naturalmente. no meio desta enxurrada de canções há algumas fracas, admitido pelo próprio Johnny Mathis, em entrevista recente sobre The Singles. Gravações que, confessa, esperava nunca mais ouvir, mas que fazem parte de sua história, feito certos parentes que nos constrangem. Nisso ele se assemelha ao carioca Agostinho dos Santos, os timbres de voz eram parecidos (os dois chegaram a cantar juntos, em 1964, em São Paulo). Assim como Johnny Mathis, ele gravou clássicos, entre eles A Felicidade, de Vinicius e Tom Jobim, mas também Até Logo, Jacaré (versão de See You Later, Alligator, hit de Bill Halley and His Comets, em 1956), baladas insípidas, mambos, boleros. A música nem sempre é um primor, mas o cantor é impecável. Johnny Mathis não é apenas um bom cantor de voz aveludada. Ele estudou piano e canto lírico, na adolescência, consegue segurar notas, ir à alturas, tem dicção e fraseado irretocáveis. Na citada entrevista, revela que segue uma regra básica: ser o mais simples possível, e nunca querer complicar. Isto posto, é reescutar Johnny Mathis, mas em pequenas em porções homeopáticas, aqui e ali, há altas doses de sacarina. O kitsch desponta uma vez outra, e há de se dar um desconto a arranjos datados, demasiadamente carregados nas cordas (mas uma influência que rodou mundo). Uma coleção que traz algumas  boas surpresas, até porque a maioria das canções não frequenta as muitas compilações saídas no Brasil. Ele incursionou também pela MPB. Feito muitos astros gringos, tem sua indefectível interpretação de Brazil (a Aquarela Brasileira, e Ary Barroso). A música que gravou do anos 70 aos 80 é mais uma tentativa de se manter atualizado com o mundo à sua volta (chegou a incursionar pela disco music). Johnny Mathis foi o cantor da maioria silenciosa. A voz do fim de uma era, não apenas da música popular, mas de comportamento,  e mudanças em geral. Alguma coisa estava acontecendo e ninguém ainda se dava conta, muito menos mister Johnny. Confiram Agostinho dos Santos e Johny Mathis em Manhã de Carnaval:(Antônio Maria/Luiz Bonfá) https://www.youtube.com/watch?v=_n3lqwCzvw8

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