Vanusa dá volta por cima com um belo disco

Publicado em 26/11/2015 às 20:38
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26_11_2015_21_11_24 O preconceito que a Jovem Guarda sofria de uma ala da MPB universitária, e da maioria da crítica, fez com que a paulista Vanusa (e quase todos os ex-ídolos da JG) continue sendo subestimada como cantora, e que se preste pouca atenção em sua obra. Mesmo no auge do iê iê iê, ela já marchava à frente, flertando com a psicodelia, ou incursionando pelo soul (mas sem emular soul woman americana), e na década  de 70, gravou alguns LPs importantes (sua discografia teve uma recente, e oportuna, reedição em CD, com selo da Discobertas). Com o disco Vanusa Santos Flores (Saravá Discos), lançado em outubro, produzido por Zeca Baleiro, ela fez um dos melhores álbuns de uma carreira que, em 2016, completa 50 anos. Um disco demorado. Iniciado em 2013, no ano passado ele foi anunciado, e antecipado em um EP, com quatro faixas, mas em seguida se parou de falar nele. Finalmente o CD veio à tona, com bela capa assinada por Elifas Andreatto, e um ótimo repertório, a maioria de regravações, de interpretações e arranjos tão acertados, que soam como se fossem canções inéditas. Um bom exemplo, é O Silêncio dos Inocentes, que o autor, Zé Ramalho lançou em 2002. Traição, é uma balada de clima pesado, um desabafo assinado pela própria Vanusa (tem leve semelhança com My Way, de Paul Anka): “Traição é faca cravada no peito ...como dói crescer/como dói viver/como demora pra ser verdade”. A música tem um dos mais elaborados arranjos do álbum, com sonoridade do rock da Califórnia anos 70. Aos 68 anos, Vanusa está cantando muito bem. Sabe que o tempo causa avarias, e só vai até onde as cordas vocais permitem. A interpretação é certeira, contida e comprometida com a canção. Certamente porque não está apenas dando continuidade à carreira, lançando um trabalho a mais. Este disco é um recomeço, depois da superação de agruras pessoais variadas. Cada música é um desabafo e, ao mesmo tempo, um recado. As canções foram criadas para outros discos, em datas diferentes, no entanto se encaixam perfeitamente umas nas outras. São temas que se entrelaçam, tornando Vanusa Santos Flores um álbum conceitual. Compasso, de Angela Rô Rô e Ricardo Mc Cord (com um tocante solo de guitarra de Tuco Marcondes) “Estou deixando o o ar me respirar/bebendo água pra lubrificar/mirando a mente em algo producente/meu alvo é a paz”, tem a ver com Era Disso Que Eu Tava Falando (Renata Fausti e Mario Marcos). Um disco que passa por longe do óbvio. Haja o Que Houver é a canção mais conhecida, porém em Portugal: um original da banda portuguesa Madredeus (do álbum O Paraíso, 1997). Mistérios (Zé Geraldo e Mário Marcos,  que abre o EP), fecha o álbum, dando o recado final: “Vou cantar no meio povo/vou sair pra vida de novo/fazer tudo que até não pude fazer”. Confiram Vanusa em O Silêncio dos Inocentes: https://www.youtube.com/watch?v=1zcnn6-XRAo  

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